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Despolitização da comunidade LGBTQIAPN+ e comercialização da identidade queer

A despolitização da comunidade LGBTQIAPN+ é um evento importante das últimas décadas. É perceptível a partir do fato que muitos indivíduos se declarem aliados e até mesmo construam carreiras com base nessa imagem sem, contudo, ser realmente um militante engajado nesta causa. A mudança na percepção pública da comunidade LGBTQIAPN+ e sua representação na mídia e cultura popular são reflexos dessa tendência.

A diluição da complexidade das questões que afetam a comunidade, em uma narrativa simplificada e frequentemente estereotipada, é uma das principais consequências dessa despolitização. A  representação simplista da variedade de experiências dentro da comunidade, torna a identidade queer um “produto” fácil de ser consumido pelas massas. Dessa forma, pessoas, empresas e figuras públicas enxergam a chance de aproveitar a aceitação superficial da comunidade LGBTQIAPN+ para obter lucro.

Intitular-se um aliado é, atualmente, como obter um “selo de aprovação” progressista. Nas indústrias de entretenimento, moda e mídia, a adesão à causa LGBTQIAPN+ é frequentemente vista como uma forma de demonstrar progressismo e defesa da inclusão. Personalidades, marcas e empresas notam que vincular sua imagem a essa causa pode resultar em uma reação favorável do público e, assim, expandir sua base de fãs ou clientes.

Frequentemente, pessoas e organizações utilizam o nome e símbolos LGBTQIAPN+ sem efetivamente apoiar aspectos fundamentais como direitos civis, bem-estar mental, igualdade no ambiente profissional e segurança. Não há, na verdade,  promoção de mudanças significativas em relação às dificuldades enfrentadas por alguns grupos da comunidade na sociedade. São práticas conhecidas como “pinkwashing” (lavagem rosa, tradução literal), que acontecem quando as marcas e empresas se aproximam do movimento LGBTQIA+ na época do mês do Orgulho, ou “rainbow capitalism” (capitalismo arco-iris, trad. lit.), relacionada ao envolvimento do capitalismo, do corporativismo e do consumismo na apropriação e no lucro do movimento. 

As vozes e necessidades das pessoas marginalizadas dentro da comunidade LGBTQIAPN+ podem ser obscurecidas pela ausência de uma pauta política que considere as necessidades concretas das  pessoas trans, pretas, com deficiência e em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Retratar a comunidade LGBTQIAPN+ de maneira homogeneizada e estereotipada, sem considerar o contexto político da sociedade de classes, em que os opressores se beneficiam da exclusão de grupos vulneráveis, leva à negligência e à minimização da diversidade de experiências e desafios enfrentados por seus membros.

O sistema capitalista se beneficia de todo tipo de segregação e opressão. Sendo assim, os aliados reais da causa LGBTQIAPN+ devem se comprometer com questões políticas e sociais importantes e dar  voz aos marginalizados no interior da comunidade. Apenas dessa maneira será possível progredir em direção a uma inclusão verdadeira e à igualdade para todos.

 

Foto: Mercedes Mehling/Unsplash


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