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Teorias neoliberais?

A justificativa teórica do chamado “neoliberalismo”, que foi a operação empreendida na década de 1970 para garantir os lucros dos grandes capitalistas em crise por meio do desmonte do “estado de bem–estar social” e da pilhagem dos recursos da sociedade, foi colocada em pé, em primeiro lugar, pela Escola de Chicago.


As teorias neoliberais da Escola de Chicago, liderada por Milton Friedman, são extremamente infantis e supérfluas em relação à teoria econômica. Bastaria controlar o déficit público e a inflação por meio de medidas monetaristas e promover o chamado “livre mercado” para que o capitalismo, supostamente, se torne um furação de crescimento e liberdade. A econometria, um dos carros-chefe de Friedman, usa como método a coleta de dados com o objetivo de fornecer previsões quantitativas sobre as variáveis econômicas, tais como PIB e o desemprego. E só. Os chamados “economistas” são convertidos em operadores de planilhas que, conforme a crise econômica capitalista tem se aprofundado, tornam-se especialistas na manipulação desses dados.

As teorias da Escola Austríaca vão além e levam o delírio apologético do capitalismo à conotações abertamente religiosas. A corrente encabeçada por Ludwig von Mises, da qual Friedich Hayek, o mentor teórico de Milton Friedman, foi seguidor, estrutura o núcleo da teoria econômica em cima da chamada “ação humana”, que seria a atividade consciente dos seres humanos para alcançar as metas subjetivas ou mentais dos indivíduos. Desta maneira, a economia não estaria baseada em leis nem no desenvolvimento histórico e não haveria condições de estudá-la enquanto ciência, pois estaria baseada em alguns dogmas, supostamente autoevidentes, tais como a tese que os indivíduos tentam alcançar a maior satisfação ao menor custo; a partir deles são derivadas as conclusões. Ou seja, seria uma atividade parecida com explicar questões econômicas por meio do Antigo Testamento da Bíblia.

A corrente de Murray Rothbard chega ao extremo de propor o “anarco-capitalismo” com a extinção praticamente total do Estado burguês.

A abordagem de Milton Friedman é um pouco “mais moderada” na apologia do capitalismo parasitário. O livro “A metodologia da economia positiva”, escrito em 1953, não descarta a possibilidade de que as hipóteses possam ser provadas falsas. O objetivo dos economistas deveria ser verificar se a teoria funciona em relação aos objetivos práticos.

Apesar de o “neoliberalismo” ser identificado principalmente com a figura de Milton Friedman devido ao papel prático como consultor das experiências neoliberais mais reacionárias, as teorias da Escola Austríaca são usadas como o suprasumum teórico do neoliberalismo, para justificar os ataques mais violentos contra as massas trabalhadoras.

Nas últimas três décadas, as teorias neoliberais serviram como encosto das políticas que promoveram a tomada de assalto das riquezas da sociedade, o ataque em larga escala contra os trabalhadores e a maior depredação do meio ambiente da história da humanidade. Trata-se da burrice intelectual levada ao extremo, alavancada por meio do poder da propaganda dos setores mais reacionários da burguesia imperialista em prol de um único objetivo – garantir os obscenos lucros dos especuladores financeiros a qualquer custo.


"Neoliberalismo": uma caricatura da economia vulgar

Friedman tenta se apresentar como um seguidor das teorias do grande economista clássico, Adam Smith. O neoliberalismo está muito longe dos economistas burgueses que tentaram explicar o capitalismo e fazem parte do mesmo campo dos economistas vulgares que tentaram justificar as barbaridades desse sistema, principalmente após as revoluções de 1948, quando a classe operária apareceu no cenário político ultrapassando a burguesia. Essas correntes ficaram ainda mais apologéticas e reacionárias a partir de 1871, quando a classe operária chegou a tomar o poder em Paris e a conservá-lo durante mais de dois meses.

O neoliberalismo começou a ser usado como base teórica principal do imperialismo, a partir da década de 1970, devido à necessidade de desmontar o chamado “estado de bem-estar social” e aumentar exponencialmente o parasitismo imposto pela necessidade de manter as taxas de lucro da burguesia imperialista.

