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Rock e direitos civis (Parte III)

O Rock e a classe operária

rockNo final da década de 1950 houve “migração” do rock para a Inglaterra, onde encontrou uma classe operária desempregada, em um ambiente perfeito para sua proliferação e maturação, com ênfase no blues americano eretorno explosivo aos Estados Unidos na década de 1960 e sua expansão mundial.

O rock inglês da primeira metade dos anos 1960 construiu sua base na classe operária. A banda The Who é a constatação desta realidade. O disco Tommy, uma ópera-rock composta por PeteTowshend conta a história de um menino cego, surdo e mudo, uma alusão à repressão social imposta aos indivíduos que precisavam seguir as normas do sistema, sendo o rock, uma forma de libertação daquela imposição comportamental.

Nos USA, durante meados de 1950 ocorreram fatos que propiciaram a correlação do rock com a solidificação dos direitos civis, principalmente relacionados aos negros, sem desprezar a luta da comunidade hispânica por reconhecimento de direitos civis; enquanto os indígenas criticavam as políticas contrárias às suas tradições. As mulheres buscavam igualdade e exigiam empregos até então ocupados restritivamente por homens. Esses conceitos se espalharam pelo mundo, embalados pelo rock.

Paralelamente houve início de manifestações pacifistas pela quebra daquela política americana com realização de passeatas e boicotes, com maior destaque pela luta dos negros em busca de justiça e igualdade.

O fator “racial” e social teve bastante influência no rock n’roll na década de 1950, em razão dos negros exigirem igualdade de direitos contra a segregação racial e ligação com o ativista Martin Luther King.

Um desses marcos racistasremonta a maio de 1954, no caso conhecido como Brown vcBoardofEducationof Topeka Kansas, em que a Suprema Corte americana declarou em 1957, a inconstitucionalidade da separação de estudantes negros dos brancos. Até aquela data as escolas eram separadas e o racismo era tão presente no sul dos Estados Unidos que, quando aquele ano letivo se encerrou, os integrantes do sistema público de ensino de Little Rock preferiram fechar a escola, fato que se repetiu no estado americano de Arkansas e sul daquele país, para evitar a integração racial nas escolas.

Outro marco ocorrido no sul dos EUA, região eminentemente racista, mais precisamente na cidade de Montgomery, estado do Alabama, quando a costureira negra Rosa Parks (considerada a “Mãe dos Direitos Civis”) entrou em 1 de dezembro de 1955 em um ônibus para retorno à sua casa, após um dia de trabalho e se sentou em um banco da frente do ônibus, local proibido para negros, segundo as leis segregacionistas do Alabama, e foi intimada por um passageiro branco a desocupar o lugar e ir se sentar no fundo do veículo. Em razão da recusa, a costureira foi presa, julgada e condenada. Seu ato e sua prisão motivaram uma onda de manifestações de apoio e revolta, por negros e alguns brancos que impulsionou um boicote por esta população aos transportes públicos urbanos, dando início de maneira prática à luta dos negros por igualdade de direitos com os brancos.

O boicote ao transporte urbano durou 386 dias, quase levando à falência o sistema urbano de transportes que era utilizado em sua maioria por passageiros negros e pobres. O boicote somente se encerrou quando a legislação que separava brancos e negros nos ônibus de Montgomery foi extinta, com forte participação do ativista negro Martin Luther King Jr.

Esses são apenas dois pontos comuns que ocorreram no mesmo espaço temporal do surgimento do rock e luta pelos direitos civis dos negros nos USA, tendo ainda em comum, a migração de trabalhadores do campo para os grandes centros urbanos, o avanço de tecnologia e desejo de mudanças sociais com luta pela libertação de vínculos com a escravidão imposta pelos brancos americanos.

A trilha sonora desses acontecimentos: rock n’ roll. Chuck Berry e Litte Richard uniam jovens negros e brancos, o que incomodava a sociedade conservadora que desejava fazer crer à juventude estadunidense que a “América” seria uma nação livre e vencedora para o futuro que se apresentava pós-guerra mundial,o chamado período de crescimento, paz e prosperidade. Detalhe: a paz estaria espremida entre crescimento e prosperidade, em razão da prioridade do lucro advindo da indústria bélica, impondo ao mundo o terror da “guerra fria”.

Os Estados Unidos tinham (e continuam tendo) o compromisso de impedir a expansão do comunismo pelo mundo, incentivando ações anticomunistas, o que favoreciam o crescimento e prosperidade estadunidense. Era o “fortalecimento” do capitalismo após a segunda guerra mundial na “América” e sua expansão mundial ao custo de mortes estimadas em torno de 20 a 30 milhões de pessoas em conflitos que resultaram em verdadeiros homicídios cometidos por ditaduras apoiadas pelos USA.

A “paranoia” era tamanha que um senador americano do estado de Wisconsin de nome Joseph McCarthy promoveu uma verdadeira caçada aos americanos simpatizantes (ou não) do comunismo em território norte-americano, acusando pessoas dos mais diferentes seguimentos, com argumentos absurdos e sem qualquer base, período conhecido como macarthismo que se encerrou em 1954, em um sistema muito parecido com oatual cenário brasileiro.


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