• Entrar
logo

Leon Trotsky, aos 77 anos de sua morte

Trotsky foi, ao lado de Lênin, líder da Revolução Russa de 1917. Foi também o organizador e comandante em chefe do Exército Vermelho durante a Guerra Civil, que eclodiu logo após a tomada do poder pelos Bolcheviques, levando a República dos Soviets à vitória frente aos 21 exércitos estrangeiros, consolidando a Revolução de Outubro.

Após a morte de Lênin, travou uma luta ferrenha contra a burocratização do Partido Bolchevique e do Estado Soviético e contra a política contrarrevolucionária levada a cabo por Stálin, que colocavam em perigo as conquistas alcançadas pela Revolução.

Homenageamos ao grande revolucionário nesses 77 anos de sua morte, tendo em vista a sua contribuição política e teórica à luta da classe trabalhadora a nível internacional, responsável por um importante avanço na elaboração marxista.

Lev Davidovitch Bronstein, seu verdadeiro nome, nasceu em 1879, em Yvanovka, na Ucrânia. Filho de um fazendeiro judeu, estudou em Nikolaev e iniciou o curso superior na Universidade de Odessa, mas não concluiu o curso e passou à militância clandestina ativa no movimento operário russo. Em Odessa, foi preso pela polícia czarista e deportado para a Sibéria.   Em 1902, fugiu da Sibéria e foi ter com Lênin, em Londres, assumindo o pseudônimo de Trotsky, em referência a um dos guardas da prisão de Odessa. Lênin propôs que Trotsky compusesse o conselho editorial do Iskra, órgão do Partido Operário Social Democrata Russo, mas Plekhanov vetou seu nome.

Em 1903, no Segundo Congresso do Partido Operário Social Democrata Russo, aconteceu o famoso racha do Partido em duas frações: Bolcheviques (liderados por Lênin) e Mencheviques (liderados por Martov). A polêmica era em relação à organização do Partido: se deveria ser centralizado e formado por revolucionários profissionais, como pretendia Lênin; ou mais “frouxo”, aberto a todos que quisessem entrar, como queria Martov. Trotsky ficou inicialmente com Martov e os mencheviques para logo assumir uma posição independente. Mais tarde revisa sua posição em relação à organização do Partido, reconhecendo o seu equívoco.

A derrota da Rússia para o Japão na guerra de 1904/05 provocou uma crise econômica e social na Rússia com revoltas operárias onde, em 22 de janeiro de 1905, o Czar Nicolau II ordena que as tropas dispersassem uma passeata de grevistas diante do Palácio de Inverno, matando mais de mil pessoas. A partir daí o movimento recrudesceu no campo e na cidade. Estourou uma greve geral fortíssima e, neste movimento, os operários criaram os Sovietes (Conselhos) e por meio destes se organizou a luta. Trotsky atuou como presidente do Soviet de São Petersburgo. A Revolução de 1905 foi derrotada, mas serviu como um “Ensaio Geral” para a Revolução de 1917.

Trotsky foi preso e condenado à prisão perpétua na Sibéria. O seu julgamento durou um ano e, nesse meio, tempo elaborou a Teoria da Revolução Permanente. Diferentemente dos mencheviques e bolcheviques, que afirmavam que a próxima Revolução na Rússia seria uma Revolução Burguesa para avançar a regimes democráticos burgueses semelhantes aos da Europa Ocidental, Trotsky defendia que as tarefas democráticas colocadas para a Rússia atrasada somente poderiam ser levadas a cabo pela classe operária organizada em seu Partido Revolucionário e que a Revolução Democrática naturalmente evoluiria para uma Revolução socialista, efetivando a permanência da Revolução. E a Revolução, sim, seria socialista, mesmo num país atrasado, porém dependeria mais do desenvolvimento da revolução em outros países do que da tentativa de construir o socialismo exclusivamente no próprio país.

Em fevereiro de 1907, Trotsky fugiu no caminho para o exílio na Sibéria e chegou a Londres a tempo de participar do 5º Congresso do POSDR. Depois, seguiu para Viena onde se estabeleceu e fundou, em 1908, o seu próprio jornal, o Pravda (A verdade), dirigido aos trabalhadores russos. Nesse período, Trotsky se manteve independente, lutando pela unidade do Partido.

A Primeira Guerra Mundial iniciou em agosto de 1914 e a consequência imediata para o movimento operário foi a capitulação dos principais partidos da II Internacional à sua própria burguesia nacional na guerra imperialista. Essa traição histórica ensejou uma conferência de socialistas europeus contrários à guerra, em setembro de 1915, em Zimmerwald, na Suíça. Lênin e Trotsky estiveram presentes. Coube a Trotsky redigir o Manifesto de Zimmerwald, denunciando a guerra.