Karl Marx, o homem que explicou as leis da evolução da sociedade e do capitalismo, atribuia enorme valor à economia política clássica e considerava a obra de David Ricardo o ponto culminante na época. Os pós-ricardianos deixaram de lado a análise da sociedade e das suas contradições, conforme a classe operária entrou em cena. Até revolução francesa de 1830, a burguesia republicana teve um papel revolucionário, levando as massas trabalhadoras a reboque da sua política. A partir das revoluções de 1948, o proletariado apareceu como uma classe social com interesses próprios. Tinha ficado claro que, conforme a revolução industrial tinha avançado, a “liberdade, igualdade e fraternidade” não passavam da liberdade dos capitalistas para comprar e vender, enquanto a maioria da população ficava relegada à pobreza.

Os “economistas vulgares”, de acordo com a denominação acunhada por Marx, passaram a analisar as aparências, desprezando a essência dos fenômenos. “Aproveito para chamar a atenção, uma vez por todas, que entendo por economia política clássica toda a economia que, a partir de William Petty, procura penetrar no conjunto real e íntimo das relações de produção na sociedade burguesa, por oposição à economia vulgar, que se contenta com as aparências, rumina sem cessar, por necessidade própria e para vulgarizar os fenômenos mais notórios, os materiais já elaborados pelos seus predecessores, limitando-se a erigir pedantemente em sistema e a proclamar como verdades eternas as ilusões com que os burgueses gostam de povoar o seu mundo, para eles o melhor dos mundos possíveis.” (Karl Marx, O Capital, Livro 1, Capítulo 1)

Entre os principais representantes da chamada escola neoclássica estão os economistas vulgares Malthus, Frédéric Bastiat, Jean Baptiste Say e John Stuart Mill. Todos esses economistas são muito admirados pelos neoliberais, principalmente Bastiat (1801-1850), que fora qualificado por Marx como “o mais superficial e, portanto, o mais bem sucedido representante dos apologistas da economia vulgar”.


A defesa religiosa da propriedade privada e do capitalismo

Segundo Milton Friedman, a propriedade privada seria “o mais básico dos direitos humanos e a base essencial para os demais direitos”. Essa “maravilha” social altamente parasitária e podre que conhecemos hoje, batizada cinicamente de “livre mercado”, seria uma “cooperação voluntária de indivíduos” que espontaneamente trabalham juntos para coordenar “as atividades econômicas de milhões”. A única alternativa seria uma sociedade coercitiva com o uso do planejamento centralizado e a força militar para fazer a economia funcionar. Por esse motivo, a classe dominante seria, neste caso, a classe política, ao invés do papel do Estado se limitar a manter a propriedade privada e melhorar “os custos de transação”, ou seja, os lucros dos capitalistas.

A Escola Austríaca prega que a propriedade seria uma relação natural entre os seres humanos e as coisas materiais. Qualquer transgressão à propriedade resultaria na perda de liberdade e de prosperidade.

A “liberdade” e a “igualdade” sempre representou, na prática, para a burguesia, a liberdade para comprar e vender, além de toda a verborrágia intelectual. No estágio atual de parasitismo do capitalismo, a “liberdade” representa a espoliação em larga escala das massas trabalhadoras pelo punhado de especuladores financeiros que domina o mundo. O aumento das desigualdades sociais bateu todos os recordes históricos nos últimos anos – ao lado dos bilionários conhecidos e das fortunas camufladas das 150 famílias mais poderosas, temos mais de um bilhão de pessoas que vivem na pobreza extrema, doenças já erradicadas que voltaram a aparecer, a proliferação das guerras e a escalada da especulação financeira em níveis nunca imaginados. A “democracia” não passa de uma “papagaiada” demagógica. O Estado burguês tem aumentado exponencialmente a estrutura policialesca e repressiva. A democracia não passa de uma política que pode ser facilmente transformada numa ditadura fascista mediante uma simples mudança de política, já que a essência do Estado burguês atual é fundamentalmente policialesco e fascistoide.


A tentativa de negar que o valor é criado pela classe operária

De acordo com Friedman, o valor de uma mercadoria é determinado, na circulação, pela interdependência entre a oferta e a demanda ou por aquilo que pode ser chamado de “interação do custo e da utilidade”, o que referencia tanto as preferências subjetivas quanto as condições tecnológicas objetivas.

Para a Escola Austríaca, o valor somente pode ser atribuído pelos desejos subjetivos de um indivíduo e por suas crenças quanto às propriedades causativas de uma determinada mercadoria. Somente então os economistas poderão classificar as mercadorias como tais.

