No último dia 19 de dezembro, foi realizada a cerimônia de posse do governador, senadores, deputados federais e estaduais eleitos por Minas Gerais. O ritual, no entanto, foi marcado por atos violentos de intransigência e autoritarismos unilaterais contra parlamentares petistas, numa cena pouco vista desde a redemocratização do Brasil.
A hostilização teve início quando a deputada federal eleita, Áurea Carolina, foi anunciada. Negra, mulher mais votada para a Câmara de Belo Horizonte nas eleições municipais, Áurea prestou homenagem à Marielle Franco em seu discurso de posse e foi agressivamente vaiada por isso. Em seguida, foi a vez da deputada estadual eleita pelo PT (a deputada mais votada pelo partido em todo o País) e ex-presidente da CUT mineira, Beatriz Cerqueira, ser hostilizada por parte do público, formado por apoiadores dos políticos do PSL, tendo, inclusive, uma placa de “Lula Livre” arrancada das mãos. Em nota, Beatriz Cerqueira afirmou que as manifestações agressivas não só não incomodaram o Cerimonial do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), como o próprio Cerimonial foi agressivo. “Após manifestações de parte do público presente para eu escondesse a placa que levava junto à bolsa onde estava escrito 'Lula Livre', a moça do Cerimonial (não sei o seu nome), pela segunda vez, me solicitou que retirasse a placa. Respondi que não faria. Ela me disse que meu comportamento estava tumultuando a cerimônia. Discordei. Eu estava apenas com a placa. Não tinha feito, até aquele momento, nenhum gesto com ela além de carregá-la comigo. Era a hostilidade de parte do público que estava atrapalhando, incapaz de conviver com pensamentos divergentes do seu. Após ouvir a opinião do deputado estadual que estava ao meu lado e que era favorável que a placa fosse retirada, ela arrancou a placa da minha mão e saiu. Seu comportamento foi aplaudido por parte do público. Li todas as orientações e recomendações para a cerimônia da diplomação. Eu fui pessoalmente ao Cerimonial do TRE buscar isso. Em nenhum lugar estava escrito que eu deveria esconder a minha identidade partidária, ideológica e de pensamento”, relatou a deputada eleita.
Ainda em nota, Beatriz enfatizou que a ação vista durante a cerimônia de posse dos eleitos é mais uma demonstração do Estado de exceção: “A exceção de Estado fica nítida quando um mestre de cerimônia toma partido, concorda com a opinião de convidados que gritavam na plateia e de outro deputado que estava sendo diplomado e se sentiu no direito de arrancar das mãos de uma deputada eleita, que também estava sendo diplomada, a sua identidade partidária”. A ex-presidente da CUT narrou que ouviu insultos, piadas e ironias durante toda a cerimônia e que tais ações não incomodaram os responsáveis pelo Cerimonial.
Não bastassem tais ataques, o episódio que marcou a diplomação do deputado federal, Rogério Correia, também do PT, foi ainda mais emblemático. Rogério foi agredido pelo deputado eleito pelo PSL, Cabo Junio Amaral, que tentou retirar a placa “Lula Livre” de suas mãos no palco. Rogério se defendeu e revidou ao ataque, mostrando que não iria se curvar diante da ofensiva fascista.
Em São Paulo, a violência foi protagonizada por Alexandre Frota
Em São Paulo, a cerimônia de diplomação também foi marcada por hostilizações e agressões promovidas por eleitos do PSL contra a esquerda. O tumulto começou quando Jesus dos Santos, integrante da bancada coletiva encabeçada pela deputada estadual eleita, Mônica Seixas, do PSOL, subiu ao palco no momento da diplomação e foi impedido por seguranças. Ele queria participar da foto com o documento. O ator pornô, eleito deputado federal, Alexandre Frota (PSL), foi quem iniciou a confusão e Jesus foi agarrado e puxado à força para fora do palco.
Segundo os relatos de Mônica, os integrantes da chapa coletiva tentaram subir ao palco apenas para sair no foto oficial, mas Jesus dos Santos, negro, foi o único barrado pelo segurança e por Frota. Sob insultos do tipo “seu preto”, “periferia”, “esse não é o seu lugar", o parlamentar foi agredido fisicamente por Frota. De acordo com nota de repúdio de seu partido, Mônica, “mulher negra, co-deputada eleita foi ignorada quando tentava ajudá-lo e impedida de retornar ao palco após a confusão”.
Resistir e derrotar o fascismo
Tais manifestações de violência e intolerância são apoiadas e incentivadas pela família Bolsonaro que alçou o poder para representar os interesses da extrema-direita. A população brasileira vivencia o aprofundamento do discurso de ódio, proferido há anos contra o PT, contra as minorias (movimento sem-terra, quilombolas etc.), além do já velho preconceito contra negros, mulheres e LGBT's. Tais discursos têm sido amplificado por Bolsonaro durante toda a sua vida pública. Em sua campanha, o presidente eleito falou abertamente contra esses setores, propôs acabar com os movimentos sociais e prometeu fuzilar militantes de esquerda.
As agressões contra os representes da esquerda, durante as cerimônias de posse, dão a tônica do que será o próximo período. Tais ações, em conjunto com o último episódio envolvendo a prisão do ex-presidente Lula, comprovam que a Constituição é letra morta no País e os apoiadores do futuro governo estão imbuídos da noção de impunidade, querendo mostrar seu poder através da força bruta.
Para resistir e derrotar o fascismo será fundamental a organização dos trabalhadores pelas bases. A repressão violenta contra o povo oprimido e contra todos os que lutam por justiça social será a regra. Somente a mobilização social terá força para combater os ataques.