Em Paris, Trotsky editou, com bastante êxito, o jornal Nashe Slovo (Nossa Palavra), que defendia uma linha anti-guerra e internacionalista. A publicação teve duração de dois anos e meio. Em fins de 1916, sob pressão do governo russo, a França deportou Trotsky. Este fica um breve período na Espanha e é novamente deportado, desta vez para Nova Iorque. Após dez semanas na América, estoura a Revolução na Rússia, em fevereiro de 1917, que derruba o regime czarista e implanta o governo provisório. Trotsky e outros revolucionários voltam para a Rússia Imediatamente.

Em abril de 1917, Lênin chega na Estação Finlândia, em Petrogrado. As famosas Teses de Abril de Lênin se coadunavam perfeitamente à Teoria da Revolução Permanente de Trotsky. Lênin reorientou a política do Partido Bolchevique (que na sua maioria defendia a “democracia” em geral, quando não apoiavam “criticamente” o governo burguês) para que a luta fosse para a tomada do poder pela classe operária, pela revolução socialista.

Trotsky chega em Petrogrado no início de maio e faz um discurso no Soviet com a mesma linha de Lênin e, a partir daí, a parceria política entre Lênin e Trotsky se estabelece de uma forma inabalável. As divergências do passado não têm mais nenhum valor. Em poucas semanas, Trotsky e seu grupo, o Comitê Interdistrital, ingressam no Partido Bolchevique.

Em julho de 1917, acontece um levante operário espontâneo em Petrogrado, as Jornadas de Julho, que é derrotado e se inicia uma feroz perseguição aos bolcheviques. Trotsky é preso e Lênin tem que passar à clandestinidade. Logo a seguir, há uma tentativa de golpe contrarrevolucionário liderada pelo General Kornilov, mas que é derrotada pela agitação e propaganda bolchevique na base do Exército. Os soldados se insurgem e desertam, abandonando seu General, e o golpe é derrotado antes de disparar um tiro sequer.

A guerra e a fome empurravam as massas para posições cada vez mais radicalizadas. A palavra de ordem impulsionada pelos bolcheviques de “Pão, Paz e Terra” foi bem aceita pelos operários e, em outubro, os bolcheviques ganharam a maioria dos Soviets, em Petrogrado, em Moscou e em outras partes da Rússia. Trotsky é eleito o presidente do Soviet de Petrogrado. O crescimento vertiginoso da popularidade do Partido indicou que o poder estava ao alcance das mãos. Para a tomada do poder pela classe operária bastava uma direção decidida, e essa direção foi dada pelo Partido Bolchevique, impulsionado por Lênin e Trotsky. Em 25 de outubro de 1917, o Comitê Militar Revolucionário do Soviet de Petrogrado, sob a presidência de Trotsky, leva a cabo uma insurreição armada vitoriosa. A primeira revolução socialista da História.

A Revolução de Outubro de 1917, na Rússia, instala um governo chamado “Conselho dos Comissários do Povo”, sob a liderança de Lênin. Trotsky foi nomeado Comissário de Assuntos Estrangeiros e tinha a tarefa de negociar a paz em separado com a Alemanha e os seus aliados. Devido a superioridade militar da Alemanha, Trotsky foi obrigado a aceitar, no início de 1918, um acordo desvantajoso para a República Soviética, o Tratado de Paz de Brest-Litovski.

A situação interna da Rússia Soviética era de caos total. Havia uma terrível crise econômica, com o colapso da produção industrial e da agricultura. E, ainda em 1918, os generais do antigo regime czarista organizaram uma contrarrevolução com o objetivo de derrubar o governo dos soviets. Essa mobilização foi apoiada pelas potências aliadas, que promoveram uma invasão no país  e que movimentou 21 exércitos modernos para obter a derrota dos bolcheviques. Era a Guerra Civil. A Revolução estava em perigo.

Trotsky é nomeado Comissário do Povo para Assuntos Militares e é incumbido de organizar o Exército Vermelho. Na falta de homens com experiência militar, utiliza-se de oficiais do antigo exército czarista sob a supervisão de comissários políticos bolcheviques. Trotsky comandou o Exército Vermelho de dentro de um trem blindado que utilizava para se deslocar de um front a outro.

Em 1919, no auge da guerra civil, é fundada a Internacional Comunista, chamada III Internacional. Em seu Primeiro Congresso, dirigido por Lênin, o Manifesto foi redigido por Trotsky de dentro do trem de guerra.

Em 1920, o Exército Vermelho conquista a vitória sobre o Exército Branco (czarista), garantindo a sobrevivência do regime soviético, mas a custo da destruição da economia e da morte de 10 milhões de pessoas em combate, de frio, de fome e de doenças. O “Comunismo de Guerra”, que orientava toda a produção econômica para os esforços de guerra e promovia expropriações e confiscos de cereais pela força, era um modelo que já estava esgotado e foi a causa da “Revolta de Kronstrandt”.

