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O segredo dos lucros da especulação financeira

As principais praças financeiras, onde são emitidos os nefastos derivativos financeiros, são Wall Street, em Nova Iorque, e a Citi de Londres. Por cada transação, os grandes bancos recebem um percentual que oscila em torno aos 2,5%. Isso explica os enormes volumes movimentados. Mas para o capitalismo parasitário os lucros nunca são suficientes.

A manipulação dos índices tem sido um dos métodos recorrentes para acelerar os lucros. Um dos vários escândalos que estourou no último período foi o da manipulação da Taxa Líbor pelos principais bancos imperialistas. A Líbor é usada para indexar US$ 500 trilhões anuais em transações especulativas, principalmente em cima de CDS (Credit Default Swap), que são usados como uma espécie de seguro para as transações relacionadas com os títulos principais.

Recentemente, o maior broker (negociante) de IRSs (interest-rate swaps), o ICAP, com sede na Citi de Londres, passou a ser investigado pelo governo norte-americano por ter manipulado o ISDAfix (o índice usado mundialmente para calcular os IRS) junto com os 15 maiores bancos em escala mundial. O ISDAfix indexa US$ 379 trilhões em transações com apostas em intercâmbio de moedas. Simplesmente atrasando a publicação do índice, mas revelando-o antecipadamente a um grupo de especuladores, possibilitou lucros gigantescos.

Falar de mercado livre (free market), conforme é propagandeado pela imprensa imperialista está a um milhão de anos luz da realidade. O que existe é um controle obsceno dos principais recursos da sociedade pelo punhado de famílias de especuladores que domina o mundo. Toda a política mundial está orientada para manter o fluxo de recursos para esses parasitas. Nos Estados Unidos, os seis maiores bancos são proprietários de 60% do PIB.


Apostas, contra-apostas e colaterais

A especulação financeira acontece não somente com dinheiro para especular a compra e venda de títulos, mas também com montantes enormes para apostar em cima dessas transações. Tal é a essência do sistema financeiro atual, ultra parasitário.

Os gigantescos volumes de recursos repassados pelos governos são próprios, criados a partir do ar, sem lastro produtivo. O requerimento de colaterais supera os US$ 12 trilhões, segundo o TBAC.

A criação de colaterais não tem condições de ser viabilizada pelos monopólios, pelo setor privado, devido à economia ter entrado em recessão e os investimentos privados terem sumido do mapa. Por esse motivo, a “saída” tem sido os obscenos programas de transferência de recursos públicos, como os denominados QEs (Quantitative Easing ou alívio quantitativo). Os QEs viabilizam os colaterais enquanto os empréstimos ilimitados a taxas próximas a 0% (os chamados ZIRP – zero interest rate program) viabilizam a geração praticamente ilimitada de derivativos financeiros. Ilimitada até o abismo, obviamente.

A esmagadora maioria das grandes empresas está direcionada para a especulação financeira, com o foco de favorecer os grandes acionistas – repasse de dividendos, recompra de ações e outras transações especulativas a curto prazo. Os títulos financeiros gerados são de baixa qualidade e, por isso, não podem ser usados como colaterais HQC (de alta qualidade). O “estelionato”, que é próprio do estágio atual do capitalismo, passa pela compra desses títulos semipodres, pelos bancos centrais. Essa compra é realizada pelo valor cheio. Os governos os adicionam à falida corrente denominada “fractional reserve repo”, que não passa do acúmulo de títulos podres, transformando colaterais depreciados em dinheiro vivo para as grandes empresas. Um excelente negócio para os monopólios.

Para manter esses mecanismos funcionando, além das emissões de moeda podre, em cujas operações, os chamados primary dealers (compradores no atacado), abocanham grandes lucros, tem proliferado as operações “ilegais”, como as lavagens do dinheiro do tráfico de drogas e outros (inúmeros escândalos foram registrados nos últimos anos), a manipulação de índices, os paraísos fiscais, a aterradora depredação ambiental (gás e petróleo a partir do xisto pela fratura hidráulica, exploração no Ártico etc.) e a superexploração dos trabalhadores (queda acentuada da qualidade de vida em todos os países desenvolvidos, arrocho salarial, trabalho escravo etc.).


Qual é o impacto do “déficit” de colaterais sobre o sistema financeiro?

Em 2008, a quantidade de dinheiro podre (shadow money) no sistema bancário norte-americano foi estimada em US$ 21 trilhões. Hoje, a quantidade está estimada em mais US$ 35 trilhões, dos quais a metade não está suportada por colaterais. O déficit de mais de US$ 15 trilhões em colaterais levará à queima de um volume de capitais fictícios muito maiores que os de 2008, simplesmente considerando uma situação similar. O buraco teria que ser coberto pelo Estado. Mas como fazê-lo com os volumes de endividamento atuais?

A Reserva Federal norte-americana, assim como os demais bancos centrais, não podem inundar o mercado com a velocidade “necessária” sob o risco de provocar a disparada da inflação. O coração do sistema capitalista se direciona aceleradamente a “engripar”, da mesma maneira que aconteceu no início da década de 1930, quando ainda existia o padrão ouro, mas em condições mil vezes mais explosivas.


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