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Guerras na África: a quem beneficiam?

O capitalismo se especializou, ao longo dos séculos, na contínua exploração do continente africano. A princípio, essa exploração se dava por meio do comércio transatlântico de escravizados, num movimento escancarado de retirada de força produtiva para levá-los às lavouras das colônias americanas. De fato, foi o sangue e o suor dos escravizados negros que possibilitaram uma acumulação de capital que levou à Revolução Industrial, que por sua vez, é o marco inicial do capitalismo da forma que conhecemos hoje.

Após a Conferência de Berlim, em 1885, essa exploração não era apenas das pessoas. Os territórios do continente africano foram arbitrariamente repartidos pelas potências europeias, sem qualquer cuidado com as marcações territoriais que existiam anteriormente. Essa exploração direta permaneceu durante todo o período da colonização, que espoliou as riquezas naturais do continente sem criar o mínimo de infraestrutura, bem como a mão de obra dos habitantes de cada colônia, que trabalhavam em condições análogas à escravidão. A exploração latente era vendida como o fato do homem branco estar "levando a civilização" para os "bárbaros do continente africano". Uma verdadeira inversão. A exploração sem limites sendo vendida como “favor”.

Aterrador é que o momento das independências africanas também foi fortemente influenciado pela forma como ocorreu a colonização. Como dito, nenhuma estrutura foi criada para a manutenção de uma economia sustentável e, mais que isso, em muitos casos a colonização juntou em um território nacional, através de fronteiras que não existiam anteriormente, grupos historicamente rivais. O resultado foi óbvio: inúmeras guerras civis, algumas das quais perduram até hoje.

A guerra é mais um dos meios que o capitalismo se apropria para extrair lucros. Foi assim na Primeira, na Segunda e também será na próxima Guerra Mundial. Mas também é assim em confrontos menores, como no caso das guerras de independência e nas guerras civis que se seguiram no continente africano. O capital não olha para injunções morais sobre perda de vidas. Na guerra, ele lucra diretamente com a venda de armas, munições, empréstimos a altíssimos juros para a reestruturação etc. No momento em que as guerras terminam, ele ganha com a venda de alimentos e serviços básicos para os países devastados.


O recente caso do Mali


Esse uso das guerras no continente africano não se restringiu aos momentos logo posteriores a independência. Muito recentemente, em 2013, a política imperialista francesa se aproveitou do clima mundial envolvendo o terrorismo islâmico para justificar internacionalmente uma invasão da antiga colônia francesa do Mali. O interesse era manter uma precária estabilidade neocolonial que a França tinha adquirido no local, bem como os interesses das multinacionais francesas, como a Areva que lida com criação de energia elétrica. Por "coincidência", a região tomada pelos radicais islâmicos era uma rica em gás natural. O discurso foi o mesmo de sempre: "lutar pela democracia", "contra o terrorismo", "ajuda aos malineses" etc. Quanta hipocrisia. A França estava na linha de frente do antissemitismo e da xenofobia contra os imigrantes africanos.

Mais do que isso, o real interesse que havia da entrada na França em assuntos internos ao Mali não tem nada com a “defesa da democracia”. A entrada das forças armadas francesas não fez mais do que reforçar o poder ditatorial do Exército Malinês e dos homens do capitão Sanogo, que continuam a determinar a lei em Bamako desde o golpe de Estado, em março de 2012. Em nome da “defesa da democracia”, protegeu-se um ditador, que controlou a imprensa, promoveu perseguições e garantiu acordos benéficos à França.

De fato, incoerência discursiva nunca foi problema para o capital, desde que seus interesses sejam preservados. Mas o caso malinês tem uma especificidade que o faz ser mais aterrador do que a própria incoerência no discurso. A França, diminuindo custos e maximizando lucros, arrastou a Argélia, outra ex-colônia, para a guerra. O governo argelino, que havia se posicionado inicialmente contrário a guerra, se viu obrigado a permitir a circulação de caças franceses pelo seu espaço aéreo. Com isso, sofreu represálias e pesadas baixas na população civil.

A operação começou com pelo menos 3.700 soldados sendo enviados ao Mali. Hoje já possui mais de 12 mil soldados europeus e argelinos. Isso para enfrentar um bem organizado exército, que havia tomado boa parte do território do norte malinês. A guerra é a conta-gotas, com intenções de mantê-la o máximo de tempo possível.


África: revolução ou exploração?


Como é possível falar em defesa da democracia se essa invasão ao Mali foi a 51ª das 52 invasões, sob o mesmo pretexto, que a França realizou na África, após 1960, nos países que anteriormente eram colônias? Como que se pode falar de independência na África se as antigas potências colonizadoras e os Estados Unidos invadem os países do continente a seu bel prazer e por tantas vezes seguidas?

Bem a verdade, persiste o colonialismo nos países atrasados e essa prática se acirra em momentos de crise. A invasão imperialista no Mali em 2013, na Síria, que se arrasta nos últimos anos, e o aperto econômico por parte de multinacionais estadunidenses em Angola e na África do Sul, em 2016 e em 2017, são produtos da crise atual, pois são parte da política do “salve-se quem puder”, onde os capitalistas tentam a todo custo impedir a queda de seus lucros, nem que isso signifique fazer guerras e matar a população civil.

Os dados vêm continuamente demonstrando que os países do continente africano não terão “colher de chá” dentro do capitalismo e tenderão a permanecer eternamente sob o jugo das potências imperialistas. Dessa forma, para os países da África, para os outros países atrasados e para os proletários de todo o mundo, só há duas saídas: ou continuar sendo explorados ou lutar pela revolução social, rumo ao socialismo.


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