A sabotagem à paralisação da “Greve Geral” do último dia 30 de junho, realizada pelas direções sindicais burocráticas da CUT/PT e CTB/PCdoB, pode ser exemplificada na assembleia dos metroviários, ocorrida em 29 de junho, em que os sindicalistas da CUT/PT e da CTB/PCdoB (juntamente com o MES/Psol, de Luciana Genro), votaram pela não adesão ao movimento. Reforçando esse padrão, também se verificou a aberta sabotagem de todas as outras centrais, incluindo a CSP-Conlutas, que só falava em “Greve Geral” para atacar o governo Dilma (durante as investidas da direita), mas agora se recusa a parar as poucas categorias que dirige.
De acordo com a análise da esquerda que se integra à política do PT para salvar os próprios privilégios, a sabotagem seria obra exclusiva dos sindicalistas “patronais” da Força Sindical e da UGT (União Geral dos Trabalhadores), que teria pressionado à direita os bem intencionados burocratas da CUT e da CTB, no momento em que estão para serem votadas as reformas que retiram direitos históricos conquistados pelos trabalhadores. Só se esquiva de dizer sob quais acordos essa pressão aconteceu.
A não adesão dos metroviários da maior cidade do País ao dia nacional de paralisação não recebeu uma única linha de crítica, por exemplo, pelo jornal do Partido da Causa Operária (PCO), na Internet. Vontade de criticar o MES/Psol não deve ter faltado, o problema é que, nesse caso em particular, isso implicaria em ter que criticar também o PT e o PCdoB.
A integração do PCO à política da “frente popular” (aliança dos partidos da esquerda oportunista, com base eleitoral de massas, com setores da burguesia), se manifesta fundamentalmente na blindagem que se faz da CUT/PT. O PCO se abstém de fazer críticas às traições da “frente popular”, encobrindo sua própria política oportunista com a suposta "defesa" da classe operária. No ato do dia 30 de junho, os dirigentes desse partido jogaram toda a responsabilidade do “fracasso” da mobilização nas costas da Força Sindical e da UGT, que são centrais abertamente patronais, que nunca mobilizaram ninguém para luta alguma. Detalhe, essas centrais não possuem base real de trabalhadores, não chegam nem aos pés do poder de fogo que tem a CUT, que possui os maiores e mais importantes sindicatos.
O grosso das publicações do PCO está orientado à defesa da ala majoritária do PT/Articulação e, fundamentalmente, de seu principal dirigente, Lula; da presidente deposta pelo golpe, Dilma Rousseff; do presidente da CUT, Wagner Freitas, e de parlamentares petistas como Gleisi Hoffmann, Paulo Pimenta, Lindenberg Farias, entre outros.
O cretinismo da política dos “dois campos”
De acordo com os “teóricos” ligados à “frente popular”, quem não concorda com a política de capitulação à direita encabeçada pelo PT pertenceria ao "campo a favor do golpe". Tal política aplica de maneira fiel a velha teoria dos "dois campos burgueses progressivos", que atingiu o seu ponto culminante no VII Congresso da Internacional Comunista, em pleno período estalinista, onde, supostamente, só existiriam dois campos, o da “democracia” e o do fascismo/ golpismo.
Na atual conjuntura política, os dois campos seriam o dos que são "contra o golpe", mas que não lutaram efetivamente contra ele, como o próprio PT, o PCdoB, a CUT, o MST e os penduricalhos, como o PCO, e o dos que estariam a favor do golpe, que vai desde setores da esquerda pequeno-burguesa, passando por grupos políticos considerados de centro, de centro-esquerda, ou até mesmo de centro-direita, dependendo da classificação adotada: PDT de Ciro Gomes, REDE, Molon, PSB, setores do PMDB, entre outros, e a direita mais abertamente institucional. Vale destacar que muitos desses políticos burgueses participaram dos governos de colaboração de classes de Lula e Dilma, direta e indiretamente. Do balaio golpista também faz parte a extrema-direita mais encarniçadamente fascista, como o MBL, o deputado Jair Bolsonaro, etc. Essa política, na verdade, serve para encobrir os acordos que a cúpula do PT faz com a direita para salvar os carguinhos e os próprios privilégios. Por conta dessa política oportunista, esses setores se transformaram em peças do desenvolvimento golpista.
Os dois campos que existem na sociedade não são o da “democracia” e do golpismo. Ambos representam, em última instância, duas alas da burguesia. Os dois campos fundamentais são os representados pela burguesia e o proletariado, que constituem as duas classes fundamentais da sociedade capitalista.
“Luta contra o golpe” para encobrir os conchavos com a direita
Justificar a defesa incondicional da “frente popular”, encabeçada pelo PT, por meio da “luta contra o golpe”, que avança rumo a uma ditadura militar, representa uma traição aberta aos trabalhadores. O PT busca sobreviver no novo ambiente político marcado pelo aperto do imperialismo, chegando a se aventurar com políticas que vão além da demagogia e do oportunismo tradicional, como o recente “Fora Maia”, apesar de apoiá-lo por baixo do pano. O PT busca um acordo com o imperialismo, com ou sem a candidatura de Lula, da mesma maneira que sempre o fez, principalmente durante os seus quatro governos. A Frente Ampla, que Lula e os principais figurões do PT impulsionam, e da qual participam políticos burgueses como Roberto Requião e Ciro Gomes, busca se enquadrar na evolução do golpe, barrando o avanço da luta dos trabalhadores. O PCO presta certo serviço a essa política, embora limitado. Por meio de um discurso “revolucionário” demagógico, busca camuflar a política oportunista da esquerda pequeno-burguesa integrada ao regime, o que representa uma grande traição aos interesses da classe trabalhadora. Assim como acontece com toda a esquerda pequeno-burguesa, trata-se de um “salve-se quem puder” de burocratas, maiores e menores, contra os interesses dos trabalhadores. A luta contra o golpe passa, necessariamente, pela denúncia dos acordos espúrios da frente-popular com a direita e o imperialismo.