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Perseguição à cultura negra

Desde o período escravocrata, o negro sofreu com as discriminações perante a sociedade. Os escravos não eram considerados gente, serviam apenas para trabalhos pesados e eram tratados com condições subhumanas, além de várias violências às quais eram submetidos.

O negro veio para o Brasil apenas para ser escravizado e, com isso, trouxe junto seus hábitos e costumes. Como se não bastasse toda a discriminação e violência sofrida, foi  obrigado também a abrir mão de sua cultura,  sendo forçado a aprender e praticar a cultura do branco.

Mesmo assim, o negro não deixou suas raízes e praticava sua cultura de forma clandestina, com o risco de ser descoberto e sofrer severas punições.

Na verdade, os negros em muito contribuiram para a cultura brasileira geral. A diversidade cultural da África advem de vários escravos que vinham de diversas etnias, que tinham tradições distintas e falavam idiomas diferentes como os Bantos, Najôs e Jejes que deram origem às religiões afro-brasileiras, e os Hauças e Malês, de religiões islâmicas.


Surgimento e desenvolvimento da cultura afro-brasileira


O negro era proibido de manisfestar sua cultura. Com isso, foram incorporadas à cultura africana algumas práticas indígenas e européias, que manifestavam com diversas expressões como a religião, a música e a culinária.  A partir disso, passou a ser denominanda como cultura afro-brasileira.

No início do século XIX, toda manifestação cultural afro-brasileira era descriminada e perseguida, pois além de não pertencer à cultura européia, não representava o que chamavam de civilidade. Na verdade, eram vistas como retrato de cultura atrasada e selvagem.

Só a partir do século XX é que as expressões culturais afro-brasileiras começaram a ser aceitas pelas elites e consideradas como expressões artísticas nacionais. Foram criadas datas significativas celebradas pelo negro do Brasil, como o dia 20 de novembro, dia Nacional da Consciência negra. Houve também a Lei número 10.639/2003, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), exigindo que as escolas brasileiras de ensino médio e fundamental incluíssem no currículo o ensino da história e cultura afro-brasileira.

A influência da cultura negra não foi apenas no Brasil, mas em outros países como os Estado Unidos, com o surgimento do Rap e do Hip Hop. Apesar disso, nem todas as manifestações culturais foram aceitas ao mesmo tempo. Sofreram e ainda sofrem a discriminação nos tempos atuais.


A música


A herança africana ajudou a compor a música popular brasileira. A que mais se destacou foi o samba. O estilo hoje é o que se diz a cara do Brasil, pois está envolvido na maioria das ações culturais. O samba se originou dos antigos batuques africanos. Esses batuques eram associados a elementos religiosos e que determinaram um tipo de comunicação entre os negros. Era um ritual, realizado através da música e dança de percussão e dos movimentos.

Na década de 1920, destaca-se a perseguição do samba pela burguesia devido à vida avessa dos sambistas à dela. As novas letras de samba falavam sobre a vida de malandro, boêmio, além de discursar sobre o dia a dia da população favelada. Com isso, surgiu o nascimento  do novo samba de butiquim, sendo então comparado a uma vida de vadiagem, jogos de cartas e orgias. Portanto, primeiro o samba foi perseguido por ser música vinda do povo africano e por ser praticado em forma de dança por escravos libertos e, agora, por ser música de negro e vagabundo.

Somente em 1944 é que as rodas de sambas foram legalizadas, embora o preconceito tenha perdurado até 1960. O samba é hoje considerado o símbolo nacional do Brasil. Após a utilização do estilo musical e a propagação entre as classes médias e nos meios de comunicação, com o crescimento das escolas de samba, o povo negro continua não tendo acesso a essa festa, que foi procedente à sua história.  A classe mais baixa está sempre na maioria das vezes por trás, empurrando o carro alegórico, ou na bateria da escola e na velha guarda, pois é o que tem acesso à comunidade. No entanto a classe média é que aproveita da festa como patrocinadores, frenquentadores do camarote ou como componentes da ala de destaque.

Com isso, o samba, na verdade, se tornou uma "dança feita para turistas", pois passou a ser um objeto de consumo e mercadoria, sendo readaptado com padrões mais lucrativos, idealizando, assim, o capital.


A religião


Os negros ao chegarem ao Brasil eram batizados no catolicismo.  Mesmo assim, não deixavam de praticar suas religiões. Para que seus cultos fossem preservados e seus deuses idolatrados, os negros disfarçaram as religiões prevalecentes no Brasil. Asssim, muitos santos da Igreja Católica foram incorporados às religiões. Com isso, surgiu o  sincretismo religioso, o que significa incorporação de vários elementos diferentes nas  religiões e culturas dentro de outras. As principais religiões de origem africanas são o Candomblé e a Umbanda.

Percebendo o crescimento das manifestações, a Igreja Católica iniciou a perseguição ao culto africano. Segundo eles, a religião negra era tida como ameaça, além de considerada endemoniada. Em 1952, a Igreja Católica criou a Secretaria Especial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. O intuito era acabar com o crescimento de fiéis da Umbanda e demais "cultos mediúnicos", dando o nome de “Secretaria Nacional de Defesa da Fé”. Para os católicos, o homem de cor, praticante de Umbanda, vivia uma situação de miséria natural e moral.

Já para os evangélicos, a partir do século XX, com o fortalecimento e o aumento das igrejas neopentescostal, os ataques às religiões negras aumentaram. Essa intolerância passa desde a manifestação de intolerância ao culto e programas religiosos, podendo chegar às agressões físicas contra praticantes dos cultos afro-brasileiros.

