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O Manifesto do Partido Comunista – 1ª Parte

Em comemoração aos 200 anos do nascimento de Karl Marx, pai do Socialismo Científico, apresentaremos ao leitor, em várias partes, sua importante obra, “O Manifesto do Partido Comunista”, que serve de norte a todo aquele que procura se preparar para entender e lutar contra o Estado de exceção que é o capitalismo e pelo fim da exploração expressa na sociedade de classes.

“Um espectro ronda a Europa – o espectro do comunismo. Todas as potências da velha Europa uniram-se numa santa caçada a esse espectro: o papa e o czar, Metternich e Guizot, radicais franceses e policiais alemães.

Qual partido de oposição não foi acusado de comunista por seus adversários no poder? Qual partido de oposição, por sua vez, não lançou contra os elementos mais avançados da oposição e contra os seus adversários reacionários a pecha infamante de comunismo?

Duas conclusões decorrem desse fato.

O comunismo já é reconhecido como potência por todas as potências europeias.

Já é tempo de os comunistas exporem abertamente, ao mundo inteiro, seu modo de ver, seus objetivos, suas tendências, opondo à lenda do espectro do comunismo um manifesto do próprio partido.

Com este fim, comunistas de várias nacionalidades reuniram-se em Londres e esboçaram o manifesto que se segue, a ser publicado em inglês, francês, alemão, italiano, flamengo e dinamarquês.


Burgueses e proletários¹


A história de toda sociedade até hoje² é a história de lutas de classes. 

Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestres³ e companheiros, numa palavra, opressores e oprimidos, sempre estiveram em constante oposição uns aos outros, envolvidos numa luta ininterrupta, ora disfarçada, ora aberta, que terminou sempre ou com uma transformação revolucionária de toda a sociedade, ou com o declínio comum das classes em luta.

Nas épocas anteriores da história encontramos quase por toda parte uma completa estruturação da sociedade em diversas ordens, uma múltipla gradação das posições sociais. Na Roma Antiga temos patrícios, guerreiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores feudais, vassalos, mestres, companheiros, aprendizes, servos; e, em quase todas essas classes, outras gradações particulares.

A moderna sociedade burguesa, surgida das ruínas da sociedade feudal, não eliminou os antagonismos entre as classes. Apenas estabeleceu novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta em lugar das antigas.

A nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se, entretanto, por ter simplificado os anta-gonismos de classe. A sociedade inteira vai-se dividindo cada vez mais em dois grandes cam-pos inimigos, em duas grandes classes diretamente opostas entre si: burguesia e proletariado.

Dos servos da Idade Média nasceram os moradores dos burgos das primeiras cidades; deles saíram os primeiros elementos da burguesia. 

A descoberta da América, a circunavegação da África, abriram um novo campo de ação à bur-guesia nascente. Os mercados das Índias Orientais e da China, a colonização da América, o intercâmbio com as colônias, o aumento dos meios de troca e das mercadorias em geral de-ram ao comércio, à navegação, à indústria, um impulso jamais conhecido antes e, em conse-quência, favoreceram o rápido desenvolvimento do elemento revolucionário na sociedade feudal em decomposição.

O modo de exploração feudal ou corporativo da indústria existente até então não mais atendia às necessidades que aumentavam com o crescimento dos novos mercados. A manufatura tomou o seu lugar. Os mestres-artesãos foram suplantados pelo estamento médio industrial; a divisão do trabalho entre as diversas corporações desapareceu diante da divisão do trabalho dentro de cada oficina.

Mas os mercados continuavam a crescer e continuavam a aumentar as necessidades. A própria manufatura tornou-se insuficiente. Em consequência, o vapor e a maquinaria re-volucionaram a produção industrial. O lugar da manufatura foi ocupado pela grande indústria moderna; o estamento médio industrial cedeu lugar aos industriais milionários, aos chefes de exércitos industriais inteiros, aos burgueses modernos. 

A grande indústria criou o mercado mundial, para o qual a descoberta da América preparou o terreno. O mercado mundial deu um imenso desenvolvimento ao comércio, à navegação, às comunicações por terra. Esse desenvolvimento, por sua vez, reagiu sobre a extensão da indústria; e na proporção em que a indústria, o comércio, a navegação, as ferrovias se estendiam, a burguesia também se desenvolvia, aumentava seus capitais e colocava num plano secundário todas as classes legadas pela Idade Média.

Vemos, portanto, como a própria burguesia moderna é o produto de um longo processo de desenvolvimento, de uma série de revoluções nos modos de produção e de troca.

Cada uma dessas etapas de desenvolvimento da burguesia foi acompanhada por um progresso político correspondente. Estamento oprimido sob o domínio dos senhores feudais, associações armadas e autônomas na comuna*, aqui república urbana independente, ali terceiro estado tributário da monarquia, depois, no período manufatureiro, contrapeso da nobreza na monarquia corporativa ou absoluta e, em geral, principal fundamento das grandes monarquias, a burguesia, com o estabelecimento da grande indústria e do mercado mundial, conquistou finalmente o domínio político exclusivo no Estado representativo moderno. O poder político do Estado moderno nada mais é do que um comitê para administrar os negócios comuns de toda a classe burguesa.

A burguesia desempenhou na história um papel extremamente revolucionário.

Onde quer que tenha chegado ao poder, a burguesia destruiu todas as relações feudais, patriarcais, idílicas. Dilacerou impiedosamente os variados laços feudais que ligavam o ser humano a seus superiores naturais, e não deixou subsistir entre homem e homem outro vínculo que não o interesse nu e cru, o insensível “pagamento em dinheiro”. Afogou nas águas gélidas do cálculo egoísta os sagrados frêmitos da exaltação religiosa, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca e no lugar das inúmeras liberdades já reconhecidas e duramente conquistadas colocou unicamente a liberdade de comércio sem escrúpulos. Numa palavra, no lugar da exploração mascarada por ilusões políticas e religiosas colocou a exploração aberta, despudorada, direta e árida.

A burguesia despojou de sua auréola todas as atividades até então consideradas dignas de veneração e respeito. Transformou em seus trabalhadores assalariados o médico, o jurista, o padre, o poeta, o homem de ciência. (...)”

¹ - Por burguesia entende-se a classe dos capitalistas modernos, que são proprietários dos meios de produção social e empregam trabalho assalariado. Por proletariado, a classe dos trabalhadores assalariados modernos, que, não tendo meios de produção próprios, são obrigados a vender sua força de trabalho para sobreviver.

² - Isto é, toda a história escrita. A pré-história, a organização social anterior à história escrita, era quase desconhe-cida em 1847.

³ - Isto é, membro de uma corporação com todos os seus direitos, mestre da mesma, e não seu dirigente.

*- “Comunas” – Chamavam-se as cidades nascentes na França, antes mesmo de terem arrancado de seus amos e senhores feudais a autonomia local e os direitos políticos como “terceiro estado”. De modo geral, tomou-se aqui a Inglaterra como país típico do desenvolvimento econômico da burguesia, e a França como país típico de seu desen-volvimento político.  // Esse era o nome dado pelos habitantes das cidades da Itália e da França às suas comunida-des urbanas, após terem comprado ou arrancado de seus senhores feudais os primeiros direitos a uma administra-ção autônoma.

Observação: Todas as notas acimas foram feitas por Engels à edição inglesa de 1888.


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