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Crise nos Correios: desmonte da estatal é impulsionado pela ineficiência da gestão e sabotagens

A permanência de gestores ligados aos interesses privatistas facilita as ações, nos bastidores, de sabotagem deliberada da empresa

A situação atual dos Correios é alarmante. A gestão da estatal está marcada por forte influência de setores direitistas, que ainda estão à frente de cargos importantes da empresa. Isso faz com que não se apontem saídas concretas para reverter o quadro de crise. A empresa registrou um prejuízo de R$ 1,7 bilhão apenas no primeiro trimestre de 2025, um aumento de 115% em relação ao mesmo período do ano anterior. Somado ao rombo de R$ 2,6 bilhões em 2024, esse cenário escancara uma crise que está sendo apresentada pela burguesia como justificativa para a venda da empresa. E, ainda pior, as propostas de enfrentamento da crise penalizam os trabalhadores ao invés de enfrentar os verdadeiros problemas estruturais da empresa.

 O discurso da atual gestão transfere a responsabilidade pela crise aos próprios trabalhadores, propondo medidas como Programa de Demissão Voluntária (PDV), ao invés de contratar concursados, e redução de jornada de trabalho com redução salarial, o que vai na contramão do que o movimento sindical defende. É uma postura que ignora a importância dos Correios como serviço essencial e ataca justamente aqueles que sustentam sua operação diária.

A permanência de gestores ligados aos interesses privatistas facilita as ações, nos bastidores, de sabotagem deliberada da empresa. Há setores da burguesia que se beneficiam da fragilização dos Correios, especialmente aqueles que veem na estatal um obstáculo à expansão irrestrita de seus negócios, a partir de uma superexploração da mão-de-obra a partir do extenuante trabalho pejotizado ou terceirizado. A sabotagem — por meio de desinvestimento, abandono tecnológico e enfraquecimento da estrutura operacional — tem sido uma ferramenta silenciosa, porém poderosa, no projeto de destruição da empresa pública, visando sua privatização a preços baixos

O argumento do “novo marco regulatório das compras internacionais” — popularmente conhecido como “taxa das blusinhas” — tem sido usado como justificativa para a queda de receitas, mas isso não responde a todos os problemas de arrecadação dos Correios. A verdade é que a empresa tem sido sistematicamente descapitalizada, inclusive por ações do próprio governo federal, como a retirada de dividendos em valores acima dos limites legais. Trata-se de uma política que mina a capacidade de investimento da empresa e a empurra para o endividamento e o atraso no pagamento a fornecedores.

Além disso, os Correios são instrumento para políticas públicas emergenciais e, sem repasse proporcional de recursos, a crise se agrava. A questão é que a empresa tem a função social de garantir o acesso universal aos serviços postais, com tarifas justas em todos os 5.570 municípios brasileiros, enquanto concorrentes privados operam apenas onde é lucrativo, selecionando público e garantindo, assim, agilidade e tecnologia de ponta.

O que está em curso é uma tentativa clara de desmonte da estatal para privatiza-la, que não se dá apenas pelo discurso de uma suposta ineficiência, mas por práticas concretas como o plano de venda de 66 imóveis — um total estimado em R$ 860 milhões — numa tentativa desesperada de fazer caixa à custa do patrimônio público.

Para reverter esse cenário, é urgente a formulação de um plano sério de recuperação da empresa, não para gerar lucros, mas para garantir o cumprimento eficiente da função social da estatal. Isso passa por investimentos em infraestrutura tecnológica, contratação de pessoal qualificado e mudança na legislação para combater a pejotização e a terceirização, que precarizam o trabalho e enfraquecem a prestação do serviço público. Também é essencial a regulamentação do setor logístico, de modo a garantir que consumidores, população e trabalhadores sejam atendidos com regras claras, justas e equilibradas.

Embora o governo Lula tenha tirado os Correios da lista de privatizações deixada por Bolsonaro, a atual gestão da empresa é controlada por setores políticos neoliberais, que atuam para levar a empresa ao colapso e, assim, justificar sua entrega, de bandeja, ao setor privado, que irá acabar com sua função social.

Ainda há tempo de impedir o desmonte, mas isso exige decisão política, responsabilidade institucional e compromisso com o papel estratégico da empresa para o Brasil. A defesa dos Correios é, acima de tudo, a defesa do serviço público e da soberania nacional.

 

Foto: reprodução web


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