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O capitalismo é racista

A história dos negros no Brasil é marcada pela luta contra as classes dominantes. A princípio, a luta era contra os exploradores da mão de obra escrava. Após a abolição, com a total falta de mecanismos para inserção na sociedade, os negros continuaram sob o julgo das classes dominantes, sendo alocados nos piores postos de trabalho e nas periferias das grandes cidades.

Abandonados pelos mecanismos estatais controlados pela elite econômica brasileira, os negros tiveram que lidar com o total absenteísmo de representatividade política. Mesmo após mais de um século da abolição, o panorama não se alterou. A título de exemplo, o número de parlamentares que se auto representam como negros é irrisório. Na última eleição federal, em 2014, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, dos 1,6 mil eleitos, 75,6% são brancos, 21% pardos e apenas 3,1% negros. No Congresso Nacional, dos 594 parlamentares, menos de 10% são negros. Isso em um país em que 54% da população é negra.

Em mais de um século após o início do período republicano brasileiro, o teatro democrático não conseguiu criar qualquer representatividade política para o povo negro. Trata-se da continuidade da exploração do sistema capitalista sobre as camadas mais pobres da população. Não há políticas públicas para inserir o negro na sociedade, e sim mecanismos econômicos e repressivos que perpetuam a sua total exploração. O problema, em última instância, é sistêmico.


A extrema direita é abertamente racista


Além de lidar com a total irrepresentatividade política e a exploração econômica, o negro tem de lidar com o racismo estrutural da sociedade brasileira. Herança do processo escravista, principalmente dentre as elites econômicas, o racismo atinge níveis alarmantes quando é parte do discurso político dos parlamentares. Nesse sentido, temos no Brasil três principais parlamentares que se apresentam abertos defensores do racismo: Feliciano, Bolsonaro e Fernando Holiday.

Marco Feliciano é deputado federal pelo Partido Social Cristão. O deputado, que chegou a comandar a Comissão de Direitos Humanos, justifica seu racismo baseado em uma vertente teológica que afirma que os africanos negros vivem sob a chamada “Maldição de Cam”, o que os leva a todos os problemas socioeconômicos que existem hoje. Ora, os problemas do povo são inerentes ao capitalismo. Uma justificativa teológica nada mais é do que o mascaramento de uma realidade aterradora criada pelo próprio sistema.

Ainda pior que Feliciano é o elemento fascistoide Jair Bolsonaro. Deputado federal desde 1991, Bolsonaro tem sempre aparecido na imprensa burguesa vinculado a alguma injúria moral. Ele só ganhou notoriedade nos últimos anos devido ao fortalecimento do conservadorismo semifascista ligado diretamente à crise do capital.

Bolsonaro é responsável por inúmeras falas racistas. Em 2011, em entrevista em rede nacional, afirmou que seus filhos não se relacionariam com uma mulher negra por serem “bem educados”. Foi condenado a pagar multa de R$ 150 mil. Em recente palestra para a comunidade judaica no clube Hebraica do Rio de Janeiro, afirmou que negros quilombolas “não servem pra nada, nem para procriar”, além de dizer que reservas indígenas e quilombos atrapalham a economia. Além de um racista inveterado, Bolsonaro demonstrou claramente a quem representa. Ao afirmar que a demarcação das terras quilombolas é um problema econômico, o deputado aproximou seu discurso do setor mais reacionário da burguesia nacional, os latifundiários, para quem as terras quilombolas significam menos possibilidade de exploração.


Fernando Holiday: um capitão do mato


Fernando Holiday, vereador de São Paulo pelo DEM, se assemelha aos antigos capitães do mato. Escolhidos em sua maioria dentro dos descendentes de negros que nasciam no Brasil, os capitães do mato eram aqueles responsáveis pela tarefa de capturar os escravizados fugitivos e por manter os cativos sob o julgo e as leis dos senhores, em troca de uma pequena melhora em sua condição social. Eram capatazes dos brancos contra os negros.

Mesmo sendo negro, Holiday comprou e reproduz o discurso direitista que insiste em culpabilizar as vítimas. Com o falacioso discurso meritocrático, o vereador atua contra cotas raciais nas universidades e em concursos públicos. Afirma que a ascensão social do negro é uma questão apenas de mérito, desconsiderando a desigualdade de condições e, mais ainda, a dívida histórica que a sociedade tem para com o negro.

Holiday é a prova viva que a questão negra vai além das questões puramente raciais. Não basta apenas alçar qualquer negro à política, dentro dos parâmetros da democracia burguesa e na base ideológica “neoliberal”. A questão negra deve ser levantada como o conjunto de problemas democráticos cuja solução se encontra pendente. O capitalismo em crise não consegue resolve-los. A resolução das mazelas vividas pela população negra é indissociável da luta operária, da luta contra o capital e pela revolução socialista.


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