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O Paraguai em Luta

Com mais de dois milhões e meio de mortos no mundo, a pandemia da Covid-19 parece um pesadelo interminável, uma vez que a vacinação em massa tem sido exclusividade das potências imperialistas. Os contínuos fechamentos e lockdowns agravaram a crise econômica, sobretudo nas nações subdesenvolvidas, em que a crise sanitária se dá em meio à aplicação de políticas neoliberais severas, que implicam na destruição das economias nacionais. Em suas crises, o capitalismo se autodestrói, produzindo uma devastação fundamentada na ideologia liberal, que prega a austeridade e o controle de gastos mesmo em meio à falência social. Por outro lado, o discurso liberal esconde que, nessas crises, o dinheiro público passa a ser canalizado para salvar os grandes capitalistas e garantir suas exorbitantes taxas de lucros. Não é de se espantar, portanto, que os trabalhadores  de diversos países estão exigindo uma mudança de rumo no sistema.  

No ano passado, o centro do império sofreu abalos dramáticos quando o assassinato de George Floyd pela polícia de Minneapolis despertou a fúria do povo estadunidense, sobretudo os negros e os mais marginalizados. Os chilenos estão em luta contra seu governo há anos e conquistaram com ela uma nova constituinte, ainda que controlada pelas forças da direita no país. Os trabalhadores da Índia promoveram greves gigantescas contra as táticas traiçoeiras do seu governo fascista. Nos últimos dias, os paraguaios se juntaram à longa lista de povos em luta, exigindo a renúncia do atual presidente, Abdo Benítez e do vice-presidente Hugo Velázquez do partido Honor Colorado, de tendência conservadora e neoliberal, devido à má condução no combate à pandemia. 

Como em muitos outros países, o sistema de saúde paraguaio entrou em colapso: seus hospitais não têm mais leitos disponíveis; materiais básicos como seringas e remédios acabaram ou estão em vias de acabar; as vacinas, vistas como a salvaguarda do capitalismo, não foram adequadamente compradas e a população não tem expectativa de ser vacinada no futuro próximo. Com cerca de 170 mil casos e de 3.300 óbitos, em uma população de sete milhões de habitantes, a situação é desesperadora, uma vez que as vacinas só foram aplicadas em uma pequena parte dos trabalhadores de saúde, após a chegada de 20.000 vacinas doadas pelo Chile e 4.000 doses da Sputnik V. Diante desse cenário, o povo paraguaio ocupou as ruas da capital Assunção por 6 dias consecutivos, exigindo o impeachment do presidente. Uma das denúncias que gerou os protestos é a do desvio das verbas destinadas à compra de vacinas, por meio de esquemas de corrupção. 

Apesar de insistir em culpar o relaxamento do povo pelo aumento dos casos, os protestos obrigaram Abdo Benítez a promover mudanças em seu governo. O Ministro da Saúde, Júlio Mazzoleni, que já havia renunciado devido ao descontentamento cada vez maior dos profissionais da área, foi substituído por Júlio Borba. Houve mudança também no Ministério da Educação, e o novo ministro, Juan Manuel Brunetti, disse à imprensa que avaliará, junto à Borba, a continuidade das aulas presenciais, reiniciadas nos primeiros dias deste mês.

A crise da pandemia do novo coronavírus escancarou a realidade característica do sistema capitalista em que a corrupção no poder público é essencial para manutenção dos benefícios individuais de uma casta de parasitas, em detrimento dos interesses coletivos. Os países imperialistas  sustentam  a sua corrupção por meio da  exploração  do terceiro mundo, cujos líderes são levados ao poder para, justamente, alimentar essa política que exige a superexploração dos trabalhadores e a entrega das riquezas nacionais.  Apenas com a derrubada do capitalismo por uma revolução social  tais injustiças poderão ser superadas. 

No Paraguai, o presidente “Marito” tem maioria no congresso, o que dificulta o processo de impeachment. Por isso, tanto lá, como no Brasil, em que a crise sanitária já se tornou uma ameaça global, a única forma de derrubar esses governos genocidas é por meio do levante organizado das massas, que pode se iniciar com greve gerais, que parem a produção e exija mudanças políticas drásticas. A revolta dos camaradas paraguaios mostra que os trabalhadores estão dispostos a defender suas vidas e seus direitos. Resta às lideranças das esquerdas nacionais e mundiais tomarem a frente na organização da verdadeira luta contra o sistema. 
 


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