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A Revolução de Fevereiro de 1917

Em “A História da Revolução Russa”, León Trotsky descreve os vários percalços ocorridos na Revolução de Fevereiro de 1917, na luta travada entre os insurretos e os comandados do tzar Nicolau II; o estado de ânimo das direções e o das massas. Transcrevemos, a seguir, alguns relatos de Trotsky:

“Do quartel-general, Nicolau telegrafara a Khabalov ordenando-lhe que pusesse fim às desordens; ‘no dia seguinte, sem falta’. (...) A condescendência dos cossacos, as vacilações de algumas tropas da infantaria não eram senão episódios cheios de promessas, aos quais as ruas despertadas dão a ressonância de milhões de ecos. Episódio suficiente para exaltar o povo revolucionário, porém muito pouco para decidir a vitória. Tanto mais que se haviam produzido incidentes de caráter hostil. À tarde um pelotão de dragões, sob pretexto de réplica aos tiros partidos do povo, pela primeira vez abriu fogo sobre os manifestantes perto das Galerias do Comércio (Gostinny Dvor): segundo o relatório de Khabalov ao quartel-general, houve três mortos e 10 feridos. Séria advertência! Ao mesmo tempo Khabalov ameaçava enviar para o front todos os operários mobilizáveis que, antes do dia 28, não voltassem ao trabalho. O ultimato do general dava às massas operárias um prazo de três dias: era um prazo maior do que necessitava a Revolução para derrubar Khabalov e, com ele, a Monarquia. Mas, não se viria a saber disso senão depois da vitória. E, na tarde de 25, não se sabia ainda de que estava pleno o dia seguinte.

Tentemos representar-nos com mais clareza a lógica interna do movimento. A 23 de fevereiro, - [08 de março no nosso calendário] - sob a bandeira do Dia da Mulher, explode a insurreição das massas operárias de Petrogrado, há muito amadurecida e contida. A primeira fase da insurreição foi a greve, que em três dias se estende a ponto de converter-se em greve geral. Este simples fato era suficiente para infundir confiança nas massas e levá-las avante. A greve, assumindo um caráter cada vez mais acentuadamente ofensivo, combina-se com manifestações de rua que põem as massas revolucionárias em contato com as tropas. O problema fora colocado, em seu conjunto, em plano mais elevado onde as coisas se resolvem pela força das armas. Esses primeiros dias se assinalam por sucessos parciais, de caráter antes sintomático do que efetivo.

Uma sublevação revolucionária que se prolongue por diversos dias só pode triunfar elevando-se progressivamente, de degrau em degrau, registrando constantemente novos êxitos. Uma trégua no curso dos sucessos é perigosa; se o movimento patina no mesmo lugar, pode perder-se. Os êxitos, por si sós também não bastam; é necessário que a massa tenha conhecimento deles e os aprecie em tempo oportuno. Pode-se deixar escapar uma vitória exatamente no momento em que seria suficiente estender a mão para pegá-la. Na História, registraram-se fatos semelhantes.

Os primeiros três dias foram marcados pela intensificação e agravação da luta. Foi por este motivo que precisamente o movimento atingiu um nível onde os sucessos sintomáticos tornavam-se insuficientes. Toda a massa ativa desceu às ruas. Enfrentou a polícia, com bons resultados e sem grandes dificuldades. (...)

Na noite de 25 para 26, em diversas partes da cidade, cerca de cem militares revolucionários foram presos; entre eles se encontravam cinco membros do Comitê bolchevique de Petrogrado. Isto indicava também que o Governo passava à ofensiva. Que acontecerá hoje? Qual seria o despertar dos operários após as fuzilarias do dia precedente? E – problema essencial – que diriam as tropas? O dia 26 despontou entre as brumas da incerteza e da inquietação.

O Comitê de Petrogrado foi detido e a direção das operações na capital passou para o setor de Vyborg. Talvez fosse melhor assim. A alta direção do Partido aguardava desesperadamente. Até o dia 25, pela manhã, o birô do Comitê Central dos bolcheviques não se decidira a publicar um manifesto apelando para a greve geral em toda a Rússia. No momento em que este manifesto foi publicado, se é que efetivamente o foi, a greve geral em Petrogrado transformava-se em insurreição armada. A direção observava de suas alturas, hesitava, retardava, isto é, não dirigia – deixava-se rebocar pelo movimento.

Quanto mais nos aproximamos das fábricas tanto maior decisão encontramos. Entretanto, no dia 26 a inquietação atinge todos os bairros operários. Famintos, irritados, tiritantes, sob o fardo de uma enorme responsabilidade histórica, os dirigentes de Vyborg reuniam-se fora da cidade, em pomares, para trocar impressões acerca da jornada e para estabelecer de comum acordo um itinerário... de quê? Organizar nova manifestação? Que resultado, porém, conseguiriam essas pessoas desarmadas, se o Governo decidira ir até o fim?”


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