Os neoliberais repetem a mesma visão apologética que os economistas vulgares divulgavam há dois séculos. O que na realidade acontece é que, em relação ao valor de uso, as partes envolvidas numa transação podem ser beneficiadas. Em relação ao valor de troca, as ganâncias obtidas pelos preços superiores praticados por alguns dos participantes no mercado e as perdas dos outros serão niveladas pela média social. Por esse motivo, os lucros especulativos não têm a possibilidade de criar novo valor, e sim de se apropriar de uma maior fatia do valor total criado pela sociedade.

Os capitais têm a tendência a serem remunerados pela taxa de lucro média conforme a lei estudada detalhadamente no Volume III do livro “O Capital”, de Karl Marx.

Os economistas burgueses vulgares não conseguem compreender as leis de funcionamento do capitalismo devido à classe social que representam. O reconhecimento de que o verdadeiro gerador de valor é a força de trabalho da classe operária implicaria em reconher o caráter histórico desse sistema social. As categorias genéricas de “valor de trabalho” e “preço natural do trabalho”, entre outras, impediram à economia clássica de avançar no entendimento das leis do capitalismo. Para os economistas vulgares, serviram com “uma base segura de operações para a sua superficialidade, que somente venera as aparências”. Trata-se de uma operação de camuflagem porque a transformação do valor e preço da força de trabalho em salário “torna invisível a relação efetiva e, precisamente, mostra o oposto dessa relação, [nela] se fundamentam todas as noções jurídicas tanto do operário como do capitalista, todas as mistificações do modo capitalista de produção, todas as ilusões de liberdade, todos os absurdos apologéticos da economia vulgar”. (Karl Marx, O Capital, Livro 1, Cap. 17)


Dinheiro e políticas fiscais para os grandes capitalistas

De acordo com as teorias neoliberais de Milton Friedman, o dinheiro pode originar-se do escambo, mas interesses privados provavelmente não conseguiriam aperfeiçoá-lo de modo a satisfazer as necessidades de uma economia moderna. Por esse motivo, uma economia tem de ter um banco central para sustentar o setor financeiro. Os esforços direcionados à manipulação da economia por meio de constantes alterações na oferta monetária irão, na melhor das hipóteses, fracassar. Na pior, gerarão severos problemas. As autoridades monetárias não devem aumentar a oferta arbitrariamente, mas aumentá-la a uma taxa constante que corresponda à taxa de crescimento de longo prazo da economia. A partir destes conceitos, Milton Friedman elaborou um dos componentes principais das teorias neoliberais, a chamada "escola monetarista", que, em síntese, estabelece que a oferta de moeda determina o nível de atividade econômica.

Para a religiosa Economia Austríaca, a evolução do dinheiro deve ser deixada, no sentido absoluto, a cargo das forças da concorrência no mercado. Intervenções estatais resultariam em inflação e produziria várias outras distorções.

No livro “A teoria da quantidade de dinheiro: Uma reavaliação” (1956), Friedman definiu a base teórica do monetarismo, reafirmando o papel central da quantidade do meio circulante. Numa revisão feita em 1968, Friedman escreveu especificamente que “as mudanças substanciais nos preços ou ingressos nominais são quase invariavelmente o resultado de mudanças no suprimento de dinheiro”. Em outras palavras, a economia real não teria qualquer importância para explicar a inflação ou o crescimento da economia; tudo se relacionaria com a quantidade de dinheiro circulante.

Os sintomas de esgotamento dos chamados “anos dourados” do capitalismo, no início dos anos de 1960, teriam sido provocados pelas mudanças no estoque de moeda e não pelo aprofundamento da crise capitalista.

