Uma publicação da Revista Fórum, de fevereiro deste ano, revelou que o ministro de Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, em reunião sobre a ofensiva de Israel contra Gaza, insistiu para que o chefe do Estado maior das Forças de Defesa de Israel (IDF), Herzi Halevi liberasse suas tropas para atirar em mulheres e crianças: “Não podemos permitir que mulheres e crianças se aproximem da fronteira... qualquer pessoa que se aproxime deve levar uma bala [na cabeça]”, Itamar Ben-Gvir, conhecido como o "ministro do caos", pertencente ao Partido Sionista Religioso, influente na coalizão de extrema-direita de Benjamin Netanyahu e colono ilegal na Cisjordânia ocupada, justificou seu pedido afirmando que mulheres e crianças seriam suicidas usadas pelo Hamas como escudo.
A opressão contra as mulheres é parte da estrutura do capitalismo, com o machismo e misoginia sendo parte constitutiva da opressão classista do sistema. Em dezembro de 2021, relatores independentes em direitos humanos, nomeados pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU já alertavam para o fato de que os conflitos armados aumentam as vulnerabilidades já existentes das mulheres e crianças.
A ONU Mulheres declarou que a escalada de violência na Cisjordânia afeta diretamente a vida e os meios de subsistência das mulheres. Em matéria publicada no ONU News, em novembro de 2023, a chefe da ONU Mulheres, Sima Bahous, afirma que sete mulheres são mortas a cada duas horas na região da faixa de Gaza. A ONU, que não tem feito nada para acabar com esse genocídio, avalia que mulheres e crianças correspondem a 67% dos cerca de 14 mil mortos desde 7 de outubro de 2023,
Conforme balanço divulgado em 11 de outubro de 2023 pelo Ministério da Saúde Palestina, 60% dos feridos na Faixa de Gaza por ataques de Israel são mulheres e crianças e o portal “Al Jazeera” afirma que dos 1.417 palestinos mortos até aquele momento, ainda no começo da guerra, metade seriam mulheres e crianças.
Quando um conflito armado acontece contra um país e/ou um povo de forma generalizada, grupos marginalizados em circunstâncias “normais” acabam tendo sua vulnerabilidade ainda mais agravada, em particular as mulheres, que acabam sofrendo um ataque impiedoso.
A violência contra mulheres e crianças vem sendo praticada como estratégia deliberada de conflitos ao redor do mundo, ao longo de séculos e até o presente momento, mesmo que atualmente as violências dessa natureza sejam reconhecidas como crimes de genocídio e crimes contra a humanidade.
Não podemos ter dúvidas: esta não é uma guerra comum. É tão simplesmente o capitalismo mostrando todas as suas garras, em mais um episódio de limpeza étnica, a partir de um Estado criado ilegitimamente, que perpetra um genocídio. Dentro deste sistema, que se baseia na opressão do homem pelo homem e que necessita da violência e do abuso das mulheres, a emancipação feminina jamais poderá ser alcançada.
Diante do obscurantismo que cresce com a fascistização da sociedade, não podemos alimentar ilusões no sistema. O capitalismo precisa dede machismo, racismo, violência e miséria para manter a exploração. As mulheres precisam ampliar suas formas de organização, de denúncias e de luta, e ter claro que a questão das mulheres deve andar lado a lado com a luta pela libertação de toda a sociedade.
Foto: SAID KHATIB / AFP