No último dia 24 de abril, o presidente da França, Emmanuel Macron, em um discurso feito na Universidade Sorbonne, declarou que a “Europa pode morrer”, se referindo à situação na Ucrânia e às parcas defesas dos países da Zona do Euro. As falas do líder francês demonstram a crise que se abriu depois que a guerra entre a Rússia e uma Ucrânia maquinada pela OTAN estourou em 2022. O presidente francês ainda destacou que a Europa não pode ser submissa aos Estados Unidos.
“Precisamos entender que nossa Europa hoje é mortal, pode morrer. Ela pode morrer e isso depende de nossas escolhas, mas estas escolhas precisam ser feitas agora. É a questão da paz e da guerra em nosso continente e de nossa capacidade de garantir ou não a nossa segurança”, declarou Macron. Diante desta declaração e do interesse de enviar tropas francesas à Ucrânia, fica cada vez mais evidente o desespero do presidente frente a iminente derrota no conflito. Certamente, esse temor é partilhado por outros líderes europeus e dos EUA, que estão apoiando e financiando o exército ucraniano, mas que já veem esta ajuda militar e financeira em muito onerar os próprios cofres, sem nenhum retorno garantido.
Para Macron, o velho continente está ficando para trás em diversas áreas, como tecnologia, militar e comercial. A crise, porém, não vem apenas do conflito armado em si. Ela é intensificada por suas consequências e pelo fato de que os países do BRICS, todos ex-colônias europeias, já terem, em conjunto, uma economia mais pujante que a Europa.
Com a guerra, veio as sanções à Rússia e a destruição dos principais gasodutos que ligavam o País com a União Europeia, que fizeram com que a porção Ocidental do continente, onde se encontra a França, tivesse que mudar o fornecimento para o gás de xisto dos EUA, muito mais caro e insuficiente. Essas duas coisas impactaram fortemente até as economias mais fortes do continente, chegando ao risco de a população passar frio durante o inverno.
Mais recentemente, as mudanças de governo em alguns países da África Ocidental, ex-colônias francesas, resolveram abandonar uma importante ferramenta de dominação de Paris, o Franco CFA. Boa parte dos novos governos contaram com algum apoio russo para chegar ao poder e resistir. No Niger, outra importante mudança foi a revisão dos acordos de venda de Urânio, que era explorado a preços ínfimos por empresas francesas, extremamente importante para a produção de energia no país de Macron.
Por outro lado, as declarações que o presidente francês fez nesse discurso sobre a necessidade do aumento e integração das defesas de toda a União Europeia (EU) demonstram também a tendência de ampliar os gastos militares nos países, o que pode ser o prenúncio de uma guerra maior.
As mudanças recentes no mundo, principalmente nos países oprimidos pelo Imperialismo, mostram que o temor de Macron já está se concretizando. Estamos presenciando um raro momento de mudança de hegemonia no mercado mundial: a Europa está morrendo rapidamente, apoiando uma guerra por procuração dos EUA na Ucrânia e perdendo sua capacidade de controlar os governos vassalos a ela. O que está colocado em discussão é uma redivisão econômica do mundo, ocidental X bloco sul global – de um lado uma ordem que está sendo posta a baixo e outra que está emergindo.
Foto: EPA-EFE/Michael Klimentyev
