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Lima Barreto: a crítica à República Velha

O Pré-Modernismo

No final do século XIX e no início do século XX, formou-se no campo da literatura uma nova linha de reflexão sobre a realidade brasileira. Esta nova tendência ficou conhecida como Pré-Modernismo. Segundo o crítico e historiador, Alfredo Bosi, pode-se chamar de Pré-Modernismo “tudo o que, nas primeiras décadas do século, problematiza a nossa realidade social e cultural”. 

Fugindo à regra, Lima Barreto observou, com olhos críticos, a nova realidade brasileira, discutindo os problemas sociais e formando um quadro inédito para os leitores. Coube ao Pré-modernismo o papel de romper com a estática estagnada da belle époque e revelar as tensões que sofriam a vida nacional, promovendo uma ruptura à retórica poética dos velhos cânones, que sustentavam toda a parafernália ideológica da Velha República.

Lima Barreto

Afonso de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1881 (sete anos antes da abolição da escravatura). Era Mulato, filho de um operário e de uma professora.

Lima Barreto sofreu na pele as contradições sociais da época. Mestiço de origem pobre, foi militante das ideias socialistas. A partir de 1918, influenciado pela Revolução Russa, passou a colaborar com jornais marxistas, escrevendo crônicas e manifestos.

Com o pai doente mental, internado na Colônia dos Alienados, Barreto sofreu com várias crises de depressão. Alcoólatra, chegou ser internado duas vezes no Hospício Nacional para tratamento. Morreu miserável, de falência cardíaca, aos 41 anos, em 1922. 

Uma das maiores colaborações de Lima Barreto para a literatura brasileira foi o abandono do modo erudito e artificial de escrever, em favor de um estilo simples e despojado. 

O escritor foi um dos grandes romancistas da cidade do Rio de Janeiro. Toda sua obra de ficcionista se situa no Rio de Janeiro, na paisagem urbana e, principalmente, suburbana. Percebem-se traços autobiográficos na sua obra. Seus personagens são principalmente negros e mestiços que sofrem com o preconceito racial. 

Na época em que viveu, Lima Barreto não teve sua obra reconhecida, chegando a receber críticas violentas por seu estilo leve e fluído. Seus romances são fortemente influenciados pelo estilo jornalístico, pela linguagem informal e a própria fala cotidiana. Essas características vão influenciar diretamente os escritores do Modernismo brasileiro.

 

A crítica à República Velha

“Os Bruzundangas” é a obra póstuma de Lima Barreto, publicada em 1923. Uma coletânea de crônicas sobre um país fictício. No entanto, a “República da Bruzundanga” é um retrato da realidade brasileira. As notas de Lima Barreto sobre a história deste país nos permitem fazer algumas reflexões sobre os primeiros anos do regime republicano. Seus capítulos enfocam, entre outros temas, a economia, a Constituição, os políticos, as eleições e o sistema educacional.

Ao tratar das eleições no país dos Bruzundanga, Lima Barreto criticou o processo antidemocrático e corrupto da República Velha. O alvo das críticas do escritor foram os políticos e os mecanismos dos quais eles se valeram para ocupar os cargos. É bom ressaltar que a política brasileira, desde os primeiros anos da República, foi delineada de modo que o poder ficasse polarizado em poucos grupos (oligarquias), por meio do voto de cabresto. Nas eleições de Bruzundanga, "às vezes semelhantes eleitores votam até com nomes de mortos". Cabia aos eleitores optarem por eleger famílias “bastardas”, apresentadas pelo sangue,. Enquanto os deputados, esses não deveriam exercer nenhum poder, não apresentavam nenhuma força, pois a lei maior estava na ordem dos governadores das províncias que haviam elegido cada governante.

Ao tratar da educação de Bruzundanga, Lima fez referências às mudanças sociais que ocorreram no Brasil depois do processo de abolição da escravatura. Elas não foram suficientes para promover uma transformação no sistema educacional brasileiro - apesar de ser este um dos projetos republicanos. Devido a tal problema, Lima Barreto via a educação na Bruzundanga como um privilégio social. A educação e a cultura, direcionadas a maioria da população, são menosprezadas pelos administradores do Bruzundanga.

 

A política do Café com Leite

Na República do Bruzunganda, para ocupar o cargo de Ministro, bastava que o cidadão fosse excelente especulador. Saber acima de tudo organizar “trusts” e ser agiota. A política econômica deste país estava baseada na ampla especulação que favorecia a valorização do preço do café. 

Segundo Lima Barreto, no país do Bruzunganda “a manobra da ‘valorização’ consiste em fazer com que o governo compre o café por um preço que seja vantajoso aos interessados e o retenha em depósito; mas, acontece que os interessados são, em geral, do governo ou parentes dele, de modo que os interessados fixam para eles mesmos o preço da venda, preço que lhes dê fartos lucros, sem se incomodar que ‘o café’ venha a ser, senão a pobreza, ao menos a fonte da pobreza da Bruzundanga, com os tais empréstimos para as valorizações”.

Esta parte do livro é uma referencia direta ao Brasil, que começa a viver, a partir de 1894, um novo período de sua história republicana com a posse do paulista prudente de Morais, primeiro presidente civil. É o início da “República do Café com Leite”. É a época áurea da economia cafeeira no Sudeste. 

A República Velha (1894- 1930) estava assentada na hegemonia dos proprietários rurais de São Paulo e Minas Gerais, conhecida como a política do “café com leite”. As bases deste governo dependiam do equilíbrio entre a produção e a exportação do café, delegando ao Estado o papel de balança comercial, assegurando os preços através da compra do excedente. Um exemplo desta proteção foi o Convênio de Taubaté.


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