Apresentamos ao leito a IV parte do texto “O Comunismo e a Família”, da militante bolchevique e dirigente soviética, Alexandra Kollontai, sobre a questão da mulher e da organização familiar no capitalismo e no Estado Comunista.
“A criação dos filhos no regime capitalista
O que restará da família quando desaparecerem todos estes afazeres do trabalho doméstico individual? Todavia, teremos que lutar com o problema dos filhos. Porém, no que se refere a esta questão, o Estado dos Trabalhadores acudirá em auxílio da família, substituindo-a, gradualmente, a Sociedade assumirá todas aquelas obrigações que antes recaíam sobre os pais.
Sob o regime capitalista, a instrução do filho deixou de ser uma obrigação dos pais. A criança aprende na escola. Quando a criança entra na idade escolar, os pais respiram mais livremente. Quando chega este momento, o desenvolvimento intelectual do filho deixa de ser um assunto de sua incumbência.
No entanto, com isso não terminam todas as obrigações da família com relação à criança. Continua existindo a obrigação de alimentar a criança, de calça-la, vesti-la, convertê-la em trabalhador direito e honesto para que, com o tempo, possa bastar a si próprio e ajudar seus pais quando estes chegarem à velhice.
Porém, o mais corrente era, no entanto, que a família operária não pudesse quase nunca cumprir inteiramente com estas obrigações a respeito de seus filhos. O reduzido salário do qual depende a família operária não permite nem sequer dar a seus filhos o suficiente para comer. O excessivo trabalho que pesa sobre os pais os impede de se dedicar à educação da jovem geração toda a atenção a que obriga este dever. Se dava por certo que a família se ocupava da criação dos filhos. Porém, o fazia na realidade? Mais justo seria dizer que é na rua onde se criam os filhos dos proletários. As crianças da classe trabalhadora desconhecem as satisfações da vida familiar, prazeres dos quais participamos nós com nossos pais.
Porém, além disso, é preciso considerar que o reduzido salário, a insegurança no trabalho e até a fome convertem frequentemente a criança de dez anos da classe trabalhadora em um operário independente. A partir deste momento, tão logo a criança (independente se é menino ou menina) começar a ganhar um salário, se considera a si mesmo dono de seu nariz, até o ponto que as palavras e os conselhos de seus pais deixam de causar a menor impressão, ou seja, se enfraquece a autoridade dos pais e termina a obediência.
A medida em que vão desaparecendo um a um os trabalhos domésticos da família, todas as obrigações de sustento e criação dos filhos são desempenhadas pela sociedade em lugar dos pais. Sob o sistema capitalista, os filhos da família proletária eram, com demasiada frequência, uma carga pesada e insustentável.
A criança e o Estado comunista
Neste aspecto, também acudirá a Sociedade Comunista em auxílio dos pais. Na Rússia Soviética se empreenderam, graças aos Comissariados de Educação Pública e Bem-estar Social, grandes avanços. Se pode dizer que neste aspecto foram feitas muitas coisas para facilitar a tarefa da família de criar e manter os filhos.
Já existem casas para as crianças lactantes, creches infantis, jardins de infância, colônias e lares para crianças, enfermarias e sanatórios para os enfermos ou frágeis, restaurantes, refeitórios gratuitos para aqueles em idade escolar, livros de estudo gratuitos, roupas de inverno e calçados para as crianças das instituições de ensino. Tudo isto não demonstra suficientemente que a criança já sai do marco estreito da família, passando o fardo de sua criação e educação dos pais para a coletividade?
Os cuidados dos pais com relação aos filhos podem ser classificados em três grupos: 1°, cuidados que as crianças requerem imprescindivelmente nos primeiros tempos de sua vida; 2°, os cuidados que supõe a criação da criança e 3°, os cuidados que necessita a educação da criança.
No que se refere à instrução das crianças, nas escolas primárias, institutos e universidades, já se converteu em uma obrigação do Estado, inclusive na sociedade capitalista.
Por outro lado, as ocupações da classe trabalhadora, as condições de vida, obrigavam, inclusive na sociedade capitalista, a criação de lugares recreativos, creches, asilos, etc. Quanto mais consciência tiver a classe trabalhadora de seus direitos, quanto melhor estiverem organizados em qualquer Estado específico, mais interesse terá a sociedade no problema de aliviar a família do cuidado dos filhos.
Porém, a sociedade burguesa tem meios de se distanciar bastante no que diz respeito a considerar os interesses da classe trabalhadora, e contribuindo muito mais à desintegração da família.
Os capitalistas sabem perfeitamente que o velho tipo de família, na qual a esposa é uma escrava e o homem é responsável pelo sustento e bem-estar da família, que uma família deste tipo é a melhor arma para afogar os esforços do proletariado para sua liberdade, para enfraquecer o espírito revolucionário do homem e da mulher proletários. A preocupação pelo que pode acontecer com sua família, priva o operário de toda sua firmeza, o obriga a transigir com o capital. O que farão os pais proletários quando seus filhos tiverem fome?
Contrariamente ao que ocorre na sociedade capitalista, que não foi capaz de transformar a educação da juventude em uma verdadeira função social, em uma obra do Estado, a Sociedade Comunista considerará como base real de suas leis e costumes como a primeira pedra do novo edifício, a educação social da geração nascente.
Não será a família do passado, mesquinha e estreita, com brigas entre os pais, com seus interesses exclusivistas para seus filhos, a que moldará o homem da sociedade do amanhã.
O homem novo, de nossa nova sociedade, será moldado pelas organizações socialistas, jardins infantis, residências, creches, etc., e muitas outras instituições deste tipo, nas quais a criança passará a maior parte do dia e nas quais educadores inteligentes as converterão em um comunista consciente da magnitude desta inviolável divisa: solidariedade, camaradagem, ajuda mútua e devoção à vida coletiva.
A subsistência da mãe assegurada
Vejamos agora, uma vez que não se precisa atender à criação e educação dos filhos, o que restará das obrigações da família com relação a seus filhos, particularmente depois que tenha sido aliviada a maior parte dos cuidados materiais que levam consigo o nascimento de um filho, ou seja, a exceção dos cuidados que requer a criança recém-nascida quando precisa da atenção de sua mãe, enquanto aprende a andar, agarrando-se à saia da mãe. Nisto também o Estado Comunista acode para ajudar a mãe trabalhadora. Já não existirá a mãe angustiada com um filhinho nos braços. O Estado dos Trabalhadores se encarregará da obrigação de assegurar a subsistência de todas as mães, sejam ou não legitimamente casadas, desde que amamentando seu filho; instalará casas de maternidade, organizará em todas as cidades e em todos os povoados creches e instituições semelhantes para que a mulher possa ser útil trabalhando para o Estado enquanto, ao mesmo tempo, cumpre su