De acordo com o Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE), foram Jorge Paulo Lemann e seus sócios que trabalharam pela privatização da Eletrobras, realizada pelo governo Bolsonaro (PL), no ano passado. Uma privatização feita no escuro, à toque de caixa e que entregou a estatal a preço de bananas para os abutres da iniciativa privada. É o grupo de Lemann que hoje dá as cartas na presidência da empresa. O CNE teme que o problema das Americanas e de várias outras fraudes já cometidas pelo mesmo grupo, seja detectado também na Eletrobras, responsável por um terço da energia elétrica produzida no país.
Segundo um informativo do CNE, o grupo 3G de Lemann colocou Elvira Presta como diretora financeira da Eletrobras, ainda no governo Temer, com o intuito de preparar a privatização. Quando o TCU, em maio de 2022, liberou a privatização da Eletrobrás, o único voto contrário foi do ministro Vital do Rego, que expôs as ilegalidades do processo adotado pelo governo Bolsonaro, entre elas, prejuízos de, no mínimo, R$ 40 bilhões ao País, além da perda de controle sobre a energia nuclear.
Como em todo processo de privatização de estatais, é a população que paga a conta, pois, no caso da Eletrobras ou empresas do seu sistema, quem as comprou vai poder vender a energia gerada pelo valor de mercado, estimado em cerca de três vezes o preço de custo, acrescidos da taxa de lucro, que é determinada pela própria empresa. Além do encarecimento da conta de luz, a Lei que garantiu a privatização da estatal está repleta de “jabutis” (a inserção de norma alheia ao tema principal em um Projeto de Lei) que atendem aos lobbies poderosos do setor como, por exemplo, a inserção de 8 mil MW em termelétricas a gás, um modelo poluente e desnecessário ao Brasil, no Sistema Interligado Nacional (SIN) entre os anos de 2026 e 2030.
Para o CNE, “o grupo 3G de Lemann é um sanguessuga de empresas. Compram empresas maduras, com mercado consolidado, cortam custos até o osso, aumentam margens de lucros às custas da competitividade até que as empresas quebrem. Mas aí os donos da 3G já multiplicaram muitas vezes seu baixo investimento".
O caso das Americanas comprova que a iniciativa privada não age por critérios da livre concorrência como atestam os hipócritas defensores do liberalismo. Trata-se sempre de buscar aumentar seus lucros a qualquer custo. A filantropia de Lemann, propagandeada em suas parcerias com a Educação Pública, por meio de Organizações Não Governamentais (ONGs), como a Todos Pela Educação, não passa de um disfarce para iniciativa privada abocanhar verbas públicas da educação, além de introduzir no currículo a ideologia liberal, da meritocracia e da resiliência ao mercado. A Fundação Lemann atuou fortemente, desde 2013, para a construção da Base Nacional Comum Curricular (BCNN).
A questão das privatizações das estatais está na ordem do dia. É preciso lutar pela reestatização da Eletrobras e das refinarias da Petrobras entregues à iniciativa privada, pela manutenção dos Correios públicos e em defesa da Educação Pública sem ingerência privada. As privatizações só favorecem tubarões bilionários e retiram da maior parte da população o direito a serviços essenciais com qualidade
Foto: Dado Galdieri/Bloomberg