
A greve dos Correios de 2025, marcada pela insatisfação diante da retirada de direitos e das demissões em massa, pode se tornar um divisor de águas no cenário eleitoral do ano que entra. Parte da população brasileira, que ajudou a eleger Lula em 2022, tem solidariedade às lutas trabalhistas, e qualquer ação percebida como ataque aos trabalhadores tende a gerar forte reação também nas urnas.
Eleito por meio de uma Frente Ampla, que limita seu poder de enfrentar as medidas neoliberais impostas por seus “aliados” políticos, o presidente Lula poderá ser diretamente associado com medidas antitrabalhistas, o que abrirá espaço para uma perda significativa de apoio popular. Estimativas apontam que até 400 mil votos diretos dos trabalhadores dos Correios e seus familiares podem ser comprometidos com a perda de direitos. Esse número aumenta se forem consideradas as famílias que dependem dos serviços postais em cidades pequenas e entre eleitores que valorizam a defesa das estatais e dos direitos sociais, que representam a maioria dos eleitores do PT.
O não atendimento às justas reivindicações dos trabalhadores do Correios causará desgaste político de quem se elegeu com apoio de sindicatos, movimentos sociais e até de setores da classe média que enxergam na precarização dos Correios um sinal de ameaça mais ampla ao equilíbrio das relações de trabalho. Ecoará, também, entre lideranças das representações dos trabalhadores que tentam “blindar” o governo, às custas de abrir mão dos direitos da categoria.
Assim, a greve não é apenas um embate corporativo ou simplesmente uma questão de resolver os prejuízos causados pelas más gestões da Empresa: ela se transforma em símbolo de resistência contra políticas neoliberais, vistas como injustas pelos trabalhadores. Se o presidente Lula não conseguir reverter essa percepção, o risco de perder centenas de milhares de votos se torna real, podendo alterar o rumo da disputa eleitoral em 2026.
Foto: LPS