
A proposta contida na Nota Técnica interna dos Correios, que visa modernizar as jornadas de trabalho, de adoção da escala 12x36 para a área de Distribuição, especialmente para os carteiros motorizados aponta para graves riscos que demandam a mobilização imediata dos trabalhadores. A jornada, que consiste em 12 horas de trabalho seguidas por 36 horas de descanso, é justificada pela empresa como uma forma de se equiparar à concorrência, permitindo entregas nos 7 dias da semana, incluindo horários noturnos, sábados, domingos e feriados.
No entanto, a realidade de 12 horas de trabalho ininterruptas (com apenas 1 hora de intervalo) em uma função que exige alta concentração e esforço físico, mesmo motorizada, é extremamente preocupante, embora o modelo já seja previsto na CLT e a empresa o apresente como uma forma de o trabalhador ter "um tempo maior de descanso".
O risco mais alarmante reconhecido no documento é o potencial dano aos aspectos de saúde mental. A carga de trabalho "muito pesada" por 12 horas consecutivas pode levar a quadros de esgotamento mental, como a síndrome de Burnout.
Embora a proposta preveja que a motorização poupará os carteiros de carregar peso por longos períodos, rotinas desgastantes e condições de trabalho pouco favoráveis continuam a ser catalisadores para problemas laborais, como a Lesão por Esforço Repetitivo (LER). Uma jornada de 11 horas efetivas de trabalho (12h menos 1h de intervalo) concentra o desgaste de forma perigosa.
Foco em Custos, Não em Pessoas e a urgência da mobilização
A Nota destaca, como principal vantagem para a empresa, a redução de custos. A escala 12x36 prevê trabalho em fins de semana e feriados, o que resulta na redução de despesas com adicional de fim de semana, hora extra e adicional noturno. Isso sugere que a saúde financeira da empresa está sendo priorizada em detrimento da saúde física e mental do trabalhador.
A proposta 12x36, apesar de ter amparo legal, é uma ofensiva direta à qualidade de vida dos carteiros. O argumento de "tempo maior de descanso" pode não compensar o desgaste de uma jornada de trabalho concentrada e exaustiva. É crucial que a categoria da Distribuição e suas representações sindicais se mobilizem de forma veemente para oferecer resistências, principalmente no acordo coletivo de trabalho de 2026, ainda em discussão.
É preciso exigir estudos de impacto na saúde, pois a prevenção contra o Burnout e as LER/DORT, citadas no próprio documento, deve ser feita antes, e não depois da implementação, exigindo estudos aprofundados sobre a adaptação dos trabalhadores à nova rotina e garantias de preservação da saúde.
A redução de custos com adicionais e horas extras para a empresa significa a precarização do trabalho noturno e em feriados para o carteiro. A mobilização é o único caminho para defender os direitos e a remuneração justa por jornadas especiais.
A resistência é o meio de evitar que o projeto avance sem o devido acordo da base, garantindo que a jornada não seja imposta e que a saúde dos trabalhadores não seja sacrificada em nome da competitividade e da redução de despesas.
A luta pela saúde, pela dignidade no ambiente de trabalho e contra a exaustão está em jogo. A mobilização dos carteiros é a garantia de que as mudanças nos Correios não se traduzam em mais doenças e menos qualidade de vida.
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