
A proposta de privatização da Companhia de Saneamento de Minas gerais, Copasa, foi aprovada em primeiro turno na última terça-feira (02), com 50 votos favoráveis e 17 contrários. Nesta sexta-feira (05), às 10h45 deverá ocorrer a reunião da Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO) da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) que irá discutir o parecer do relator, deputado Zé Guilherme (PP), favorável ao projeto de lei do governo Romeu Zema (Novo). Se for aprovado pela comissão, o projeto ficará pronto para votação em segundo turno. A aprovação da privatização da Copasa em 1º turno acendeu um alerta em todo o estado. Não é apenas mais uma votação — é a abertura oficial de uma porteira que pode comprometer, por décadas, o acesso à água tratada, ao saneamento e ao direito básico à vida digna para milhões de mineiros.
A pressa com que o governo Romeu Zema conduz esse processo não deixa dúvidas: trata-se de uma jogada política, ideológica e eleitoral, alinhada a interesses privados que enxergam no saneamento uma mina de ouro, e não um serviço público essencial. O governo corre contra o tempo, mirando 2026, enquanto a população corre o risco de pagar a conta — literalmente.
Um avanço legislativo sob protestos e desconfiança
A proposta de privatização passou em 1º turno com resistência popular, denúncias de irregularidades no processo e uma base governista que votou em bloco, mas evitou debates e explicações. O atropelo no rito legislativo, a falta de estudos técnicos e o famigerado episódio do “Projeto Bolt” — que revelou monitoramento de parlamentares e simulações de aumento tarifário — compõem o pano de fundo obscuro dessa votação. Agora, o governo precisa aprovar o projeto em 2º turno, etapa decisiva. A tendência é clara: apesar da unidade do bloco de oposição, a pressão do mercado e dos grupos empresariais é pesada e conta com a maioria do parlamento, composta pela base governista. Apenas mobilização popular massiva poderá inviabilizar o plano. Movimentos sociais, sindicatos e entidades acadêmicas precisam intensificar a luta, denunciar irregularidades e judicializar cada brecha.
O que acontece se a Copasa for privatizada?
Se concretizada, a privatização entrega ao mercado uma das coisas que o Estado tem de mais estratégico: a água. E a experiência internacional — vasta, documentada, repetitiva — já mostrou exatamente o que acontece quando governos decidem transformar saneamento em negócio.
Tarifas sobem muito acima da inflação
Água privatizada vira “produto de luxo”. O que era tarifa social vira “tarifa inviável”. O próprio estudo revelado na ALMG prevê aumento de até 12% no curto prazo, apenas como “cenário inicial”.
Periferias e zonas rurais sofrem abandono
Empresas privadas só investem onde há lucro garantido. Onde não há, a precarização avança.
Qualidade do serviço despenca
A busca pelo lucro reduz manutenção, adia obras e precariza equipes. É simples: quando o objetivo é o balanço financeiro, e não o bem-estar, o serviço degrada.
Municípios perdem autonomia
Prefeituras passam a lidar com contratos rígidos, multas abusivas e pouca transparência. A água deixa de ser política pública e vira cláusula contratual.
O mundo tentou privatizar — e se arrependeu
A propaganda privatista gosta de vender a ideia de que o setor privado é mais eficiente. Mas a história, inclusive a recente, desmente essa narrativa. Veja alguns exemplos:
Paris, França
Privatizou o serviço por 25 anos. Resultado? Tarifas abusivas, perda de controle público e evasão de informações. Em 2010, a cidade reestatizou a água — e conseguiu reduzir tarifas e aumentar investimentos.
Berlim, Alemanha
Privatização parcial levou a aumentos de tarifas acima de 30%, queda de qualidade e escândalos de corrupção. Após forte pressão popular, o governo recomprou as ações e devolveu o controle à cidade.
Buenos Aires, Argentina
Privatizada nos anos 90, a empresa deixou bairros inteiros sem investimento. A reestatização veio depois de denúncias de má gestão e descumprimento de metas.
Inglaterra
Talvez o caso mais simbólico: empresas privadas lucraram bilhões enquanto despejavam esgoto em rios, aumentavam tarifas e endividavam o setor. Hoje o País vive uma crise sanitária generalizada e discute a necessidade de reestatizar as companhias de água. Em todas essas histórias, o padrão é o mesmo: quando o lucro manda, o povo perde.
O que está por trás da corrida de Zema?
Não é apenas sobre a Copasa. É sobre 2026. A privatização da água se tornou um gesto para agradar o mercado financeiro, consolidar apoios empresariais e pavimentar a campanha presidencial de Romeu Zema. A água dos mineiros virou moeda eleitoral nacional. Essa é a pressa que atropela audiências, ignora estudos, silencia vozes e tenta transformar um bem público em ativo negociável. A lógica é simples: garantir apoio hoje em troca da entrega do patrimônio amanhã.
O que o povo de Minas tem a perder com a privatização da Copasa:
- pagará mais pela água e os serviços de saneamento;
- verá municípios pobres abandonados e o aumento das desigualdades regionais;
- perderá soberania sobre recursos hídricos;
- trocará planejamento público por lucro privado;
- dependerá de empresas que não têm compromisso social.
E quando tudo der errado — como já deu em dezenas de países — reverter o estrago custará muito mais caro do que manter o serviço público funcionando hoje.
O avanço da privatização em 1º turno é um chamado urgente: ou Minas se mobiliza agora, ou verá sua água — seu bem mais precioso — virar produto especulativo.
Não estamos diante de um projeto de eficiência. Estamos diante de um projeto de poder.
Água não é mercadoria. Água é vida.
A luta continua. A defesa da água pública também.
Foto: Foto: Guilherme Bergamini