Quando uma grande corporação rentista, como as organizações Globo, começa a criticar o modelo de Educação que ela, em parceria com outras empresas bilionárias, ajudou a construir, é preciso prestar muita atenção aos verdadeiros objetivos das críticas. O Novo Ensino Médio (NEM), imposto pela Reforma do Ensino Médio, implementada em 2016, pelo governo golpista de Michel Temer, é fruto da pressão do setor empresarial sobre o Ministério da Educação (MEC), e está embasada no aprofundamento dos mecanismos de privatização da educação pública e na imposição da visão hegemônica do mercado nos currículos escolares.
A reforma prevê que até 2024 as mudanças estejam implementadas em todo o país. No entanto, onde elas já estão avançadas, como em São Paulo, o modelo tem sido rejeitado não apenas por especialistas em educação, mas também pela comunidade escolar, especialmente os alunos do Ensino Médio, que percebem a defasagem de conhecimentos a que estão sendo submetidos. Professores também começam a compreender que a Reforma do Ensino Médio aprofundou a desvalorização profissional ao reduzir disciplinas e desmerecer a especialidade de cada docente. O NEM substitui habilidades cognitivas, que se referem a entender e aplicar conhecimentos, por habilidades sócioemocionais, que envolvem a capacidade de o aluno administrar as próprias emoções. No entanto, o bom desenvolvimento da criança e do jovem dependem da relação entre as duas e somente a educação escolar pode desenvolver as primeiras entre aqueles que estão alijados de direitos básicos como alimentação e moradia adequadas, por exemplo. Os docentes também são desvalorizados pela contratação de profissionais “notório saber” e pelo fato de que as mudanças, anunciadas como renovação para melhorar o Ensino Médio, não terem sido acompanhadas da criação de condições efetivas para um bom desempenho profissional, como valorização salarial, escolas com boa infraestrutura, jornadas adequadas.
As consequências intencionais da Reforma são a precarização do trabalho docente, a formação rasteira da juventude da escola pública, a exclusão escolar e, por isso mesmo, seu fracasso é inevitável uma vez que tal situação gera insatisfação na classe trabalhadora que viveu nos últimos anos uma investida violenta de governos conservadores contra seus direitos. Assim, diante da revolta contra a realidade imposta na educação pública, os empresários se unem para defender mudanças pontuais no projeto, sem tocar na sua essência: ampliar nas redes públicas o número de profissionais sem os direitos conquistados nas lutas históricas da categoria, rumo à contratação terceirizada, e transformar a juventude que consegue permanecer na escola após o Ensino Fundamental em trabalhadores subservientes à exploração do trabalho intermitente.
Escondendo que nasceram herdeiros de grandes fortunas, mantidas por meio de negociatas inescrupulosas no mercado financeiro, esses empresários bilionários sustentam fundações cujo trabalho é introduzir nos currículos dos filhos da classe trabalhadora as falácias da meritocracia e do empreendedorismo. A ideia central é a de que cada um tem que se virar por si mesmo, sem o Estado. Na prática, essa ideia seria válida somente para a classe trabalhadora, pois os bilionários se valem de todo tipo de parasitismo no Estado: isenções de impostos, ajudas nos processos fraudulentos de falências, parcerias, lucros com juros abusivos etc.
A sociedade organizada na luta em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade para todos apoiou a volta do presidente Lula ao poder para ter voz na construção de um modelo de educação que dê à juventude da escola pública a possibilidade de prosseguir os estudos em nível superior, de participar do desenvolvimento científico do país e de se inserir com boa capacitação no mercado de trabalho. O canto da sereia dos que se denominam grandes filantropos da educação não engana mais. É hora de organizar a luta pelo fim do NEM e por uma reforma educacional que leve em consideração os interesses da classe trabalhadora.
Foto: Agência Mural