Com 54% dos votos válidos, o candidato de esquerda e panafricanista, Bassirou Diomaye Faye, foi eleito presidente do Senegal nas eleições ocorridas no último dia 24 de março. Após longo período de crises, o oposicionista foi eleito com ampla maioria dos votos e teve o resultado reconhecido tanto pela situação, quanto pelos demais candidatos. Faye e seu principal apoiador, Ousmane Sonko, foram soltos da prisão 10 dias antes da eleição acontecer. É a primeira vez, na história do País, que um candidato de oposição ganha no primeiro turno.
O atual presidente de Senegal é Macky Sall, do partido Aliança Pela República, que está no poder desde 2012, mas a partir de 2021 tem enfrentado uma crise política, justamente por ter prendido Sonko, o principal líder da oposição, e por reprimir violentamente os protestos no País. Sall foi o primeiro presidente do Senegal a não concorrer a uma reeleição e escolheu Amadou Ba, que era primeiro ministro do seu governo, como seu candidato sucesso. Ba conseguiu apenas 35% dos votos, ficando em segundo lugar.
A eleição estava originalmente programada para 25 de fevereiro, mas o Sall adiou indefinidamente o pleito, aprofundando a crise. A consequência foram levantes e protestos violentos. Diante do caos estabelecido, o poder judiciário declarou que a decisão de adiamento era inconstitucional. Além disso, foi garantida a anistia para que Faye pudesse concorrer.
Ao que pese Faye ter sido eleito, o candidato principal da oposição era Sonko, mas este foi impedido de concorrer várias manobras realizadas pelo governo. No ano passado, o partido de Sonko e Faye, Patriotas Africanos do Senegal pelo Trabalho, a Ética e a Fraternidade (Pastef) foi colocado na ilegalidade. Uma prática muito comum e que se repete em todos os países, como no caso do Brasil, em que a direita e extrema-direita orquestraram a prisão do agora presidente Lula para impedir que concorresse as eleições e, com isso, viabilizasse Bolsonaro de chegar ao poder pela via eleitoral.
Faye se apresentou como um candidato de ruptura com o sistema político atual senegalês. Entre suas propostas está a renegociação de contratos de exploração de gás e mineração com empresas estrangeiras. Há a possibilidade de o País, sob o novo governo, também abandonar o Franco CFA, moeda que é um resquício da colonização francesa e uma forma de manter a dominação da antiga metrópole. Desde o ano passado, Burkina Faso, Mali, Níger e outros países da África Ocidental também passaram por mudanças políticas de viés nacionalista, contra a exploração estrangeira promovida pelo uso do Franco CFA.
O resultado da eleição no Senegal é mais uma expressão da tendência de luta e mudanças no continente africano, com um caráter nacionalista e panafricanista, contra a exploração das potências imperialistas, que não cessou com o fim da colonização. Que os Estados africanos tenham liberdade de fato! Pelo fim da ingerência europeia e imperialista em África!
Foto: BBC