Pouca coisa mudou desde então. Nos últimos anos presenciamos uma onda de ataques às religiões de origem africana. No Rio de Janeiro criou-se um grupo ligado à igrejas evangélicas, composto por traficantes, líderes religiosos e autoridades políciais, chamado "Guerreiros de Deus", responsável por incendiar terreiros e expulsar das favelas pais e mães de santo. Surgiu também o grupo chamado "Gladiadores do Altar", criado pela igreja Universal do Reino de Deus, que vem ameaçando os praticantes de Umbanda e Candomblé.

De acordo com o censo de 2010, os fiéis de Candomblé e Umbanda, juntos, somavam quase 600 mil pessoas e são os mais atacados no Brasil. De Janeiro a 11 de Julho de 2010 de 53 denúncias de intolerância, 22 foram feitas por vítimas de intolerância religiosa. No levantamento do jornal O Globo, em 2013, foram 21 registros feitos por praticantes de religiões africanas em um total de 114.

Pesquisadores da PUC-RIO ao fazer o estudo "presença do axé mapeando território no Rio de Janeiro", contabilizaram um alto índice de agressões aos frequentadores do culto afro-brasileiro. Das 840 casas visitadas 430 foram alvos de discriminação, ou seja, mais da metade, cerca de 57%.  A maior parte dos ataques ocorreram nas ruas, cerca de 67%. Dos 430 relatos apenas 160 foram legalizados, com notificações, e desse total 58 levaram algum tipo de ação judicial. Esse estudo também mostrou que 70% das agressões foram verbais e os praticantes foram denominados de "macumbeiro e filho do demônio".

Ocorreram e têm ocorrido outros tipos de agressões como: pichações, postagens na internet em redes sociais, além de invasões de terreiros, incêndios, agressões físicas, furtos e quebras de símbolos sagrados.

Houve inúmeros casos de intolerância religiosa segundo os dados do disque 100, número criado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos. Os dados mostram que houve no período de 2011 a dezembro de 2015 um total de 697 casos de intolerância, sendo a maioria nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.

Para muitos pesquisadores, para diminuir um pouco essas perseguições, é necessário um mecanismo de informações e divulgação, como a participação da imprenssa, canais de participações, que darão acesso às denúncias, dentre outras. É preciso, também, uma educação religiosa nas grades curriculares do ensino fundamental e médio, pois o preconceito existe, na maioria das vezes, por falta de conhecimento, juntamente com o racismo, impregnado pelos objetivos nefastos da sociedade capitalista: usar de todos os meios de exploração ao conjunto dos oprimidos.


A dança


Uma das danças mais perseguidas foi a capoeira. Na verdade a capoeira é uma mistura de dança, música e luta. Há muitas histórias do surgimento dessa dança. Uma delas é que a capoeira foi criada pelos escravos como forma de defesa, uma vez que os africanos, ao serem escravizados, sofriam vários tipos de violência pelo capitão do mato e pelos senhores de engenho. Como mecanismo de controle, os escravos eram proíbidos de praticarem qualquer tipo de lutas. Dessa forma, os escravos então uniram os movimentos e ritmos das danças africanas ajustando-os a um tipo de luta.Com o fim da escravidão, os escravos libertos começaram a praticar a capoeira nas ruas, praças e em manifestações públicas. Como o preconceito em relação aos negros aumentava, pois eram considerados uma raça inferior, a capoeira era tida como uma prática violenta e subversiva. Por isso, a capoeira munca aceita pela elite foi, formalmente, proibida.

No governo do Marechal Deodoro da Fonseca, que criou o código penal 1890, onde os praticantes de capoeira sofriam severas punições, mais uma vez os negros só se manisfestavam às escondidas  em quintais, nos arredores da cidades e nas praias. Esse código penal durou até 1930, quando o então presidente Getúlio Vargas,  procurou o apoio popular em sua política, incluindo o que chamou de  a “retórica do corpo",  liberando assim a prática da capoeira. Em verdade liberou entre aspas, pois além de ser vigiada a capoeira só poderia ser praticada em lugares fechados e com o alvará da polícia.

Nesse momento, surgiu Manoel dos Reis Machado, mais conhecido como mestre Bimba, um grande capoeirista que lutou para o reconhecimento desta cultura, juntamente com o não menos importante Vicente Ferreira Pastinha, o mestre Pastinha. A capoeira levada por esses mestres tinha o nome de Capoeira de Angola, tendo-lhes sido repassada por descendentes de Angola. Pioneiro da primeira academia, mestre Bimba adicionou à capoeira outros componentes de artes marciais dando início a um novo modelo, hoje conhecido como Capoeira Regional. Mas, a “Capoeira Angola” mantém em seus guardiões a linhagem original.

Como vimos ao longo desse texto, apesar da cultura negra ser de extrema importância à cultura brasileira, ela sofre intensa perseguição causada pelo racismo e preconceito. Isso é consequência de vivermos em uma sociedade com molde ideológico no  pensamento  capitalista. Através de muitas lutas e de intensa resistência, houve algumas melhorias em relação ao passado, com a cultura negra sendo preservada pela luta do próprio povo negro, mesmo sem nenhum incentivo do sistema para isso. Porém, ainda há muito a que ser feito, pois o preconceito ainda existe. Sabemos que ainda há de ser travada uma luta árdua e longa, contra a  base material desse tipo de opressão, em busca de uma revolução social.


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