No livro escrito em coautoria com Anna Schwartz, “Dinheiro e ciclos de negócio”, aparece explicitamente que, se o estoque de moeda fosse mantido constante, a crise não aconteceria. Em outro livro, “A história monetária dos Estados Unidos 1867-1960” (1963), os mesmos autores reafirmaram a relação das variações entre a oferta de moeda, a renda nacional e o nível de preços, de modo a reafirmar a supremacia da política monetária na determinação dos movimentos da economia. No caso do déficit ser financiado por meio de empréstimos, sem aumento do estoque de moeda, o efeito expansionista provocado pelo aumento do gasto público será compensado, em grande parte ou totalmente, pelo efeito indireto da transferência de fundos privados para o setor público. Como o estoque de moeda continuará sendo o mesmo, a maior demanda de crédito provocará um aumento na taxa de juros, que deverá subir o bastante até o ponto em que a queda do investimento privado (crowding out) compense ou aumente a despesa pública. Se o governo incorrer em superávit, a sua demanda de crédito cai e cresce a disponibilidade de recursos para empréstimos ao setor privado, provocando a queda da taxa de juros e o aumento dos investimentos. Entretanto, na hipótese do déficit fiscal causar uma expansão monetária, o efeito expansionista da renda seria duradouro, já que o efeito positivo do gasto público não seria compensado pela redução do investimento e se sustentaria enquanto o estoque de moeda não for ajustado.

A Fed (Reserva Federal), o banco central norte-americano, teria cometido um grande erro durante a Grande Depressão, dos anos de 1930, por não ter promovido políticas de “estímulo” (grandes emissões de papel moeda podre), que são intrinsicamente inflacionárias. A deflação teria sido “de fato, uma testemunha trágica da importância das forças monetárias”; consistiria, basicamente, num fenômeno meramente monetário ocasionado pela falta de dinheiro circulante no mercado. Para evitar as crises capitalistas bastaria, supostamente, estabelecer uma “base monetária estável”.

Em resumo, toda essa “baboseira” intelectual pretende justificar que os problemas inerentes ao capitalismo seriam resolvidos por meio do controle do dinheiro circulante. Para impedir as crises bastaria acelerar a velocidade das máquinas que geram moeda podre, sem lastro produtivo. Na atualidade, a aplicação dessa política em larga escala, devido à falta de alternativas, está levando o capitalismo à hiperinflação com depressão econômica.


Inflação e monetarismo

Na matéria publicada no dia 7 de setembro de 1970, no jornal britânico Finantial Times, “A contrarrevolução da teoria monetária”, de autoria de Milton Friedman, foi escrito que “a inflação é sempre e em todo lugar um fenômeno monetário – no sentido de que é e pode ser produzido somente por um aumento mais rápido na quantidade de dinheiro que na saída”.

Sem considerar as leis do capitalismo, a alta da inflação, que é um fenômeno típico da época do imperialismo, poderia, supostamente, ser evitada simplesmente com intervenções monetárias. Da mesma maneira seriam evitadas as recessões e as crises.

Numa entrevista concedida no começo de 1999, Friedman declarou sobre a crise cambial brasileira: “Nem o câmbio fixo nem o flutuante resolvem os problemas fiscais internos. Não há soluções fáceis. O Brasil tem de pôr sua casa fiscal em ordem: ou corta fortemente os gastos governamentais ou aumenta fortemente a receita governamental. Não há outro caminho. Ah, tem outra saída: imprimir dinheiro. Mas isso levaria inevitavelmente à inflação. No caso do Brasil, a inflação voltou porque o governo não tem mais crédito para tomar emprestado, o necessário para cobrir o déficit. O déficit fiscal brasileiro é muito grande e isso tem de ser resolvido. Mexer no câmbio ou qualquer coisa parecida é apenas um paliativo”.

Conforme ficou muito claro nos últimos anos, o aprofundamento da crise capitalista conduz ao aumento da inflação e o aumento do endividamento público conduz inevitavelmente à hiperinflação. A impressão de dinheiro podre é uma política imposta pela incapacidade do capitalismo de fazer a economia se movimentar e tem como objetivo viabilizar certo crescimento que permita manter em pé a especulação financeira, o coração da economia capitalista parasitária, ao mesmo tempo em que repassa o peso da crise para os trabalhadores, corroindo o poder de compra.


Juros e monetarismo

Para Milton Firedman, os juros seriam um retorno sobre o capital, pois os arranjos tecnológicos gerariam produtos e os consumidores teriam preferências por consumir em diferentes datas futuras. O governo não deveria interferir nas taxas de juros pelas mesmas razões pelas quais ele não deve interferir nos salários.

Segundo a Escola Austríaca, o governo não deve interferir na taxa de juros de mercado, pois ela reflete o bônus subjetivo que os indivíduos atribuem a um bem presente em relação a um bem futuro.

