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O Manifesto do Partido Comunista – 7ª parte

O aprofundamento da crise capitalista e os atuais desdobramentos de repartição das neocolônias ao imperialis-mo são a prova cabal do acerto da análise de Karl Marx e Friedrich Engels expressa na brilhante obra “O Manifesto do Partido Comunista” que deve ser lida, debatida e difundida para toda a militância revolucionária socia-lista. Apresentamos aos leitores do Gazeta Operária a continuidade do seu II capítulo – Proletários e comunistas.
“Horrorizai-vos porque queremos abolir a propriedade privada. Mas em vossa atual sociedade a propriedade privada já está abolida para nove décimos de seus membros; ela existe precisamente porque não existe para esses nove décimos. Censurai-nos, portanto, por querermos abolir uma propriedade cuja condição necessária é a ausência de toda e qualquer propriedade para a imensa maioria da sociedade.
Numa palavra, censurai-nos por querermos abolir vossa propriedade. De fato, é exatamente isso o que queremos.
Desde o momento em que o trabalho não pode mais ser transformado em capital, dinheiro, renda da terra – em poucas palavras, numa potência social capaz de ser monopolizada -, isto é, desde o momento em que a propriedade pessoal não pode mais se transformar em propriedade burguesa, dizeis que o indivíduo está abolido.
Deveis, pois, confessar que por indivíduo entendeis unicamente o burguês, o proprietário burguês. E esse indivíduo, sem dúvida, deve ser abolido.
O comunismo não priva ninguém do poder de se apropriar dos produtos sociais; o que faz é eliminar o poder de subjugar o trabalho alheio por meio dessa apropriação.
Objeta-se ainda que com a abolição da propriedade privada toda a atividade cessaria e uma preguiça geral seria difundida.
Se assim fosse, a sociedade burguesa teria há muito tempo perecido de indolência, pois nela os que trabalham não ganham e os que ganham não trabalham. Toda a dúvida se reduz a essa tautologia: não haverá mais trabalho assalariado quando não mais houver capital.
Todas as objeções feitas ao modo comunista de produção e de apropriação dos produtos materiais têm sido feitas igualmente à produção e à apropriação dos produtos intelectuais. Como para o burguês o fim da propriedade de classe equivale ao fim da própria produção, o fim da cultura de classe é para ele idêntico ao fim da cultura em geral.
A cultura cuja perda o burguês tanto lastima é para a imensa maioria apenas um adestramento para agir como máquina.
Mas não discutais conosco aplicando à abolição da propriedade burguesa o padrão de vossas concepções bur-guesas de liberdade, cultura, direito, etc. Vossas próprias ideias são um produto das relações burguesas de produção e de propriedade, assim como vosso direito é apenas a vontade da vossa classe erigida em lei, vontade cujo conteúdo é determinado pelas condições materiais de existência da vossa classe.
Essa concepção interesseira, que vos leva a transformar em leis eternas da natureza e da razão as vossas relações de produção e de propriedade – relações históricas que desaparecem no curso da produção -, é por vós compartilhada com todas as classes dominantes já desaparecidas. O que compreendeis para a propriedade antiga, o que compreendeis para a propriedade feudal, já não podeis compreender para a propriedade burguesa.
Abolição da família! Até os mais radicais ficam indignados com esta infame intenção dos comunistas.
Sobre que fundamento repousa a família atual, a família burguesa? Sobre o capital, sobre o lucro privado. A família plenamente desenvolvida existe apenas para a burguesia; mas encontra seu complemento na ausência forçada de família entre os proletários e na prostituição pública.
A família do burguês cai naturalmente com a queda desse seu complemento, e ambos desaparecem com o desaparecimento do capital.
Censurai-nos por querer abolir a exploração das crianças por seus próprios pais? Confessamos esse crime.
Mas dizeis que abolimos as mais sublimes relações ao substituirmos a educação doméstica pela educação social.
E vossa educação, não é ela também determinada pela sociedade? Não é determinada pelas relações sociais nas quais educais vossos filhos, pela ingerência mais ou menos direta ou indireta da sociedade através das escolas, etc.? Os comunistas não inventaram a influência da sociedade sobre a educação; procuram apenas transformar o seu caráter, arrancando a educação da influência da classe dominante.
A fraseologia burguesa sobre a família e a educação, sobre os afetuosos vínculos entre criança e pais, torna-se tanto mais repugnante quanto mais a grande indústria rompe todos os laços familiares dos proletários e transforma suas crianças em simples artigos de comércio e em simples instrumentos de trabalho.
“Mas vós, comunistas, quereis introduzir a comunidade das mulheres”, grita-nos toda a burguesia em coro.
O burguês vê na própria esposa um simples instrumento de produção. Ouve dizer que os instrumentos de produção devem ser explorados em comum e só pode naturalmente pensar que o mesmo uso em comum atingirá também as mulheres.
Não suspeita que se trata precisamente de abolir a posição das mulheres como simples instrumentos de produção.
De resto, nada mais ridículo do que o horror ultramoralista que os nossos burgueses sentem pela pretensa comunidade oficial das mulheres entre os comunistas. Os comunistas não precisam introduzir a comunidade das mulheres; ela quase sempre existiu.
Nossos burgueses, não satisfeitos em ter à sua disposição as mulheres e as filhas de seus proletários, para não falar da prostituição oficial, têm o maior prazer em seduzir mutuamente suas recíprocas esposas.
O casamento burguês é, na realidade, a comunidade das mulheres casadas. Portanto, no máximo seria possível censurar os comunistas por desejarem substituir uma comunidade das mulheres hipocritamente dissimulada por outra comunidade franca e oficial. De resto, é evidente que com a abolição das atuais relações de produção desaparecerá também a comunidade das mulheres que deriva dessas relações, ou seja, a prostituição oficial e não oficial.
Além disso, os comunistas são censurados por querer suprimir a pátria, a nacionalidade.
Os operários não têm pátria. Não se lhes pode tomar aquilo que não têm. Como porém o proletariado deve, em primeiro lugar, conquistar a dominação política, elevar-se à condição de classe dirigente da nação, constituir-se ele mesmo em nação, ele é ainda nacional, embora de forma alguma no sentido que a burguesia atribui ao termo.
As separações e os antagonismos nacionais entre os povos desaparecem cada vez mais com o desenvolvimento da burguesia, com a liberdade de comércio, com o mercado mundial, com a uniformidade da produção industrial e com as condições de existência a ela correspondentes.
A dominação do proletariado fará com que desapareçam ainda mais. A ação unitária, pelo menos nos países civilizados, é uma das primeiras condições de sua emancipação.
Na medida em que é abolida a exploração de um indivíduo por outro, é abolida também a exploração de uma nação por outra.
Com o desaparecimento do antagonismo das classes no interior das nações, desaparece também a posição de hostilidade entre as nações".

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