Damos continuidade, nesta página, ao apêndice do Programa de Ação da Internacional Sindical Vermelha, aprovado no III Congresso da III Internacional, realizado em 1921 e dirigido por Lenin e Trotsky. O assunto diz respeito à “neutralidade” dos sindicatos em relação ao partido político.
A luta contra a Internacional Sindical Amarela de Amsterdã
IV
“...Os sindicalistas revolucionários franceses (uma modalidade de anarco-sindicalismo surgida principalmente na França no final do século 19 e início do 20 como reação ao oportunismo e ao burocratismo da social-democracia) não terão linha de conduta firme enquanto o Partido Comunista não a tiver. O Partido Comunista Francês deve se aplicar em estabelecer uma colaboração amigável com os melhores elementos do sindicalismo revolucionário. Ele deve contar em primeiro lugar com seus próprios militantes, deve formar núcleos em todos os lugares onde haja três comunistas. O partido deve empreender uma campanha contra a neutralidade. (...) Apenas dessa maneira pode-se revolucionar o movimento sindical na França e estabelecer sua colaboração estreita com o partido.
Na Itália (...) a massa dos operários sindicalizados está animada de um espírito revolucionário, mas a direção da Confederação do Trabalho está nas mãos de reformistas e centristas declarados, que estão alinhados com Amsterdã. A primeira tarefa dos comunistas italianos é organizar uma ação cotidiana animada e perseverante nos sindicatos e dedicar-se sistemática e pacientemente a desmascarar o caráter equivocado e vacilante dos dirigentes, a fim de tirar-lhes os sindicatos. As tarefas (...) são, em geral, as mesmas dos comunistas franceses.
Na Espanha, temos um movimento sindical poderoso, revolucionário e também consciente de seus objetivos e temos um Partido Comunista ainda jovem e relativamente frágil. Dada esta situação, o partido deve tentar fortalecer-se nos sindicatos, o partido deve ajuda-los com seus conselhos e sua ação, deve esclarecer o movimento sindical e ligar-se a ele através de laços amigáveis, tendo em vista a organização comum de todos os combates.
Acontecimentos da maior importância se desenvolvem no movimento sindical inglês que se revolucionariza muito rapidamente. O movimento de massas se desenvolve. Os antigos chefes dos sindicatos perdem rapidamente suas posições. O partido deve fazer os maiores esforços para afirmar-se nos grandes sindicatos, como a Federação dos Mineiros etc. Todo membro do partido deve militar em algum sindicato e deve, através de um trabalho orgânico, perseverante e ativo, orientá-lo em direção ao comunismo. Nada deve ser negligenciado para estabelecer a ligação mais estreita com as massas.
Na América, observamos o mesmo desenvolvimento, mas um pouco mais lento. Em nenhum caso os comunistas devem limitar-se a deixar a Federação do Trabalho, organismo reacionário: eles devem, ao contrário, colocar mãos à obra para penetrar nos antigos sindicatos e revolucioná-los. (...) Um poderoso movimento sindical desenvolve-se espontaneamente no Japão. Mas ele ressente-se de uma direção clara. A tarefa principal dos elementos comunistas do Japão é sustentar esse movimento e exercer sobre ele uma influência marxista.
Na Checoslováquia, nosso partido tem a maioria da classe operária, enquanto o movimento sindical permanece ainda, em grande parte, nas mãos dos social-patriotas e dos centristas e, de outra parte, está cindido por nacionalidades. Esse é o resultado da falta de organização e de clareza por parte dos sindicalizados, ainda que animados do espírito revolucionário. O partido deve fazer tudo para por um fim a essa situação e conquistar o movimento sindical para o comunismo. Para atingir esse objetivo, é absolutamente indispensável criar núcleos comunistas, assim como um órgão sindical comunista central para todos os países. (...) Na Áustria e na Bélgica, os social-patriotas souberam tomar com habilidade e firmeza a direção do movimento sindical, que é o principal ponto de combate. É nessa direção que os comunistas devem colocar sua atenção.
Na Suécia o partido tem que combater resolutamente não apenas o reformismo, mas também a corrente pequeno-burguesa que existe no socialismo e deve aplicar nessa ação toda a sua energia.
Na Alemanha, o partido tem grandes condições para conquistar gradualmente os sindicatos. Nenhuma concessão deve ser feita àqueles que preconizam a saída dos sindicatos. Isso é fazer o jogo dos social-patriotas. Às tentativas de excluir os comunistas deve-se opor uma resistência vigorosa e obstinada; os maiores esforços devem ser feitos para conquistar a maioria dos sindicatos.
V
Todas essas considerações determinam as relações que devem existir entre a Internacional Comunista e a Internacional Sindical Vermelha.
A Internacional Comunista não deve apenas dirigir a luta política do proletariado no sentido estrito do termo mas, também, toda sua campanha de libertação, seja qual for a forma que ela assuma. A Internacional Comunista não pode ser apenas a soma aritmética dos Comitês Centrais dos Partidos Comunistas dos diferentes Países. A Internacional Comunista deve inspirar e coordenar a ação e os combates de todas as organizações proletárias, profissionais, cooperativas, soviéticas, educativas etc. além das estritamente políticas.
A Internacional Sindical Vermelha, diferente da Internacional Amarela de Amsterdã, não pode, em caso algum, aceitar o ponto de vista da neutralidade. (...) O programa de ação da Internacional Sindical Vermelha (...) será defendido na realidade unicamente pelos Partidos Comunistas, unicamente pela Internacional Comunista. Por esta única razão, para insuflar o espírito revolucionário no movimento operário de cada País, (...) os sindicatos vermelhos de cada País serão obrigados a trabalhar de mãos dadas, em contato estreito com o Partido Comunista desse mesmo País, e a Internacional Sindical Vermelha deverá coordenar em cada País sua ação com aquela da Internacional Comunista.
Os preconceitos da neutralidade, independência, apoliticismo, de indiferença pelos partidos, que são o pecado dos sindicalistas revolucionários legais da França, Espanha, Itália e alguns outros Países, não são objetivamente outra coisa que um tributo pago aos ideais burgueses. Os sindicatos vermelhos não podem triunfar sobre Amsterdã, não podem consequentemente, triunfar sobre o capitalismo, sem romper de uma vez por todas com esta ideia burguesa de independência e de neutralidade.
(...) A situação ideal será a constituição de uma Internacional proletária única, agrupando os partidos políticos e todas as outras formas de organização operária. (...) Mas, no momento atual, de transição, com a variedade e a diversidade dos sindicatos, é preciso nos diferentes países, constituir uma união autônoma dos sindicatos vermelhos, aceitando o conjunto do programa da Internacional Comunista, mas de uma forma mais livre que os partidos políticos pertencentes a esta Internacional.
(...) Para estabelecer uma ligação mais estreita entre a Internacional Comunista e a Internacional Vermelha dos Sindicatos, o Terceiro Congresso Universal da Internacional Comunista propõe uma representação mútua permanente de três membros da Internacional Comunista no Comitê Executivo da Internacional Sindical Vermelha e vice-versa.