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A política de Haddad é a de Chávez e Maduro?

Não. A política de Haddad é completamente diferente da política do governo bolivariano. A economia brasileira não se assemelha com a venezuelana; enquanto os venezuelanos têm de importar grande parte da sua comida e dos seus bens de consumo, o Brasil, em grande medida, se sustenta na questão alimentar. Isso sem falar que o nosso País tem uma produção muito mais diversificada do que a da Venezuela, tendo, além do petróleo, imensa exportação agropecuária, um setor industrial razoável, produção técnica e especializada na zona franca de Manaus, produção de ponta de produtos farmacêuticos etc. A situação, já de início, não pode ser comparada em termos iguais.

Sobre o que de fato Haddad prometeu em seu programa: abolir o teto de gastos; revogar a Reforma Trabalhista, suspender a privatização e recuperar o pré-sal, é preciso que se examine cada uma dessas propostas.


Sobre o teto de gastos

A argumentação do governo golpista para justificar o congelamento dos gastos públicos é a falsa comparação do Estado com a economia doméstica: se não temos dinheiro suficiente para pagar as contas, vamos cortar e conter gastos. Ocorre que o governo não é uma família ou uma empresa. Diferentemente do que se pode fazer em casa (que está limitado a quanto se recebe de salário ou de rendimento da empresa), o governo pode: 1. Cobrar as dívidas das empresas privadas e bancos; 2. Emitir títulos, que são comprados e que levantam caixa para financiar projetos, em troca de pagar dividendos para os donos dos títulos; 3. Taxar grandes fortunas e heranças de bilionários. O governo não tem de “fechar a torneira”; mas ao contrário, tem de financiar o crescimento nos mais diversos setores, inclusive na infraestrutura. Temos, por exemplo, o caso da expansão da malha ferroviária, que num primeiro momento traria elevados gastos, mas que é de suma importância. As empresas privadas não têm interesse em fazer esse tipo de investimento, pois não gera lucros imediatos que são muito atraentes para um investimento de capital massivo. Logo, esse tipo de projeto de infraestrutura só pode, em geral, ser custeado pelo governo.

Além disso, essa análise simplória do que deve e do que não deve ser privatizado não ataca o problema real, que é a retirada de investimentos governamentais, uma política que visa precarizar as empresas públicas para justificar um projeto privatista. Ao limitar o teto de gastos, o governo simplesmente abre as portas para a precarização e para a privatização.

Sobre a Reforma Trabalhista



A Reforma Trabalhista é apresentada como a grande solução para “aumentar a competitividade”. Ou seja, seria necessário diminuir salários e direitos trabalhistas para baratear os produtos, de modo que eles se tornem mais competitivos e possam ser exportados no mercado mundial. Porém, mesmo se o salário brasileiro fosse cortado em massa, ainda não seríamos capazes de competir com a China ou com a Índia, por exemplo, que possuem um custo da mão de obra quase que imbatíveis. Essa competição poderia ser eficaz talvez entre os países latinos, mas de todo o modo, o Brasil já possui uma economia mais pujante. Por outro lado, nosso mercado interno é forte, responsável por grande parte do PIB. Se cortarmos salários e benefícios é muito provável que as pessoas não tenham dinheiro para consumir para além do básico e o resultado será o esfriamento do consumo interno e uma paralisia ainda maior da economia.

Sobre a privatização

A privatização é similarmente apresentada como inevitável, pois seria mais eficiente, não teria problemas de corrupção etc. Trata-se, na verdade, de um falso bem. Isso porque a empresa privada tem um objetivo acima de tudo: lucrar. Ocorre que certos setores são pouco lucrativos e outros, em contrapartida, acabam por prejudicar demais setores da indústria ao gerar lucros – é o caso, por exemplo, da rede de transmissão da eletricidade. Se privatizarmos a produção de eletricidade, os donos da empresa terão de torná-la a mais lucrativa possível. Para tanto, irão cobrar a energia no seu valor mais alto. Mas se o preço da luz subir, o custo de produção de um carro, por exemplo, aumentará, pois levará em conta o custo mais elevado da luz – o que tornará o produto final, o carro, mais caro do que era antes. Não só isso. Para o cidadão comum, uma conta de luz mais cara significa menos dinheiro para gastar como outras coisas, o que diminuirá o consumo e esfriará ainda mais a economia.

Para além dos setores pouco lucrativos, o governo também tem que aumentar, e não diminuir, seus investimentos nos setores estratégicos da economia. Quando se vende o pré-sal, por exemplo, o governo brasileiro perde a oportunidade de ter uma importante fonte de renda, que não tornaria desnecessário, por exemplo, uma Reforma Trabalhista ou da Previdência, pois o Estado teria outras fontes de receita.

Sobre o pré-sal


Por fim, recuperar o pré-sal é imprescindível. A Venezuela conseguiu se sustentar com imensa pujança econômica apenas com os recursos gerados pelo petróleo. Se formos donos dessas imensas reservas, somadas à nossa eficácia econômica, isso aumentará consideravelmente a prosperidade do País. Com tanto petróleo e com a devida estrutura de refinamento, poderemos ter gasolina e diesel baratos sem ter de subsidiar e arcar com custos extras.

Resumindo: o PT não vai transformar o Brasil em uma Venezuela e nem poderia, mesmo que quisesse. As condições políticas e sociais são diferentes demais para que isso seja possível. Uma situação análoga somente seria possível se os EUA instaurassem sanções e todo o tipo de punições. Ainda assim, não seria culpa do PT (Haddad) e de seu projeto de governo, mas de um ataque feito por outras potências, do qual deveremos nos defender em busca de um País mais próspero.

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