Esses contos de fadas remetem aos economistas vulgares que nunca conseguiram explicar o lucro comercial, além de considerar o capital mercantil e o capital dinheiro como formas inerentes ao processo de produção que deveriam intermediar os processos produtivos eternamente. Na realidade, o capital dedicado especificamente ao comercio de mercadorias, no capitalismo, tem como objetivo acelerar a velocidade da rotação do capital, como um dos principais mecanismos de contrapeso para minimizar a lei de aumento da composição orgânica do capital (máquinas e automação industrial) imposto pela concorrência. O capital dinheiro também surge especificamente no modo capitalista de produção, forma que tem na base a circulação de mercadorias, que por sua vez funciona em cima da circulação de dinheiro.

Os economistas vulgares são a expressão teórica dos capitalistas pressionados pela concorrência do dia a dia e, no caso dos neoliberais, expressam o parasitismo das multinacionais imperialistas em relação ao Estado burguês como concentrador dos recursos da sociedade e da crise capitalista. A assustadora ignorância desses “economistas” se explica porque o objetivo não é explicar a realidade, mas manter o status quo.

“A indulgente boa vontade de descobrir no mundo burguês o melhor de todos os mundos possíveis troca, na economia vulgar, todas as exigências do amor à verdade e do impulso à investigação científica”. (Karl Marx, O Capital, Livro 3, Capítulo 49)

Os economistas vulgares sempre avaliaram a realidade de maneira muito supérflua. No caso dos neoliberais, a explicação da realidade pela aparência dos fatos é levada ao extremo. A ofensiva neoliberal empreendida a partir da década de 1974 colocou amplos setores da esquerda mundial na defensiva, levando à proliferação de todo tipo de teorias que levantaram tal ou qual aspecto específico do capitalismo para se postrar perante as benences da democracia imperialista. Mas, conforme explicou Marx, “toda ciência seria supérflua se a forma de manifestação e da essência das coisas coincidissem diretamente”.


Desregulamentação? Do que?

Este ponto é um dos mais importantes do parasitismo financeiro.

De acordo com a Escola de Chicago, o mercado oferece todos os bens de capital e de consumo necessários da maneira mais eficiente possível. O Estado deveria restringir-se a umas poucas operações, tais como a justiça, o dinheiro e a defesa, e para fiscalizar minimamente as "regras do jogo".

A Escola Austríaca apregoa que todos os setores, inclusive a justiça e a segurança, deveriam ser controlados por transações privadas, que seriam voluntárias entre os indivíduos e garantiriam a ordem na sociedade capitalista. O governo deveria limitar-se à proteção dos direitos básicos de cada cidadão da maneira mais enxuta possível.

Na entrevista concedida a Snowdon e Vane, em 1996, Friedman disse que o papel da política fiscal, como pontal da desregulamentação no contexto macroeconômico, deveria ser nulo, por não se tratar de “um instrumento efetivo para controlar os movimentos da economia no curto prazo”. A política monetária deveria ser priorizada sobre a política fiscal (impostos). A política keynesiana de incentivo ao déficit fiscal com o objetivo de estimular à economia, produz, como efeito negativo decorrente do financiamento do déficit, a eliminação do ganho possível com o gasto. Além disso, é mais difícil fazer alterações de curto prazo na política fiscal. Com intervenções na política monetária ficaria muito mais fácil manter as engrenagens da economia capitalista decadente funcionando, repassando o peso da crise para as massas trabalhadoras por meio da corroção do poder de compra.

O objetivo do neoliberalismo nunca foi, na prática, reduzir o tamanho do Estado, mas desmontar o chamado “estado de bem-estar social”, atacando a qualidade de vida dos trabalhadores devido à impossibilidade de mantê-los graças à falta de recursos. É justamente por meio do Estado burguês que a burguesia imperialista tem promovido as políticas neoliberais e ela sabe muito bem que o regime decadente somente se mantem se fortalecer a capacidade repressiva do Estado, ainda mais devido à falta de alternativas.


Das crises aos colapsos capitalistas

Segundo a Escola de Chicago, o fator determinante do crescimento econômico seria a relação equilibrada entre a demanda agregada e a oferta agregada. A função econômica do Estado burguês seria garantir o ambiente institucional por meio de uma série de medidas de apoio às multinacionais, tais como baixas taxas de juros e subsídios, e uma quantidade muito limitada de regulamentações.