Kronstrandt era uma base naval instalada numa ilha de Petrogrado. Seus marinheiros foram vanguarda da Revolução e eram leais aos bolcheviques. Em 1921, estoura a revolta que exigia a revogação do Comunismo de Guerra com o fim do confisco de cereais, que atingia diretamente as famílias camponesas. O Exército Vermelho sufocou o levante. Foi uma tragédia. Mas não se poderia colocar em risco a Revolução.

Neste mesmo ano, o X Congresso do Partido Comunista, sob orientação de Lênin, suspende o “Comunismo de Guerra” e propôs a NEP (Nova Política Econômica), que introduzia elementos de mercado para reerguer a economia. Este mesmo Congresso proibiu, provisoriamente, as frações no Partido. Essas medidas se deram logo após as derrotas das Revoluções na Finlândia (1918), na Alemanha (1919) e na Hungria (1919), em que a Revolução Russa ficou isolada internacionalmente. Essa conjuntura favoreceu o crescimento da burocratização do Partido e do Estado Soviético.

Após o XI Congresso do Partido, em 1922, Stálin é eleito Secretário-Geral do Partido Comunista. E em 1923, Lênin, juntamente com Trotsky, inicia uma luta contra a burocracia, objetivando tirar Stálin da Secretária-geral. Trotsky organizou a Oposição de Esquerda, mas em janeiro de 1924 Lênin morre. A liderança do Partido, já durante a doença de Lênin, estava nas mãos do “Triunvirato” ou “Troika” formado por Ziniviev, Kamenev e Stálin. Stálin foi reeleito Secretário-Geral e se tornou, de fato, a liderança máxima do Partido.

Esse é um período de luta feroz interna ao Partido em que se destacam duas posições diametralmente opostas. A de Trotsky, para quem a vitória da Revolução Russa dependia da vitória da Revolução nos países da Europa, e, portanto, da Revolução Permanente a nível mundial. E a de Stálin, de construir o socialismo em um só país, avançando na industrialização, secundarizando a política internacional da Revolução.

Em resposta a campanha de calúnias pessoais, Trotsky escreve, em 1924, As Lições de Outubro. Em consequência, é destituído do cargo de Comissário de Guerra. Em 1925, é afastado do Conselho Revolucionário Militar. Em 1927, Trotsky e os líderes da Oposição de Esquerda são expulsos do Comitê Central. Em 1928, é exilado em Alma-Ata, capital do Cazaquistão, e em janeiro de 1929 é expulso da URSS.

Trotsky se estabelece na ilha de Prinkipo, na Turquia. Nesse período, escreve algumas de suas obras mais importantes: “História da Revolução Russa”, em três volumes; “Escritos Sobre Alemanha”; “A Revolução Permanente” e “Minha Vida”, sua autobiografia. Entre 1933 e 1935, permanece na França. Sob perseguição política e pressão diplomática é transferido para a Noruega onde escreveu “A Revolução Traída”, em 1936, em que define a URSS como um Estado operário degenerado pela burocratização e defende a realização de uma Revolução Política com a derrubada da camarilha stalinista pela ação direta da classe operária. De acordo com sua análise, caso se mantivesse no poder, a burocracia dirigente conduziria à derrota da Revolução e à restauração do capitalismo na URSS.

Além de denunciar a traição histórica do Partido Comunista Alemão, orientado pela III Internacional stalinista, quando se negou a promover a Frente Única com a Social-Democracia para derrotar o Nazismo, Trotsky também denunciou a capitulação da burocracia ao governo de Frente Popular, na França, e a traição stalinista na Revolução Espanhola.

 Entre 1936 a 1938, Stálin promove o “Grande Expurgo”. Todos os que representavam alguma ameaça eram mortos ou enviados para campos de concentração na Sibéria. Milhões foram presos, torturados e executados. Numa série de processos fraudulentos, os “Processos de Moscou”, toda a “Velha Guarda” do Partido Bolchevique foi assassinada.

Em 1937, Trotsky parte para o México, onde recebeu asilo político do Presidente nacionalista, Lázaro Cárdenas. Fixa residência em Coyoacán, Cidade do México, e dedica seu tempo ao combate à burocracia stalinista, à construção de novos quadros militantes e à fundação da IV Internacional, que considerava a tarefa mais importante de sua vida.

Em setembro de 1938, em Paris, é realizada a Conferência de Fundação da IV Internacional, uma organização revolucionária alternativa ao stalinismo e à socialdemocracia. O principal documento aprovado foi o “Programa de Transição”, escrito por Trotsky, que sintetizava a experiência teórica e prática do marxismo revolucionário. Este texto garante a continuidade dos postulados da Revolução de Outubro, da III Internacional fundada pelos bolcheviques e da Oposição de Esquerda.

Em 20 de agosto de 1940, um agente da GPU (polícia secreta da URSS), Ramon Mercader, a mando de Stálin, assassinou Trotsky com um golpe de machadinha de esquiar em seu crânio. Trotsky morreu no dia seguinte e foi enterrado na Cidade do México.


Topo