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Conferência de milicos na Unifesp-Baixada Santista

Na última sexta-feira, 11 de agosto, no campus da Baixada Santista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), dezenas de policiais militares, fardados e à paisana, alguns armados e outros portando cartazes onde se lia “Bolsonaro 2018”, invadiram uma audiência pública, convocada pelo Conselho Estadual da Condição Humana, para discutir o texto do Plano Estadual de Educação em Direitos Humanos de São Paulo. Os policiais fizeram provocações, chamaram os professores de “vagabundos” e, segundo nota de repúdio da Adunifesp (Associação de Docente da Unifesp), “bradavam por ‘direitos humanos aos humanos direitos’, ‘mudar a nomenclatura Ditadura Militar de 1964, para Revolução de 1964’, ‘retirar a discussão de gênero nas escolas’, etc. (ver nota: http://adunifesp.org.br/?p=2834).


Qual o significado político do embate?

Os fascistas estão com “as asinhas de fora”. O que aconteceu no campus Baixada Santista da Unifesp é reflexo da polarização político- ideológica que ficou latente no último período com o avanço das ideias conservadoras no interior das classes médias e pequeno-burguesa. Demonstra também o atrevimento dos grupos de direita e extrema- direita, que, com o advento das crises econômica e política, têm vindo à público regurgitar seu ódio aos pobres e às minorias. Estouram manifestações de intolerância, racismo, misoginia, xenofobia, de grupos que reivindicam intervenção militar, que dizem ter saudades da Ditadura, que pregam ódio aos comunistas, aos defensores dos direitos humanos, aos movimentos populares, às juventudes pobres da periferia, etc. Exemplo disso é a campanha de perseguição contra o Partido dos Trabalhadores (PT), apesar de o partido ter há muito se adaptado ao regime político e à lógica da conciliação de classes, mas, mesmo assim, é alijado do cenário de poder por conta de sua base social e origem operária.

Em tempos de crise do capital, com queda nas taxas de lucro dos patrões, o regime tende ao endurecimento, com ajuste fiscal, cortes nos serviços sociais, retirada de direitos históricos dos trabalhadores e tudo o que for necessário à manutenção da política macroeconômica vigente. Mas também avança no sentido de reprimir violentamente os setores sociais que se insurgem contra as maldades do Estado a serviço dos patrões, o que desemboca em ações violentas do poder público, com violência policial ainda mais cruel, prisões arbitrárias, repressão à manifestações e piquetes, assassinatos de lideranças e militantes da esquerda. E por aí vai; a lista é extensa. Papel relevante cumpre a imprensa golpista, monopolizada por poucas famílias que vivem de lobbys com governos e especulação financeira. Os parasitas, dispostos a manter seus lucros a qualquer custo, manipulam como podem a opinião pública, estipulando pautas políticas de seu interesse e tentando manobrar a massa despolitizada no sentido desejado. Foi o que aconteceu no último período, com o avanço do golpe, que teve muito o que agradecer à família Marinho e à Editora Abril, entre algumas outras mídias que foram determinantes na disseminação do antipetismo raivoso, que levou os “coxinhas” a tomarem as ruas do País em favor do impeachment. Não havia crime de responsabilidade, sequer indícios de corrupção ou similares. Havia um ódio de classe que, inflado pela grande imprensa burguesa e coordenado pela cobertura televisiva da Rede Globo, colocou nas ruas uma pequena massa de camadas médias da população contra a presidenta Dilma. Numa velada manifestação de apoio à violência policial, muitos desses “manifestantes”, chegaram, inclusive, a tirar fotografias com a tropa de choque da PM de São Paulo, mesmo depois de uma chacina promovida pela Polícia, em Osasco, com mais de 20 mortos, onde todos os indícios apontavam para uma ação de extermínio envolvendo membros da corporação. Ou seja, os fascistoides saíram às ruas, como que reeditando a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, manifestação conservadora que antecedeu o golpe de 64. Muitos deles pediam, e continuam pedindo, a volta do regime militar.

O que esses policiais militares sugeriram como pauta na audiência pública da Unifesp configura um imenso quadro de retrocesso. Trata-se da negação oficial de uma agenda democrática e cidadã. Na prática, já é o que vem ocorrendo. As políticas de segurança pública com encarceramento em massa de pobres e negros, criminalização do uso de drogas, etc., refletem a correlação de poder na economia, de exploração do homem pelo homem, de estratificação social, marginalização do proletariado mais pobre, do desejo pequeno burguês de manter antigos privilégios de classe, etc. A materialidade determina os comportamentos sociais. Isto é a luta de classes, que em tempos de crise gera um extraordinário acirramento.

Não há nada de novo sob o sol. Esse tipo de fenômeno é esperado em períodos turbulentos e deve ser combatido politicamente e com objetividade, o que implica a imediata refutação do uso do espaço acadêmico para discursos de ódio e uma organização ampla dos movimentos sociais para deter os arroubos dessa direita. Com fascistas não há diálogo.


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