A crise capitalista seria provocada pelas variações na oferta monetária que fazem com que o crescimento do PIB se desvie da tendência geral de longo prazo, gerando expansões econômicas inflacionárias e recessões. O desemprego é explicado pela defasagem no ajuste do nível dos salários dentro destes ciclos.

De acordo com a Escola Austríaca, o crescimento econômico virá a partir de contratos privados, concorrência nos mercados e instituições privadas que possibilitam investimentos e acumulação de capital. As trocas voluntárias e, supostamente, mutuamente benéficas entre os indivíduos permitem que os consumidores gastem uma parte da sua renda em bens e serviços, o que seria suficiente para estimular a produção. O planejamento futuro deveria ser feito a partir da análise da poupança dos consumidores. A expansão da oferta monetária reduziria artificialmente as taxas de juros, provocando uma acentuada elevação nos investimentos e nos gastos em consumo, o que incentivaria os capitalistas a investirem em longo prazo e aos consumidores a se endividarem mais. A partir daí aconteceria a “descoordenação” na economia. O próprio mercado mostraria assim os investimentos não lucrativos, que seriam liquidados, iniciando a recessão.

Ou seja, segundo os neoliberais o crescimento capitalista e as crises dependem do acerto de tal ou qual política. Artifícios “brilhantes” viabilizariam o funcionamento estável e em ascenso. Nada mais longe da realidade. A evolução da sociedade independe de “mentes brilhantes”.

Na verdade, o ciclo de crescimento econômico no capitalismo conduz às crises de superprodução devido ao processo de reprodução ampliada do capital, intrínseco ao sistema – os capitalistas são obrigados a reinvestirem uma parte dos lucros e a concorrência os leva a automatizar os processos industriais, ampliando a produção infinitamente. A principal contradição reside no método de apropriação privada dos resultados contraposto à socialização dos processos produtivos, o que representa o grande entrave para o desenvolvimento das forças produtivas. O capitalismo monopolista, o imperialismo, acirrou ao extremo todas as contradições próprias do sistema a partir do século passado.

As explicações dos neoliberais não contextualizam historicamente o desenvolvimento do capitalismo, pois para eles é o melhor dos mundos na terra, em qualquer época. A contenção da Grande Depressão dos anos de 1930 somente foi possível por meio da disparada dos gastos estatais e a destruição gigantesca das forças produtivas, que ocorreu na Segunda Guerra Mundial. A crise mundial de 1974 colocou uma lápide sobre as políticas keynesianas de investimentos estatais baseada nos setores mais parasitários da economia, principalmente no setor de armamentos, para manter o sistema funcionando. O que a propaganda imperialista apresenta como crescimento não passa de uma farsa e está muito longe do que poderia ser, além de somente beneficiar uma parcela extremamente pequena da população mundial. A partir do colapso capitalista de 2007/2008, a falta de crescimento e o aprofundamento da crise têm ficado mais do que evidente.

O núcleo da economia capitalista mundial é a especulação financeira, viabilizada em cima de recursos públicos. Os Estados burgueses bateram todos os recordes históricos de endividamento e a perspectiva é a continua piora. O mundo foi transformado num verdadeiro casino de apostas e contrapostas para que um punhado de especuladores que o controla possa continuar obtendo obscenas taxas de lucro.


Combate à recessão? Mais neoliberalismo

Segundo a Escola de Chicago, para combater a recessão, os bancos centrais deveriam estimular a economia, reduzindo as taxas de juros. Os Estados burgueses poderiam aumentar a demanda agregada por meio do aumento temporário dos gastos, mesmo que para isso tenham que incorrer em déficits orçamentários. Uma vez que a economia voltar ao normal, ambos deveriam reduzir a participação na economia ao mínimo.

Friedman e cia. sempre deixam aberta uma porta teórica para as intervenções estatais práticas na vida real. Basta analisar o que está acontecendo hoje, como produto da evolução das últimas décadas, para verificar que o tal neoliberalismo não passa de uma farsa. De fato, nunca houve tanta intervenção estatal. Nunca um percentual tão alto dos recursos da humanidade foi destinado a sustentar um percentual tão pequeno da população.

