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Soberania digital e geopolítica: a parceria Brasil-China

Brasil e China têm fechado diversas parcerias no campo tecnológico. Exemplo disso foi o anúncio do desenvolvimento de satélites para ampliar o monitoramento climático. Segundo a Agência Gov, com a parceria, o “Brasil entrará em um grupo seleto de menos de 10 países desenvolvedores dessa tecnologia. Com ele, o país alcançará a soberania de dados espaciais nas áreas meteorológica e ambiental, garantindo maior precisão na previsão do tempo e do clima”. Diante da aproximação dos dois países, temos visto a pavorosa da direita brasileira, criticando os acordos como possível geração de uma “dependência” tecnológica do Brasil em relação à China. O que poderia até parecer uma preocupação legítima com a soberania nacional, na verdade, não passa de uma campanha política para alimentar a sinofobia, em favor do imperialismo ocidental.

O primeiro grande indício de que se trata de uma campanha com objetivos políticos vem do fato de que a crítica, em geral, é feita pela extrema-direita brasileira, completamente subserviente aos Estados Unidos. Prova disso é que no último 7 de setembro os falsos “patriotas” exibiram uma bandeira gigantesca dos EUA na manifestação realizada na Av. Paulista, em São Paulo, escancarando a servidão aos seus mestres “yanques”. Inúmeras foram as vezes que seus representantes bateram continência para os símbolos patrióticos do “Tio Sam”.  Eles não querem o melhor para o povo brasileiro e  estão sempre em busca de trair seu povo em troca das “moedas de César”: os dólares. Esses mesmos amantes dos EUA e “temerosos” da China ignoram o histórico de subordinação do Brasil ao país norte americano, que, durante quase um século, não quis transferir tecnologia estratégica (como a nuclear) e cujo maior resultado político para o Brasil foi o apoio à desastrosa Ditadura Militar de 1964 e a outros atentados à democracia, como a recente derrubada do governo eleito de Dilma Roussef, em 2016.

Na verdade, o problema nunca esteve nas parcerias do Brasil, seja com A ou B, mas no comportamento sabujo das lideranças locais, que lucram com o atraso do País. Um bom exemplo disso é o do embaixador brasileiro em Washington, Juracy Magalhães, nomeado para o posto pelo general Humberto de Alencar Castelo Branco, o primeiro presidente da ditadura militar de 1964. Magalhães dizia: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.

Com o Brasil sentado à mesa de negociações como igual e buscando seus interesses, a coisa muda, e certamente haverá ganhos. Até o momento, a parceria Brasil-China se apresenta estrategicamente focada na capacitação mútua. Iniciativas concretas como o Programa CBERS (China-Brazil Earth Resources Satellite, Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), com seus seis satélites em órbita, garantem ao Brasil uma poderosa ferramenta para monitorar seu imenso território com satélites próprios de sensoriamento remoto, buscando consolidar uma importante autonomia neste segmento. O programa foi feito em um sistema de responsabilidades divididas (30% brasileiro e 70% chinês). Mais recentemente, outras parcerias como o Memorando de Entendimento para o Centro de Transferência de Tecnologia China-Brasil e os projetos em Inteligência Artificial (IA) e computação quântica demonstram um compromisso com o desenvolvimento e a diversificação da pauta produtiva com ganhos para ambas as nações.

A aposta no avanço tecnológico, especialmente na área de TI, é o motor para a autonomia. O aprofundamento da cooperação em IA, que o Brasil já é um dos maiores usuários do mundo, não apenas fortalece o setor de software nacional, mas também impulsiona a exportação de serviços de alto valor agregado. Essa diversificação da pauta exportadora é um dos caminhos que podem levar à melhoria da condição de vida e das oportunidades dos trabalhadores. A parceria Sul-Sul (entre os países do Sul Global) pode ser a via real para o Brasil superar a dependência da exportação de commodities e construir o seu “território digital soberano”.

A luta em defesa da soberania nacional, hoje, se estende ao campo da economia digital. Não somos apenas consumidores de dados, somos reféns da geopolítica das Big Techs estadunidenses, que desrespeitam nossa jurisdição no que deveria ser nosso “território digital” soberano. Um exemplo óbvio é a atuação da Meta, empresa que controla Whatsapp, Facebook e Instagram, como um árbitro político que interfere diretamente na política interna do País, controlando algoritmos e silenciando vozes que atrapalham os planos da direita e da extrema-direita.

A luta contra o monopólio das Big Techs estadunidense e a consolidação das parcerias Brasil-China são, portanto, faces da mesma batalha pela autonomia e pelo desenvolvimento nacional.

Foto: 
CBERS


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