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Lenin e o imperialismo

Vladimir Ilitch Lenin foi o principal líder da Revolução Russa de 1917. Apesar de ser um revolucionário, que não se limitou a interpretar o mundo, mas buscou transformá-lo, Lenin também escreveu importantes ensaios, que denotam intensa preparação teórica. Afinal, em suas próprias palavras “não existe prática revolucionária sem teoria revolucionária”. Vários livros se dedicaram a analisar os embates políticos dentro da social-democracia, na Europa e na própria Rússia. Outros a analisar o principal inimigo a ser combatido pelo socialista revolucionário: o capitalismo. Desse tipo de esforço analítico, nasceu um dos mais conhecidos livros de Lenin, “O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo”, escrito em 1916.

Para Lenin, o imperialismo é o capitalismo em seu estágio mais evoluído. As premissas do liberalismo, como o livre mercado, formação do Estado nacional e livre concorrência, deram lugar aos monopólios, muitas vezes transnacionais, com ligações no mundo inteiro. O capital bancário se fundiu ao capital financeiro, formando grandes trustes, carteis e empresas com o produto interno bruto (PIB) maior que vários países do globo.

Nas palavras de Lenin, “Convém dar uma definição do imperialismo que inclua os cinco traços fundamentais seguintes: 1) a concentração da produção e do capital levada a um grau tão elevado de desenvolvimento que criou os monopólios, os quais desempenham um papel decisivo na vida econômica; 2) a fusão do capital bancário com o capital industrial e a criação, baseada nesse “capital financeiro” da oligarquia financeira; 3) a exportação de capitais, diferentemente da exportação de mercadorias, adquire uma importância particularmente grande; 4) a formação de associações internacionais monopolistas de capitalistas, que partilham o mundo entre si, e 5) o termo da partilha territorial do mundo entre as potências capitalistas mais importantes”.

É uma definição extremamente acurada dessa fase do capitalismo. Ao elencar esses cinco traços fundamentais, Lenin permitiu enxergarmos, com frieza, o desenvolvimento do capitalismo. O que se seguiu, de 1916 até os dias atuais, foram os desdobramentos desse desenvolvimento histórico como, por exemplo, a crise de superprodução de capital especulativo que vivemos hoje.


Efeitos práticos do imperialismo

O imperialismo gerou e gera efeitos práticos na história da humanidade. Afinal, na dialética marxista, a economia gera efeitos e é influenciada pelos âmbitos políticos, cultural e social. Nesse sentido, um de seus primeiros efeitos foi a colonização da África e da Ásia ainda no século XIX. O capital financeiro possuí necessidades de expansão, em busca de matéria prima, mão de obra barata e mercado consumidor. Com a revolução industrial e científica, as potências europeias finalmente conseguiram romper as barreiras que as impediam de dominar politicamente o resto do mundo.

utros efeitos do imperialismo foram a I e a II Guerras Mundiais. O expansionismo político no mundo gerou rivalidades entre as potências europeias, bem como a luta pelo domínio econômico. Se milhões de soldados e civis perderam suas vidas nessas guerras, não importa ao capitalismo.  No capitalismo, a única vontade que é realmente respeitada é a de se salvar os lucros da burguesia.

Mas toda ação tem uma reação. O proletariado, duramente espoliado pelo imperialismo, se organizou politicamente e, em torno dos bolcheviques russos e da liderança de Lenin, tomaram os meios de produção, expropriaram a burguesia e fizeram uma revolução que quebrou com o modo de produção existente. Em contraparte, no mundo capitalista, com a Europa destruída pelas duas guerras mundiais em seu território, propiciou que os Estados Unidos emergissem como a maior potência capitalista.

Com o fim da II Guerra Mundial e afirmação dos Estados Unidos como potência, o colonialismo em Ásia e África perdeu o sentido. Afinal, o novo dono do mundo não possuía colônias nesses territórios. Era necessário reassegurar, para as grandes empresas, o domínio econômico e político do mundo. Daí advém o neocolonialismo, que já era praticado pelos EUA na América Latina. Nessa fase, foram concedidas ou conquistadas as independências dos países da África e Ásia, que a partir daí foram dominados indiretamente. Não havia mais um controle político direto colonial, os países eram dominados economicamente. Os efeitos práticos eram os mesmos. Essa fase é chamada neocolonialismo.

Além da superioridade econômica, nessa fase, a dominação cultural que havia sido iniciada com o colonialismo, se aprofunda. Dessa forma, o imperialismo controla o mundo, em todas instâncias. A intenção disso tudo é tão antiga quanto o momento do surgimento do capitalismo: salvar os lucros dos capitalistas. Controla-se a política, a economia, as mídias, a cultura etc., tudo isso para salvaguardar o privilégio de uma minoria sobre a maioria.


Nada mudou

Ainda hoje, são essas grandes instituições internacionais de capital financeiro que controlam o mundo. Isso é cristalino como água quando analisamos a “democracia” que existe no mundo burguês. Ela não é nada mais que nominal. Quando os governos eleitos por essa “democracia” não conseguem aplicar a política de exceção necessária para manter os privilégios da minoria, eles desmoronam igual castelo de cartas. É o caso da então presidenta, Dilma Rousseff, que sofreu um golpe parlamentar em 2016.

Como havia predito Lenin, em 1916, vivemos hoje uma crise de superprodução de capital especulativo. Cerca de 70% do dinheiro do mundo não possuí nenhum lastro com a produção. Advém de expectativa de juros e lucros. Em suma: vivemos uma crise econômica por causa de um dinheiro que nem sequer existe. E, como também predisse Lenin, em caso de crise, os capitalistas que a criaram não a pagam. Jogam todo o ônus para a classe trabalhadora.

Isso traz à luz a necessidade imediata de todo o proletariado mundial se libertar. A sua libertação só será possível fora do sistema capitalista. Sua luta deve se dirigir contra o sistema, buscando a criação de uma nova forma de sociedade, a socialista, assim como fez Lenin e os bolcheviques em 1917.

É necessário lutar. Mas não uma luta sem nenhum lastro teórico, que não tem direção, nem embasamento. É necessário retomar Lenin, aprender com seus êxitos e seus erros. Seria uma mácula não se aproveitar da experiência daqueles que lutaram contra o sistema com êxito, entender suas análises, e aplicar o que for necessário para a libertação real do proletariado. Lenin foi extremamente correto quando afirmou que sem teoria revolucionária, não há luta revolucionária.


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