As elucubrações da Escola Austríaca são ainda mais articiais e provocam, no mínimo, um sorriso em qualquer ser pensante. Segundo estas teorias (ou melhor, “lixo” intelectual) a recessão apenas revela que aconteceram descoordenações e investimentos errôneos devido a uma política monetária expansionista. O real causador da recessão seria o sistema monetário. Tratando-se de uma fase essencial do ciclo econômico, os investimentos ruins seriam liquidados e os capitais migrariam para outros setores da economia. Portanto, o governo não deveria fazer nada para combater a recessão. As chamadas políticas contracíclicas, responsáveis por aumentar o déficit público, são contraproducentes e levam a prolongar a recessão. Nenhum especulador financeiro leva estes “economistas” a sério, pois o sistema financeiro como um todo, assim como todas as multinacionais imperialistas, parasitam em cima dos recursos públicos e sem eles a esmagadora maioria iria à bancarrota imediatamente.


Preservação do meio ambiente no capitalismo?

Conforme foi escrito explicitamente por Milton Friedman, no livro “Capitalismo e Liberdade” (1962), “a única responsabilidade de uma empresa é aumentar os seus lucros” para ela própria e para os acionistas; “quando as empresas se preocupam com a comunidade ao invés de focar-se nos lucros, isto conduz ao totalitarismo”. “Há uma e somente uma responsabilidade social para os negócios – usar os recursos e envolver-se em atividades previstas para aumentar os lucros [e demagogicamente adiciona] dentro das regras do jogo, o que significa, envolver-se na concorrência aberta e livre sem decepção ou fraude”. As questões ambientais devem ser resolvidas por meio de incentivos de mercado, sem afetar os lucros, por arbitragem estatal. A poluição pode ser minimizada por meio de um mercado para direitos de poluição, e estes direitos podem ser comercializados de modo que os custos da poluição recaiam sobre os poluidores – o mercado de crédito carbono funciona assim. Para evitar a depredação das terras públicas, bastaria aplicar preços mais altos – frase repetida várias vezes pela ruralista Katia Abreu.

Para a Escola Austríaca, as questões ambientais devem ser resolvidas com incentivos aos proprietários que, supostamente, se preocupariam com a produtividade em longo prazo.

As multinacionais imperialistas sempre têm buscado altas taxas de lucro a qualquer custo. A superexploração dos trabalhadores e a depredação do meio ambiente alcançaram níveis nunca antes imaginados. Essas teorias que têm se transformado em políticas em escala mundial devido ao aprofundamento da crise capitalista, são a única alternativa para conter a lei da queda da taxa de lucro no capitalismo, acentuada pelo aumento da recessão, e conduziram à maior depredação das forças produtivas da história da humanidade.


Contra os monopólios?

A Escola de Chicago é contra a regulação dos monopólios, pois traria mais malefícios do que benefícios, pois sempre acaba protegendo determinados concorrentes e não a concorrência em si. Os cartéis, na maioria das vezes, se formariam devido ao aumento das fatias de mercado porque os produtos são desejados pelos consumidores. Alguns produtos e serviços são, inclusive, de melhor qualidade quando fornecidos por monopólios, como justiça e defesa. A política do Estado deveria ser impedir a conspiração empresarial, o comportamento ostensivamente predatório de algumas empresas e assegurar um equilíbrio que leve à “genuína” concorrência.

De acordo com a Escola Austríaca, uma economia de mercado não necessita de nenhuma política antitruste, pois os monopólios somente se formariam em cima de privilégios concedidos pelo governo. Fora esta excessão, os preços monopolistas, supostamente, não poderiam ser mantidos por muito tempo, o que levaria os monopólios a desaparecerem.

A infantilidade dessas argumentações é assustadora justamente porque representam os interesses das multinacionais imperialistas. Os monopólios começaram a se formar da década de 1870 como produto da ação das próprias leis do capitalismo e alcançaram o ápice no século passado, com o imperialismo na sua fase superior, e última, do sistema capitalista. O imperialismo é a união do capital bancário com o capital industrial para formar o capital financeiro. Os estados burgueses são dominados pelos grandes monopólios que controlam, a sangue e fogo, o mercado mundial. As intervenções públicas, conforme ficou mais do que evidente nos últimos anos, têm como principal objetivo garantir os lucros parasitários a qualquer custo, mesmo à custa do enorme enfraquecimento do Estado burguês.


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