Desde 7 de outubro de 2023 temos acompanhado o genocídio em Gaza executado pelo estado colonialista e fascista de Israel. A contagem oficial de palestinos mortos, compilada pelo Ministério da Saúde de Gaza, indica que mais de 40.000 palestinos foram assassinados pelo exército de Israel. Mas a realidade pode ser pior e há estimativas, como a recentemente publicada na revista de medicina inglêsa Lancet, no último dia 5 de julho, que acreditam que a verdadeira contagem está próxima de 200.000 mortos ou mais. A dificuldade de realizar a contagem em uma situação de bombardeios constantes e estado de sítio torna impossível saber a exata quantidade de mortos.
O horror não pára e a entidade sionista, ao tornar-se ainda mais depravada a cada dia que passa, promove divisões internas, sobretudo entre sionistas "liberais", que gostam de uma imagem de Israel como local "civilizado" e moderno, e os ultrarreacionários, que buscam conquistar o resto do Oriente Médio e constituir aquilo que acreditam ser o "Israel histórico", que vai do Nilo, no Egito, até o Iraque e a Arábia Saudita. No dia 30 de julho, pressionado pelo Tribunal Internacional de Justiça, Israel anunciou que iria "investigar" acusações de estupro e tortura realizados por seus soldados em uma de suas prisões. Em resposta, formou-se um motim de soldados ultrarreacionários contra qualquer tentativa de investigação. O resultado foi que o Knesset, o parlamento Israelense, chegou ao absurdo de debater a legitimidade ou não do estupro de prisioneiros como tática de guerra. Vale lembrar que no “civilizado” Estado de Israel, tão defendido pelas democracias ocidentais, o estupro só se tornou ilegal em 1988, sem grandes efeitos práticos: o país é reconhecidamente um refúgio para pedófilos e estupradores estadunidenses.
Pode-se avaliar que a sociedade israelense parece estar ao pé de uma guerra civil, chegando ao ponto de parte dela defender o "direito" de estuprar prisioneiros. Os ataques do exército israelense, atingindo em especial crianças e mulheres, certamente irão inflamar a região ainda mais e acirrar as contradições internas. Enquanto isso, o plano de dominação total segue seu curso e no dia 30 de julho ocorreram mais dois assassinatos de lideranças pró-Palestina. Fouad Shukr, um líder do Hezbollah em Beirute, e Ismail Haniyeh, o líder do Braço Político do Hamas, que estavam negociando com os EUA e Israel uma tentativa de fim do genocídio em troca dos reféns Israelenses sob o controle do braço militar do Hamas, as Brigadas Al-Qassam. Esse duplo assassinato de lideranças que promoviam negociações confirma o que muitos suspeitavam desde o início: Israel não tem a menor intenção de negociar um cessar-fogo.
Uma série de fatores torna essa opção inviável: primeiro, o Estado de Israel, desde a sua criação, usou como estratégia ter um exército poderoso, a fim de evitar ataques de oposicionistas do sionismo. Porém, a operação do 7 de outubro de 2023 executada pelos guerrilheiros palestinos demonstrou a fraqueza fundamental desse “poderoso” exército e seu contínuo fracasso no campo de batalha, apesar do genocídio que está causando nos civis palestinos e do constante envio de armas pelas potências imperialistas ocidentais.
Em segundo lugar, Benjamin Netanyahu está sendo investigado por corrupção e seu governo estava nas cordas antes do ínicio desse novo conflito. Somente o prolongamento da guerra consegue manter o seu cargo como primeiro-ministro e a manutenção da sua imunidade jurídica. Assim, ele busca aumentar a intensidade do conflito, sobretudo com a ajuda dos EUA e de outros países imperialistas europeus como o Reino Unido e a França.
Em terceiro lugar, a sociedade israelense está passando por uma crise derradeira, na qual os ultrarreacionários estão tomando o maquinário do poder para tentar realizar seus projetos messiânicos de dominação do oriente; a guerra é de certa forma também o campo de batalha para que se decidam os rumos do projeto colonial sionista. Os liberais, que não passam da outra face da mesma moeda, com roupagem democrática, não conseguem resolver suas crises econômicas e perdem mais espaço na disputa pelo poder.
Por fim, o pretexto do 7 de outubro é visto por muitos como sendo a oportunidade de "resolver o problema de Gaza" de uma vez por todas, isto é, de exterminar e expulsar a população palestina e colonizar Gaza. Tudo isso é catastrófico para os palestinos; porém, as contradições internas e a resistência palestina revelam que Israel está em uma posição difícil. Seu único grande trunfo são as armas nucleares, que, se forem utilizadas, poderão significar, também, o fim definitivo do Estado de Israel.
O preço pago pelos palestinos é altíssimo e toda luta anticolonial é sempre muito custosa. O momento histórico, na realidade, é talvez o primeiro no qual abre-se uma possibilidade real de vitória. Entre os vários motivos está o fato de os EUA viverem uma crise terrível, com o exército e a marinha sucateados e ocupados com a guerra na Ucrânia, incapazes de efetivamente executarem uma guerra em solo palestino.
É possível estabelecer um paralelo histórico entre o atual momento vivido pelos palestinos com a Revolução Argelina, na qual, do começo ao fim da guerra contra o domínio colonial da França morreram centenas de milhares de argelinos. O preço é terrível, mas a vitória é possível. Por enquanto, o mundo observa o acirramento do conflito e a continuação do genocídio fascista e colonialista realizado pelos israelenses.
Foto: Agência Reuters