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Plataformização é privatização

A partir desta segunda-feira, 13 de maio, os professores da rede estadual de São Paulo irão realizar protestos contra a plataformização da Educação, ou seja, o uso excessivo de plataformas digitais como metodologia de ensino. Alunos e professores já entenderam que essa prática prejudica as condições de aprendizagem, tornando as aulas cansativas e fazendo dos profissionais simples monitores de materiais feitos por outros, afetando, inclusive, a liberdade de cátedra. A ideia do protesto é que, durante a semana, as plataformas não sejam utilizadas e a comunidade seja conscientizada sobre os problemas que acompanham essa prática. 

Especialistas em Educação apontam vários problemas da plataformização. Um deles é a uniformização da atividade docente, que ignora as diferenças entre as crianças e os jovens de uma mesma sala ou de escolas em regiões com diferentes características. O mesmo material e a mesma avaliação (Prova Paulista) são aplicados a todos os alunos das escolas estaduais e isso despreza as condições em que cada um chega na escola, seus problemas individuais, dificuldades, necessidades e criatividade. 

Outro problema sério é a exigência do cumprimento de metas, que dependem da quantidade de uso das plataformas e do resultado de avaliações artificiais, como a Prova Paulista, sem levar em consideração a dinâmica das salas de aula, em geral superlotadas. Há cinco plataformas usadas para registro das atividades de gestão pedagógica da escola. O sistema BI - Escola Total é um indicador que apresenta os dados em tempo real, ou seja, o trabalho dos professores está monitorado pelos gestores para que o uso das plataformas seja cumprido, independente dos problemas enfrentados, como insuficiência de equipamentos, precariedade da tecnologia existente nas escolas, dificuldades dos alunos.

Para cumprir as metas, os professores devem abandonar suas metodologias próprias, adaptadas às realidades de cada turma, e projetar “slides” em telas. Há também um conjunto de atividades no formato de questões objetivas, que os estudantes recebem por um dos aplicativos como tarefa. 

É preciso avaliar o que está por trás dessa política ruim para a formação das crianças e jovens e a resposta está na privatização. No governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), a Secretaria de Educação (SEDUC) comandada pelo empresário paranaense Renato Feder, foi transformada em um balcão de negócios. Além do sistema BI, as escolas receberam este ano um pacote digital coordenado pelo Centro de Mídias (CMSP) com 11 plataformas digitais. Todas são operadas por corporações do setor privado, com contratos que destinam recursos públicos para essas empresas. Em agosto do ano passado, a empresa Alura, que fornece vídeo aulas e jogos digitais, foi contratada pelo valor de R$ 30,8 milhões, sem licitação. A ausência de transparência também já foi questionada pelo Ministério Público quando este abriu inquérito para investigar conflitos de interesses de Feder nos contratos da SEDUC com a empresa Multilaser, da qual ele é acionista. Essas verbas publicas que estão indo para os cofres de empresas milionárias possibilitariam a melhoria da infraestrutura das escolas e das condições de trabalho dos professores.  

De acordo com Nora Krawczyk e Marcia A. Jacomini, em artigo publicado no portal “Outras Palavras”, em abril deste ano, “este modelo de gestão privada da escola pública, chamada internacionalmente de escola-charter já existe em vários estados do Brasil e, também é o modelo das escolas cívico-militares. Foi implantado na ditadura de Pinochet (1973-1990), que acabou com o sistema público de ensino no Chile. Nos Estados Unidos, as escolas charter tiveram um crescimento considerável a partir da década de 1990”. Krawczyk e Jacomini também alertam que, em 2016, em entrevista publicada na revista Carta Capital, o pesquisador estadunidense, Dwight Holmes, denunciou a presença frequente de casos de corrupção, denúncias de segregação, interrupções da escolaridade das crianças e jovens causadas pelo fechamento intempestivo de escolas charter quando não dão certo ou quando as corporações resolveram investir em outras áreas. Em São Paulo, para fazer esse projeto de mercantilização parecer bom para a Educação, a SEDUC mascara resultados, como no caso do vazamento proposital da prova paulista referente ao primeiro bimestre de 2024. 

Trata-se de uma proposta fraudulenta em que professores seguem desvalorizados, a cada ano mais escravizados, e estudantes submetidos a permanecerem em escolas com ambientes precários enquanto verbas públicas milionárias, retiradas do suor da classe trabalhadora, que paga seus impostos, são despejadas nos cofres de grupos privados que não têm compromisso nenhum com a oferta de Educação de qualidade. 
 

Foto: Diego Vara/Reuters


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