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Privatizações de Tarcísio: lucro acima da vida

As experiências com as privatizações comprovam que, visando aumentar seus lucros, as empresas economizam em eficiência, aumentam a exploração dos funcionários e pioram a qualidade dos serviços oferecidos.

Na manhã do último dia 6 de maio, o repositor de supermercado e pai de três filhos, Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno, de 35 anos, morreu após ficar preso no vão entre as portas do vagão e da plataforma na Estação Campo Limpo, do metrô de São Paulo. O acidente ocorreu em horário de pico, e os passageiros ainda tentaram, sem sucesso, alertar a ViaMobilidade, concessionária privada responsável pela Linha 5-Lilás. A tragédia reacendeu críticas à política de privatizações do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos). 

A presidenta do Sindicato dos Metroviários, Camila Lisboa, atribuiu o ocorrido à falta de sensores de segurança e ao modelo privatista. “Desde a concessão à CCR, em 2018, as falhas aumentaram. A tragédia confirma a insegurança da linha”, afirmou. A ausência de mecanismos para detectar passageiros presos no vão evidencia, segundo ela, a priorização do lucro sobre a vida. 

O episódio se insere em um período marcante para as privatizações paulistas. Em 2024, Tarcísio promoveu nove leilões — o maior número em 25 anos. E, apesar de não atingir a meta de 13 vendas, o governo afirmou que as expectativas foram superadas, com destaques como a Sabesp, privatizada por R$ 260 bilhões até 2060. No entanto, especialistas afirmam que a empresa de saneamento foi vendida por um preço 20% abaixo de seu valor de mercado, ou seja, foi um grande negócio para o grupo empresarial que comprou as ações e um prejuízo para os cofres públicos.

O economista da Universidade de Cambridge, Pedro Faria, explica que o pretexto para as privatizações se baseia na ideia de que a regulação alinharia interesses privados e coletivos, argumento que foi contestado pelo especialista. Segundo Faria: “O poder econômico das empresas pode minar a capacidade regulatória do Estado. As agências são ‘capturadas’, e a legislação não é implementada”. O economista completou afirmando que isso leva à deterioração de serviços e aumento de custos para a população. 

A Sabesp ilustra essa tensão. Privatizada em 2024, seu presidente, Carlos Piani, declarou que a empresa “não fará mais política pública”, transferindo ao Estado a responsabilidade por subsídios. O caso expõe riscos em setores essenciais: enquanto operar em grandes cidades é lucrativo, localidades menores dependem do financiamento cruzado, antes viabilizado pela gestão pública. 

Além da Sabesp, leilões como o da Loteria Paulista (R$ 3,4 bi) e da Nova Raposo (R$ 7,9 bi) movimentaram o ano. O programa de PPPs em escolas atraiu R$ 20,1 bilhões, e o Trem Intercidades Campinas, R$ 14,2 bilhões. Tarcísio celebrou os números como “modernização”, mas a tragédia na Linha 5-Lilás questiona o equilíbrio entre eficiência e segurança. 

Na educação, o governo concedeu a construção e manutenção de 33 escolas por 23 anos. A proposta diz que o controle pedagógico do Estado será mantido, mas, inevitavelmente, o modelo implicará na influência indireta das empresas na gestão pedagógica, diminuindo a atuação estatal nesse setor estratégico. 

Enquanto o governo paulista destaca o “alívio nas contas públicas”, a morte de Lourivaldo tornou-se símbolo dos riscos da desregulamentação. Para Lisboa, a concessão do metrô reflete um Estado que “entrega a máquina e fica só com a caneta”, incapaz de fiscalizar. Em 2024, a linha registrou múltiplas falhas, agravadas pela redução de investimentos em segurança pós-privatização. 

As experiências com as privatizações comprovam que, visando aumentar seus lucros, as empresas economizam em eficiência, aumentam a exploração dos funcionários e pioram a qualidade dos serviços oferecidos. A tragédia de Lourivaldo não é um incidente isolado, mas um alerta sobre os limites da transferência de serviços essenciais à iniciativa privada sem garantias sólidas de controle público. 

Em meio a cifras bilionárias e promessas de desenvolvimento, resta a pergunta: até que ponto o lucro privado de um número pequeno de empresários pode coexistir com direitos básicos da grande maioria da população, como segurança no transporte e acesso à água e educação?

É preciso derrotar os planos neoliberais de destruição dos serviços públicos e de entrega daquilo que foi construído com o dinheiro dos trabalhadores nas mãos de empresários milionários, cujo interesse está apenas em aumentar seus lucros.
 

Foto: Reprodução/TV Globo


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