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Terceiro mundo: o primeiro a pagar a crise

O terceiro mundo foi uma nomenclatura inicialmente utilizada para fazer menção aos países que se posicionaram como neutros na Guerra Fria, não se aliando nem aos Estados Unidos e aos países que defendiam o capitalismo, nem à União Soviética e aos países que defendiam o socialismo. Porém, o conceito mais amplo e de maior utilização do termo serve para definir os países em desenvolvimento e subdesenvolvidos, ou seja, os que possuem uma economia ou uma sociedade pouco ou insuficientemente avançada.

Fazem parte desse “seleto” grupo os países da América Latina, da África e da parte mais pobre da Ásia. São os países que, em algum momento de sua história, foram colonizados pela Europa ou pelos Estados Unidos (EUA), seja no início da era moderna (1492), com as grandes navegações, como o caso da América Latina, ou no momento de expansão imperialista, no século XIX, como a Ásia ou a África. Os Estados Unidos, embora tenha sido colonizado pela Inglaterra no começo de sua história, por uma forma de colonização diferente, ter passado pela revolução industrial ainda no século XIX e ter possuído uma posição privilegiada na Primeira e na Segunda Guerra Mundial, é o raro caso de ex-colônia que se tornou a maior potência capitalista.


Exploração durante toda a história
O primeiro passo para a exploração dessas regiões do globo foi o colonialismo. No caso da América Latina, se deu a partir 1494. Os indígenas que moravam no continente sofreram genocídio, o que facilitou a sua ocupação por parte das metrópoles, como Inglaterra, Portugal e Espanha. A mão de obra utilizada era a escrava, empregada nas lavouras e minas. A América viveu nessa situação de exploração por mais de três séculos. Essa exploração favoreceu a Revolução Industrial, que consolidou a existência do capitalismo enquanto sistema político-econômico.

As Américas conseguiram sua independência nominal durante o início do século XIX. Nesse período de colonização americana, a Ásia e a África eram exploradas de outras formas. A Europa, à princípio, não possuiu força para fazer colonização com ocupação política de territórios, com algumas exceções. Esse tipo de colonização ocorreu apenas no fim do século XIX, com o começo do imperialismo.

Conforme escreveu Lenin, o imperialismo é a fase superior do capitalismo, com cinco traços fundamentais: a concentração da produção e do capital levada a um grau tão elevado de desenvolvimento que criou os monopólios; a fusão do capital bancário com o capital industrial e a criação da oligarquia financeira; a exportação de capitais, diferentemente da exportação de mercadorias, adquire uma importância particularmente grande; a formação de associações internacionais monopolistas de capitalistas; e o termo da partilha territorial do mundo entre as potências capitalistas mais importantes.

Assim, o imperialismo pode ser definido como etapa de desenvolvimento do capitalismo em que houve fusão do capital industrial com o capital financeiro e que gerou um gigantesco aumento da produção, tanto industrial quanto de capital especulativo. Condicionado por esse fator econômico, houve a expansão política dos países capitalistas em busca de regiões passíveis de exploração, de onde se poderia extrair matérias primas e aproveitamento de um novo mercado consumidor. Como a América tinha se tornado, ao menos politicamente, independente em relação à Europa durante o início do século XIX, África e Ásia foram os locais de expansão política e territorial imperialista. Daí incidiu a exploração direta, com práticas de retirada de matéria-prima para sustentar o desenvolvimento capitalista da Europa, imposição de trabalho forçado e exploração da mão de obra, política de terror aberto contra qualquer tentativa de luta anticolonial.

Após a Segunda Guerra Mundial, porém, os Estados Unidos iniciaram um processo com um cunho “moral” da necessidade da independência das colônias europeias. Alguns países, como a Inglaterra e a França que logo perceberam a jogada, começaram a “dar” a independência às suas colônias. Em outros locais, estouraram guerras de independência.

Obviamente, os Estados Unidos não fizeram isso por nada “moral”. Era, na verdade, o início do neocolonialismo para África e Ásia, o que os yankes já praticavam abertamente na América Latina. Descolonização, na verdade, nunca ocorreu.

A mola mestra do colonialismo, no entanto, continuou funcionando. As nações novas são ainda fornecedoras de matérias primas, enquanto que velhas de produtos manufaturados. A alteração das relações econômicas entre novas nações soberanas e seus antigos senhores é apenas de forma.  O colonialismo encontrou um novo disfarce, o neocolonialismo, onde a divisão internacional do trabalho continua sendo desfavorável à África, a Ásia e a América, sua mão de obra continua sendo explorada pelos grandes monopólios internacionais e as riquezas naturais desses países continuam servindo para enriquecer os grandes capitalistas.


Unidade contra os ataques
O Brasil é um excelente exemplo de país que passou por espoliação estrangeira durante toda sua história, primeiro como colônia de Portugal (1500-1822). Nesse período, com quatro grandes ciclos econômicos (exploração de pau-brasil, cana de açúcar, ouro e café), sempre como exportador de matéria prima, financiou a manutenção da monarquia portuguesa e, indiretamente, da Inglaterra, que explorava Portugal economicamente.

Com a independência, em 1822, iniciou-se o período imperial (1822-1889). Nesse período, ainda era um produto primário, o café, a principal exportação brasileira. Mesmo com a Proclamação da República, em 1889, a situação brasileira não mudou. Apenas em 1930, na ditadura de Getúlio Vargas, se iniciou um tímido processo de industrialização e nacionalização de algumas matérias primas, como o caso da Petrobras.

Com o advento do neoliberalismo, na segunda metade do século XX, mesmo essas tímidas tentativas de melhorar a condição brasileira caíram por terra: privatização da mineradora Vale do Rio Doce, de outros setores estratégicos e, agora, com o governo golpista de Michel Temer, da Petrobras. Que independência é essa que vivemos? O Brasil, assim como os outros países do terceiro mundo, sempre continuou como financiador do desenvolvimento das grandes metrópoles. Assim, viveu o colonialismo, o imperialismo e o neocolonialismo.

Justamente por serem habitantes de países explorados, que vivem em um patamar inferior no mercado internacional,  a classe trabalhadora terceiro-mundista tem que lutar pela mudança do sistema político em que vive. A partir de uma revolução socialista no terceiro mundo, os grandes capitalistas terão que enfrentar a classe trabalhadora de seus próprios países. A partir daí, uma revolução socialista mundial se torna ainda mais exequível e incontornável.

Nesse sentido, as classes trabalhadoras nacionais, sobretudo as do terceiro mundo, têm que lutar contra as burguesias nacionais e contra as burocracias sindicais e dos partidos pequeno burgueses. A ação direta, sobretudo nas ruas, ditará o confronto contra a exploração capitalista mundial e o socialismo.


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