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Luta Negra nos Estados Unidos

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é um racista inveterado. Suas declarações polêmicas a respeito das pessoas negras repercutem em toda imprensa burguesa. A última ocorreu em uma reunião com integrantes dos partidos republicanos e democratas dos EUA para discutir as políticas de imigração e proteção de imigrantes de países em conflito, ou situação de extrema pobreza, como Haiti, Honduras, Iemem, Síria, etc. Trump afirmou: “por que devemos receber pessoas desses países de merda? Deveríamos abrir as portas para imigrantes noruegueses, eles, pelo menos, têm algo a contribuir com a gente”.

Não há como ser mais claro sobre o racismo do homem cuja posição política é a de maior poder no mundo capitalista. Assim como no Brasil, os Estados Unidos tem todo um histórico de racismo, iniciado na escravidão e corroborado por um processo abolicionista que não integrou o negro na sociedade. Porém, é inegável que os EUA têm uma lógica racista ainda mais aflorada do que a brasileira, visível no apartheid, regime segregacionista imposto pelo próprio Estado até a década de 1960 e o advento de organizações como a Ku Klux Klan, formada por pessoas que acreditavam na supremacia da raça branca perante as outras e caçavam negros, literalmente, cometendo homicídios bárbaros.

Naturalmente, toda ação gera uma reação. Diante de um racismo tão descarado e agressivo os negros estadunidenses buscaram se organizar politicamente para combater os supremacistas brancos e o próprio Estado que os perseguia, através da segregação racial. Esse amplo movimento ficou conhecido como a luta pelos direitos civis. O resultado foi que os negros alcançaram a promulgação da lei dos direitos civis, em 1964, e o direito a voto, em 1967, que garantiram igualdade jurídica sem discriminação estatal baseado por critérios raciais. Nesse contexto, destacou-se o Partido dos Panteras Negras e o líder defensor dos direitos dos negros Malcom X.


Panteras Negras

O Partido dos Panteras Negras para Autodefesa foi fundado em 1966. Baseado em preceitos políticos marxistas, esse partido tinha como um dos seus objetivos centrais armar a população negra para o enfrentamento contra a violência estatal.  Isto não era, contudo, o único foco do partido. Os dez pontos do seu programa visavam: a liberdade de autodeterminação dos negros; o fim do desemprego; fim da extração de mais-valia dos capitalistas brancos contra a comunidade negra; melhores habitações; acesso à educação; isenção de negros em relação ao serviço militar obrigatório; fim da brutalidade policial; libertação dos negros que estivessem presos; júri popular das comunidades negras caso haja a necessidade de levar negros à julgamento; e terra, pão, moradia, educação, roupas, justiça e paz.

Suas bandeiras não eram condicionadas às bandeiras da democracia burguesa. A luta pela educação, por exemplo, não era uma simples luta para estudar. Na verdade, os Panteras Negras queriam a construção de um sistema educacional que ensinasse a história de acordo com o ponto de vista dos negros, diferentemente da história contada pelos brancos, ou seja, um sistema educacional que ensinasse aos negros a história sobre seu próprio povo.

Para além da ação direta, buscavam também a conscientização da população, através da produção artística, em um movimento de valorização da cultura negra. Baseando-se nos preceitos marxistas, ocuparam posição de destaque na vanguarda da luta contra o racismo nos EUA, pretendendo implodir o capitalismo e implantar o socialismo. O FBI, inclusive, os tratava como uma grande ameaça à segurança interna estadunidense. Vários foram os embates entre os Panteras Negras e as forças policiais, que executavam uma repressão desmedida. Muito por isso, na década de 1980, o partido perdeu força progressivamente e acabou extinto, sendo que um dos seus líderes, Múmia Abu Jamal, encontra-se injustamente encarcerado, até hoje, pelo aparato repressivo norteamericano.


Malcom X

Malcom X nasceu em Omaha, em 1925. Sua infância ajuda a explicar os motivos pessoais para ele se tornar um ativista de tanto destaque: seu pai foi brutalmente assassinado por membros da Ku Klux Klan e sua casa incendiada. Ligado religiosamente ao islã, ele pregava o uso da violência, se necessário, para combater a segregação racial. Era, portanto, adepto da ação direta das massas. Teve grande importância na conversão e ativismo político negro de um dos maiores esportistas do século XX, Muhammad Ali.

É de Malcom X a celebre frase “não há capitalismo sem racismo”. Enxergando as bases materiais do racismo dentro do próprio capitalismo, ele chegou a falar que o homem branco estadunidense não era necessariamente racista, mas que o ambiente político, econômico e social dos Estados Unidos é que levaria a práxis racista dos brancos. Temido pela sua grande influência, que agregava multidões para seus discursos, foi assassinado em fevereiro de 1965.


Um exemplo a ser seguido

A extinção do Partido dos Panteras Negras e o homicídio de Malcom X não apagaram seus registros da história e muito menos impugnaram sua herança política. Nas décadas de 70 e 80, no Brasil, jogadores como Sócrates e Reinaldo comemoravam seus gols com o punho cerrado em riste, simbologia adotada pelos Panteras. Malcom X é sempre rememorado como uma das principais lideranças do movimento negro, e sua atuação política em muito condicionou a própria ação dos Panteras Negras.

O capitalismo, entretanto, não acabou. Logo, o racismo ainda é parte quotidiana da vida dos estadunidenses, o mesmo ocorrendo em outras partes do globo terrestre. As vitórias dos movimentos negros foram importantes, como a aprovação dos direitos civis, porém não acabaram com a lógica de organização vigente. Por isso, ainda vemos um presidente como Donald Trump falar tantos absurdos.

Novamente, há reação. A partir de setembro de 2017, os jogadores da liga de Futebol Americano dos Estados Unidos passaram a se ajoelhar durante a execução do hino nacional, como forma de protesto contra a execução de negros inocentes por policiais estadunidenses. Mesmo com a ira de Trump, ao afirmar que a liga deveria demitir todos os jogadores que realizassem tal ato, os protestos continuaram, mostrando a consciência sobre a necessidade de organização e ação do movimento negro.

Em diálogo ao que ocorre nos Estados Unidos, no Brasil estamos próximos a um pleito eleitoral em que o fascista Jair Bolsonaro, notoriamente racista, eleito é propagandeado. Aqui também há o assassinato, diário, de negros inocentes por parte das forças de repressão do Estado. Pobreza, prisão, fome e miséria tem a cor negra. Por todos esses motivos, é a ordem do dia a reorganização de um movimento negro socialista, que lute pelo fim das bases materiais do racismo. Nos lembremos dos Panteras Negras e da necessidade da ação direta. Nos lembremos da mais importante lição de Malcom X, de que não há capitalismo sem racismo. Embora lutar pelos direitos democráticos dos negros seja também importante, somente com a implosão do sistema capitalista é que uma real liberdade para o povo negro será possível.


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