Independente da época, era ou localidade, somos todos seres sociais e necessitamos de nos comunicarmos, seja para assuntos mais triviais ou mais complexos. Antes apenas por via oral, depois por meio de pedras, blocos de argila, papiros e papéis, sinais de telégrafo, rádio, televisão e, por último, a internet. Historicamente, novas ferramentas são inseridas corriqueiramente à medida que avançamos tecnologicamente. Hoje temos o uso de Inteligências Artificiais para a produção de conteúdo, análise de informações e controle de tráfego de informações que passam por redes sociais no geral.
A comunicação é um ponto chave para qualquer sociedade e possui potencial para disseminar um debate ou uma ideologia. Um exemplo marcante do uso do rádio foi na guerra de independência da Argélia, em que o veículo serviu para mobilização da população e propagação de discursos anti-imperialistas contra a França. A internet é uma dessas grandes mudanças na nossa maneira de difundir informações, que ampliou nosso acesso às informações e interações sociais, mas que vem sendo cooptada por grandes corporações (Big Techs). Hoje, seu progresso está monitorado e guiado por entidades de classe, com o objetivo claro de se manter no poder utilizando a tecnologia da Inteligência Artificial.
A Inteligência Artificial (IA) é apenas mais uma ferramenta que pode ser usada para diversos fins, mas como qualquer tecnologia em controle da burguesia, é usada para manter seus interesses, moldando informações e guiando a população via informações falsas ou sugestões de conteúdos a serem consumidos em redes sociais. O primeiro caso de grande repercussão sobre o uso da Internet em benefício das grandes corporações e contra as liberdades individuais foi o da Cambridge Analytics, em 2016, com a denúncia de que o grupo Meta (que hoje controla o Facebook, Whatsap, Instagran e outros) coletou dados de milhões de cidadãos estadunidenses e forneceu propaganda manipulada em favor da eleição de Donald Trump, alterando claramente o ritmo das eleições locais.
Em abril de 2025, quando a ferramenta de IA (Llama) da Meta que é treinada e reproduz os discursos dos seus usuários, estava apresentando muitas respostas consideradas pela burguesia, em controle da ferramenta, como ideias de “esquerda”, houve uma mudança do seu algoritmo para que ela exibisse menos respostas. A própria Empresa justificou em sua página de atualização: “É reconhecido que todos os modelos de LLM (tipo de IA) têm problemas com enviesamentos. Especificamente, historicamente tendem às ideias de esquerda quando os tópicos são debates políticos ou questões sociais e, para mudar esse cenário, o algoritmo foi modificado a fim de mostrar ideias de “ambos os lados” com maior frequência”. Uma grande mentira, pois, na realidade, o que aconteceu foi um completo apagamento das ideias de esquerda em favor das ideias de direita e extrema-direita.
Em cenário nacional, muitos conteúdos de IA foram usados para analisar tráfego, pesquisas de intenções de voto, monitoramento de redes sociais e produção de desinformação em massa. Vídeos manipulados via IA (o que facilita e acelera a produção) de políticos de esquerda como do presidente Lula, são corriqueiramente produzidos e espalhados com falsas correspondências e afirmações, o que leva muito tempo para que o contexto gerado no debate público seja desconstruído. Um exemplo é a absurda notícia sobre supostos “atendimentos a bebês reborn pelo SUS” ou entrevistas de podcasts manipuladas para inferir desinformação ao utilizar uma falsa fidelidade por imagens e vozes manipuladas.
Entretanto, apesar das manipulações, , pois assim como o rádio, essa é uma mudança tecnológica que deveremos enfrentar. A campanha feita por meio de vídeos de IA, que satirizou o comportamento do atual presidente da Câmara dos deputados, Hugo Motta, e dos políticos da direita no Congresso, resultou em um intenso debate público sobre os problemas relacionados ao “centrão” e ao “orçamento secreto” e como é possível utilizar a tecnologia ao nosso favor, de maneira inteligente e plausível.
Devemos tomar muito cuidado nos próximos anos, pois a IA é um avanço tecnológico sem precedentes na História da Humanidade. E, quanto mais a tecnologia avança, mais controle a burguesia possui sobre a mesma e mais avançada ela se torna, quebrando a parede entre a realidade e a virtualidade e facilitando a manipulação do debate público. A classe trabalhadora não pode se esquivar de estudar e criar estratégias para se adequar às novas tecnologias da comunicação, assim como fez em todas as lutas passadas contra as opressões da burguesia.
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