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Favelização do povo negro

Após cerca de 400 anos de escravidão, maus tratos, flagelos e exploração, os negros estavam “livres” perante a Lei. No dia 13 de maio de 1888, a aprovação da Lei Áurea oficializou o fim da escravidão, que, segundo alguns, representou uma grande conquista. Será? Como ser considerada apenas uma grande conquista, sendo que essa liberdade se iniciou com várias consequências como, por exemplo, o negro ter sido abandonado e jogado à míngua pelo poder público. De fato, depois da abolição, o negro foi jogado à mingua.

Há muitas especulações sobre o processo abolicionista. Parte da História do Brasil relata o fim da escravidão como conquista dos políticos abolicionistas que faziam parte do Parlamento nacional e que eram favoráveis ao fim da escravidão. Porém, o negro foi esquecido nesse processo. Segundo os abolicionistas, estes não eram capazes de se expressarem e os escravos, por suas características raciais, não tinham capacidade intelectual de entender a sua situação de explorado e oprimido.

Na verdade, o movimento abolicionista só teve "sucesso" perante a vários processos. A começar com o início da escravidão no século XVI. Nessa época já haviam rebeliões, fugas e organizações de quilombos. Foram criadas várias leis, como a Lei Eusébio de Queiroz, que proibia o tráfico negreiro; a Lei do Ventre Livre, em 1871, e a Lei do Sexagenário, em 1885. Essas mudanças coincidiram com as transformações econômicas que o país atravessava. Com a decadência da produção açucareira, o café dá um novo impulso na economia.

A partir da expansão da cafeicultura e a proibição do tráfico negreiro veio a escassez da mão de obra na lavoura. A compra de escravos não estava dando resultados e, com isso, os fazendeiros paulistas foram os primeiros a trocar o trabalho escravo pelo o trabalho livre. Assim, surgiram políticas de incentivo à imigração europeia. Houve também a pressão da Inglaterra, que estava em ascensão, pois com a Segunda Revolução Industrial veio a expansão da economia inglesa por maiores demandas de matéria prima e busca de novos mercados consumidores. A escravidão, nesse sentido, era contraproducente. Com isso, os ingleses iniciaram um ciclo de investimentos com países periféricos.

Na verdade, o fim da escravidão foi um processo iniciado com o regime escravocrata e que teve continuidade com o surgimento do capitalismo. Isso porque o negro escravizado, além de ter seu valor aumentado após o fim do tráfico negreiro, em 1850, não poderia comprar a produção capitalista. O trabalho forçado passou a ser mais caro do que o assalariado. Logo, para o capitalismo a escravidão não era mais favorável.


O fim da escravidão e suas consequências


O fim da escravidão deixou várias consequências, pois ao mesmo tempo em que os ex-escravos se tornaram iguais perante a Lei, eles não receberam garantias que seriam aceitosracismo na sociedade. Foram jogados à própria sorte. Os escravos e seus descendentes saíram despreparados para o trabalho livre, incapazes de se adaptar aos novos padrões contratuais. Muitos eram analfabetos ou não possuíam um ofício. Dessa forma, vários foram obrigados a continuar nas fazendas vendendo trabalho em troca de sobrevivência. Além disso, o fim da escravidão não extirpou o preconceito, latente na sociedade. É comum, ainda hoje, o negro ser preterido em postos de trabalho por puro e simples racismo.

Os negros que migravam para as grandes cidades entravam na economia informal, artesanato e subempregos. Além disso, por falta de condições materiais, os que não moravam nas ruas, passaram a morar em cortiços e vilas, também conhecidos como bairros africanos, o que deu início ao processo de favelização. Hoje, o que assistimos é um apartheid social velado. Segundo o censo realizado em 2014, das 12 milhões de pessoas que vivem em favelas, 72% dos moradores são negros e um em cada três já se sentiu discriminado.

Dessa forma, é necessário o entendimento de que o problema racial, a qual os negros viveram durante toda a escravidão e no período imediatamente após a abolição, não foi restrita apenas a esse período. É uma questão vivenciada ainda nos dias atuais. O racismo, a exclusão social, a opressão, a falta de reconhecimento e de valorização do negro são muito bem exemplificados através da favelização existente nas grandes cidades. São, na verdade, uma herança trágica da escravidão, implantada pelo embrião do capitalismo na sociedade e que se estende ainda no mundo de hoje.


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