Desde a invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, está ocorrendo uma verdadeira batalha judicial nos Estados Unidos, envolvendo o ex-presidente Donald Trump e seu entorno, visando impedi-lo de se candidatar novamente a presidente do país. Nos últimos dias, essa história teve novos capítulos, com o Departamento de Justiça dos EUA pedindo a execução da pena de Steve Bannon, ex-assessor de Trump e com o julgamento de um dos processos contra o ex-mandatário.
Bannon, um influente estrategista da extrema-direita, foi condenado por desacato ao Congresso Americano em julho de 2022, após ignorar duas convocações parlamentares para depor na comissão que investigou o ataque de 6 de janeiro ao Capitólio. O Departamento de Justiça dos EUA argumentou que Bannon deveria cumprir a sentença de prisão, após uma corte federal negar o pedido de suspensão da pena. A decisão unânime da corte de apelação foi considerada uma vitória pela oposição à Trump no Congresso, potencialmente abrindo o caminho para a responsabilização de outras testemunhas e investigados que ignorarem convocações parlamentares.
Paralelamente, Trump está sendo julgado por acusações criminais relacionadas a pagamentos de suborno em dinheiro a uma atriz de cinema adulto antes das eleições de 2016. Este é o primeiro julgamento criminal na história em que um ex-presidente dos EUA é réu. Trump é acusado de falsificar registros comerciais para esconder informações que poderiam ter prejudicado sua campanha, em uma suposta interferência eleitoral. Este é apenas o primeiro dos quatros processos que correm contra ele; os outros dizem respeito à invasão do Capitólio, à tentativa de manipular a eleição e de manter posse de arquivos confidenciais após deixar a Casa Branca.
O que está ocorrendo é claramente uma tentativa de desacreditar e desmantelar o movimento político associado a Trump, representante de uma ala importante da burguesia, que tem assumido cada vez mais uma posição de extrema-direita. Por outro lado, o ex-presidente ganhou as eleições primárias dos Republicanos com 75% dos votos dentro do partido e, diante da impopularidade do presidente Democrata, Joe Biden, tem grandes chances de ganhar o pleito.
No Brasil, a situação não é muito diferente, com o judiciário supostamente contra o bolsonarismo, com a prisão de diversos de seus apoiadores, que aqui também tentaram invadir o Congresso, e o julgamento de vários atos ilícitos praticados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e sua família. E, assim como nos EUA, isso não significou ainda o enfraquecimento político do bolsonarismo.
As disputas judiciais são apenas sintomas das contradições internas da própria burguesia, que se divide entre qual a melhor alternativa para a gestão da crise dos Estados contemporâneos: se seriam governos com aparência democrática, ou abertamente de extrema-direita. Aos militantes de esquerda cabe manter as suspeitas acesas com relação ao poder judiciário, que é uma força controlada pelos interesses da burguesia. Embora a criminalização dos atos antidemocráticos e ilícitos praticados pelo bolsonarismo pareça necessária, é parte de uma encarniçada disputa dentre setores da burguesia, cujos interesses não coincidem com as necessidades da classe trabalhadora.
Foto: Saul Loeb/AFP