• Entrar
logo

Petrodólares na base da ditadura mundial do dólar

Atualmente, a grande maioria das transações relacionadas aos 86 milhões de barris de petróleo que são comercializados diariamente é feita em dólares. Isto significa que qualquer país precisará de dólares norte-americanos para comprar um barril de petróleo e, para obtê-los, precisará recorrer aos mercados de câmbio internacionais ou exportar os seus produtos aos Estados Unidos em troca da moeda local.

Os chamados “petrodólares” são os dólares norte-americanos recebidos pelos produtores de petróleo em troca da sua produção. Desta maneira, os Estados Unidos recebem um duplo empréstimo por cada transação dessa: aumentam a demanda mundial por dólares e títulos do Tesouro e podem imprimir sua moeda para comprar petróleo, fazendo com que os países exportadores, em geral, e produtores de petróleo fiquem com o ônus da dívida após terem recebido os dólares em papel moeda (uma espécie de dinheiro fantasma, sem lastro produtivo). 

Hoje, os Estados Unidos importam em torno de 1/10 da produção mundial de petróleo, e, por mais estranho que possa parecer, a principal exportação dos Estados Unidos é o dólar em papel moeda, cuja demanda é mantida alta, mas de maneira artificial, e permite custear os elevados gastos militares e o consumo de produtos baratos importados. Aproximadamente 70% da economia dos Estados Unidos gira em torno do chamado complexo militar industrial. 

Esta situação teve início na década de 1970, quando o sistema de conversibilidade do dólar ao ouro, definido em Bretton Woods, em 1944, colapsou. Os Estados Unidos começaram a produzir enormes déficits fiscais e o controle da inflação e do desemprego passaram a ser constante fonte de preocupação dos vários governos norte-americanos. Um dos principais mecanismos para manter o controle mundial foi o estabelecimento de uma estrutura financeira que mantivesse a necessidade de demanda pelo dólar, junto com a transferência do setor industrial para países onde fosse possível a exploração de mão de obra semiescrava, principalmente a China.  O Secretário de Estado norte-americano na época, Henry Kissinger, liderou uma série de reuniões secretas com a família real saudita que levaram ao acordo mediante o qual o imperialismo americano daria proteção militar à Arábia Saudita em troca da concordância sobre a precificação do petróleo em dólares e o investimento de uma parte dos lucros em títulos do Tesouro norte-americano. Kissinger chamou este sistema, posteriormente, de “reciclagem dos petrodólares”. Apesar da aparente simplicidade, trata-se de um sistema complexo e com múltiplas dependências e amarrações. Ele tem se tornado uns dos principais direcionadores da política do imperialismo norte-americano. 

Em 1975, todos os países produtores de petróleo associados à OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) aderiram a esse acordo. A presença militar do imperialismo americano se tornou intensa em quase todos os países do Golfo Pérsico: Bahrain, Iraque, Kuwait, Omã, Qatar, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Israel, Jordânia e Iêmen.


Impactos da quebra do sistema financeiro baseado nos petrodólares

O domínio imperialista mundial tem atingido níveis de parasitismo nunca vistos na história da humanidade. A partir de 1980, os Estados Unidos passaram do maior credor mundial ao maior devedor do mundo. O frágil equilíbrio da economia dos Estados Unidos requer o constante crescimento da emissão de papel moeda (dólar) e da demanda por títulos do Tesouro Norte-americano para cobrir os gigantescos déficits e manter a economia funcionando. 

Sem a constante demanda proveniente dos petrodólares, o sistema financeiro norte-americano colapsaria, os bancos centrais dos demais países não teriam razões para continuar comprando dólares e a necessária continuidade da impressão de papel moeda levaria a níveis de inflação estratosféricos. As taxas de juros aumentariam exponencialmente, e ajudariam a colapsar a já frágil economia dos Estados Unidos, aprofundando a crise imobiliária e congelando o consumo. 

Atualmente, dois terços do comercio mundial é feito em dólares, duas terceiras partes das reservas dos bancos centrais estão em dólares e os principais organismos internacionais, como FMI (Fundo Monetário Internacional), o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e o Banco Mundial, operam exclusivamente com a moeda norte-americana. 

Mas até onde este sistema poderá ser mantido? O dólar, que está sustentado em cima de dívidas, não poderá sobreviver a uma crise deste tipo, tal como tem acontecido com outras moedas sem lastro produtivo e crescimento declinante. A dívida pública dos Estados Unidos atingiu quase os US$ 20 trilhões de dólares. Com o aumento da taxa de juros, a expectativa é que aumentem os custos envolvidos nos serviços de pagamentos (juros e amortizações) pelos títulos do Tesouro. 61% dos títulos do Tesouro existentes no mercado vencerão nos próximos quatro anos, o que significa que haverá vencimentos de U$1 trilhão por ano, além de déficits adicionais de, no mínimo, U$1,5 trilhões por ano. 

Os principais possuidores de títulos do Tesouro dos Estados Unidos são: a Reserva Federal, a China (12%), o setor imobiliário, o Japão, governos estaduais e locais e os fundos privados de pensão. Considerando as dívidas das empresas americanas, atinge-se o valor aproximado de U$60 trilhões. As próprias agências (imperialistas) de avaliação de riscos começaram a degradar a dívida dos Estados Unidos. Várias declarações de autoridades importantes do governo foram dadas no sentido de total imediatismo e impossibilidade do imperialismo de enxergar soluções em longo prazo para minimizar a crise. 

Segundo o Banco Asiático de Desenvolvimento, a taxa de crescimento do dólar nas reservas dos países asiáticos deverá diminuir, no mínimo, de 30% a 40% nos próximos anos. 

Algumas movimentações concretas para a substituição dos petrodólares já têm sido vistas no mercado mundial. A primeira medida dos invasores imperialistas no Iraque, em 2003, foi a troca do euro para o dólar nas transações de petróleo, algo que já tinha sido introduzida em 2000, pelo governo de Saddam Hussein. Em 2002, a Coréia do Norte começou a usar o euro nas suas compras de petróleo; a Venezuela ameaçou seguir o mesmo caminho, em 2006. O aumento das contradições interimperialistas ficou evidente em todos os principais acontecimentos: a França e a Alemanha se opuseram fortemente à invasão do Iraque; há contradições importantes em relação às agressões aos países árabes para conter o avanço das revoluções etc. 

A Rússia começou a vender petróleo à China em rublos, em 2011. Há negociações em curso para que o fornecimento de gás russo para a Europa seja feito em cima de uma “cesta de moedas”. 

O forte aprofundamento da crise capitalista nos países centrais levará ao crescente aumento da mobilização dos trabalhadores e colocará a luta pelo socialismo na ordem do dia.


Topo