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Racismo e universidade: o ingresso do negro na torre de marfim

O sistema público de ensino brasileiro se encontra totalmente podre. As escolas públicas que dependem do dinheiro dos estados e do Governo Federal sofrem com os desvios de verbas e com o sucateamento sistemático dos serviços destinados à população. A intenção é sucatear a educação a tal ponto que se justifique para a opinião pública a “grande necessidade” da privatização. Não muito diferente do que sempre ocorre: sucatear para privatizar.

As escolas de periferia, onde a maioria dos alunos é negra, sofre com problemas de ordem básica, devido à falta de investimento governamental. Os problemas vão desde a falta de merenda, água e luz, até a falta de professores. Isso, em conjunto com um sistema de ensino que visa apenas formar pessoas para ocuparem os piores postos de trabalho, acarreta o fato de formar alunos que ao invés de lutarem e questionarem a situação na qual se encontram, se adequam ao sistema.

Aqueles que resolvem buscar no estudo uma melhor forma de vida, têm que buscar métodos além dos oferecidos pelo governo golpista, que a todo o momento usurpa o pouco que foi dado à população através de acordos com grandes potências e conchavos políticos. A política de cotas para negros e alunos das escolas públicas é um método que os grandes empresários e políticos acharam para acalmar os ânimos da população negra e pobre. Mas nem de longe ela resolve o problema da desigualdade.

Apesar de ser a maioria do país, com mais de 55% da população se declarando negra ou parda, ambas somam bem menos de 40% dos ingressos no ensino superior. A questão é muito maior que a própria universidade. O preconceito racial está incrustado na sociedade brasileira, por mais velado que esteja. Apesar da gradual entrada do negro na educação, o caminho para a superação do racismo ainda é longo. Negros que conseguem entrar na dita “Torre de marfim do conhecimento” ainda são vistos como inferiores, subalternos aos brancos que ingressaram da mesma forma e, em muitos casos, não representam 10% do total de alunos de uma sala na faculdade.


Atraso planejado da política de cotas


As cotas foram uma forma importante de afirmar a identidade do povo negro, que queria estudar e ter condições“melhor de vida”. Antes das cotas, o número de negros e pardos em idade universitária que se encontravam numa universidade era de 5,5%, enquanto o número de brancos na mesma idade somava 17,6%. Após as políticas afirmativas, o número cresceu. Em 2015, negros e pardos somavam incríveis 12,8%, brancos ainda eram a maioria, com 26,5%.

A precarização da educação básica nas periferias faz com que negros em idade acadêmica estejam atrasados. De acordo com estudos do IBGE, 53,2% deles ainda estão no ensino fundamental e médio. Infelizmente, aquela pequena parcela que conseguiu adentrar a essa porta, encontrou um velho inimigo, conhecido de todos: o racismo. Com suas garras vis e suas máscaras, o racismo velado e intrínseco à nossa sociedade também se encontra em um ambiente onde o que deveria prevalecer é o conhecimento e a razão. Professores agem como se alunos cotistas não tivessem o mesmo potencial daqueles que não se utilizaram desse método para entrar na universidade.

Alunos não cotistas desmerecem os colegas cotistas por se acharem melhores que eles, e, afirmarem que sem as cotas eles jamais pisariam numa boa faculdade. Enquanto essa briga divide as massas, os grandes empresários e lobistas ganham em cima da venda do conhecimento, recebendo o dinheiro do governo e aumentando a dívida estudantil brasileira. A posição dos não cotistas não tem nenhuma base empírica, sendo fruto puro e simples do racismo estrutural da sociedade dentro do capitalismo. Em pesquisa realizada em 2015, pala Universidade Federal de Minas Gerais, o desempenho dos cotistas era igual ou superior dos demais alunos. Ou seja, a argumentação de inferioridade é racismo puro e simples.

Porém, mesmo com esses bons resultados, é necessário afirmar que as cotas não passam de um remédio paliativo, tratam um sintoma sem se preocupar com o conjunto. Elas garantem apenas que uma ínfima parcela de negros entrem na faculdade. E é apenas isso. Ter cota não significa automaticamente garantir a permanência da população carente na universidade, sendo um exemplo da falácia do processo meritocrático. Para que haja essa garantia, são necessárias bolsas de estudos que assegurem que os alunos tenham acesso ao básico, como alimentação, transporte e moradia. Sem isso, o processo de exclusão social é ainda mais palpável e notório. Além disso, todo jovem tem o direito constitucional de ter formação educacional. Entretanto, a Constituição Federal não passa de “letra morta”. Não fosse assim, teria que ser abolido o vestibular, a grande prova do preconceito racial e a discriminação da juventude negra e pobre.


Não há capitalismo sem racismo


O Racismo é um inimigo das amplas camadas da população. Numa sociedade capitalista, sempre teremos relações de inferioridade para valorizar a subserviência de uns para outros. No Brasil e no mundo, o racismo tem base histórica com o começo da escravidão, onde a condição humana era negada ao povo negro. As chagas dessa mazela têm os seus efeitos até hoje, com o povo negro sendo sempre associado à pobreza, às favelas e à falta de condições básicas para a existência. Isso porque o racismo faz parte da máquina capitalista para justificar a mais-valia e não se incomoda com o estigma que causa em quem sofre com ele.

Parafraseando Malcom X, agente do movimento negro, “não existe capitalismo sem racismo”. Para os capitalistas, os negros na universidade significa, na prática, a retirada de uma mão de obra não qualificada e barata. Dessa forma, a implantação das cotas nada foi além de uma grande vitória do movimento negro, embora, como dito, uma vitória parcial, que não ataca a doença, e sim os sintomas.

Numa sociedade igualitária, o racismo e qualquer outro preconceito não devem existir. Como a exploração do homem pelo homem é a base do sistema, nunca haverá igualdade dentro do sistema capitalista. Quanto mais subempregos, quanto mais barata a mão de obra, quanto mais direitos forem retirados da classe trabalhadora, maior o lucro dos capitalistas. Como na sociedade capitalista os dados mostram que os mais marginalizados pelo sistema são os negros, suas pautas de inclusão sociais não são realizáveis dentro sistema. A verdadeira libertação da opressão racial passa pelo fim do capitalismo e construção de um novo modelo de sociedade, igualitário, o socialismo.


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