O segundo turno da eleição presidencial brasileira, disputada entre Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL), ocorrerá no dia 28 de outubro. Por mais que seja uma eleição nacional, o pleito brasileiro tem repercussão internacional, pois se trata de uma das dez maiores economias mundiais, basta ver as flutuações do dólar, índices de confiabilidade de investimento, etc.
Como não poderia ser diferente, os dois planos de governo tratam sobre a questão das relações internacionais. No plano de governo “O Brasil Feliz de Novo”, de Fernando Haddad, a parte sobre relação internacional começa com o seguinte dizer: “A crise do capitalismo, que teve seu epicentro nos países desenvolvidos, tem causado profundo impacto negativo sobre o Brasil e sobre a América Latina. A resposta dos países centrais é, no plano interno, aprofundar os ataques contra os direitos políticos e sociais das classes trabalhadoras, e, no plano externo, aprofundar as agressões imperialistas contra a soberania nacional dos países economicamente mais frágeis e desencadear as guerras de pilhagem contra alguns países, especialmente os detentores de importantes reservas de petróleo”.
De fato, o mundo vive uma crise de superprodução de capital especulativo, em que os grandes capitalistas não conseguem extrair lucro da produção. A tática adotada, nesse tipo de circunstância, é a retirada de direitos da classe trabalhadora em âmbito global e o reforço das relações coloniais a que são submetidos os países do terceiro mundo. Não por acaso, tivemos golpes jurídicos parlamentares no Brasil, África do Sul e na Coreia do Sul.
Em seguida, o documento denuncia o governo Temer por ter virado as costas às importantes iniciativas tomadas pelos governos petistas anteriores, como as de cooperação sul-sul, incentivo ao comércio com a América Latina e o bloco econômico que congregava Brasil, África do Sul, China, Índia e Rússia, o BRIC’s. Acusa, corretamente, o governo Temer de ser adepto de uma política externa imperialista, promovida pelos Estados Unidos, de ações unilaterais que visam apenas o expansionismo da política estadunidense no mundo. Associa, de maneira acertada, a política externa de Temer com as formas que ocorreram no Brasil, em que a classe trabalhadora perdeu todos os seus direitos a partir da consolidação da Reforma Trabalhista.
O plano afirma, veementemente, que dará lugar às iniciativas econômicas que visem retirar o Brasil de uma lógica econômica que coloque o País apenas numa posição subalterna na divisão internacional do trabalho. No plano de governo de Haddad, a parte que trata sobre a soberania nacional, com cerca de sete páginas, ocupa um lugar importante, com propostas concretas para o fortalecimento econômico e político do Brasil.
O contraponto entreguista de Bolsonaro
Jair Bolsonaro, por sua vez, está promovendo um discurso tipicamente fascista, em que um nacionalismo exacerbado é a tónica de suas palavras de ordem. Em completa discordância com o discurso, seu programa de governo, “O Caminho da Prosperidade”, não tem partes em específico que tratam sobre a soberania nacional, estando suas perspectivas para relações internacionais do Brasil esparramadas de forma difusa no texto, afirmando que em âmbitos como educação e saúde seguirá o modelo de países imperialistas, como Estados Unidos e Israel. Raso como um pires, não explica, porém, como será feita essa reapropriação. Também não faz nenhum debate sobre o fato de que esses países só conseguem aplicar determinada política econômica a partir da exploração de outros países.
Contudo, é na parte econômica de seu projeto que fica mais claro como pretende agir no posicionamento do Brasil em relação ao mundo. As privatizações de empresas públicas, lógica do governo de Temer, é uma de suas principais propostas. Naturalmente, assim como foi no caso da venda de áreas do pré-sal, quem comprará as empresas públicas será o capital estrangeiro.
Em complemento a isso, o projeto econômico de Bolsonaro afirma que: “facilitar o comércio internacional é uma das maneiras mais efetivas de se promover o crescimento econômico de longo prazo. A evidência empírica é robusta: países mais abertos são também mais ricos. O Brasil é um dos países menos abertos ao comércio internacional, a consequência direta disso é nossa dificuldade em competirmos em segmentos de alta tecnologia. Do ponto de vista teórico, a dinamização do comércio internacional funciona como um choque tecnológico positivo no país, aumentando sua produtividade e incrementando seu crescimento econômico de longo prazo. Propomos, assim, a redução de muitas alíquotas de importação e das barreiras não-tarifárias, em paralelo com a constituição de novos acordos bilaterais internacionais”.
Essa análise está completamente equivocada. O que Bolsonaro chama de países “abertos ao mercado”, são nações extremamente desenvolvidas no sentido capitalista, que mantêm seu status a partir do momento em que se tornaram Estados rentistas, ou seja, países que sobrevivem da exploração do resto do mundo, o que não é o caso do Brasil. Aparecemos, ao contrário, como uma colônia a ser sugada. Além disso, abrir a economia nacional para a “livre competição” com o mercado internacional em um mundo dominado por oligopólios e trustes significa a entrada de empresas estrangeiras no País, que remetem seus lucros para os países de origem. Em outras palavras: o Brasil não “verá a cor desse dinheiro”.
As privatizações que Bolsonaro quer levar adiante seriam para compra por parte de capitalistas que vivem nos países mais desenvolvidos. Não existe livre competição, porque não existe igualdade de condições no mercado. Não dá para um “jovem empreendedor” abrir uma lanchonete e competir, em pé de igualdade, com uma empresa como a McDonald’s.
Chama a atenção que a palavra imperialismo não aparece nenhuma vez no plano de governo de Bolsonaro. Ao desconhecer a correlação de forças econômicas entre o Brasil e os países desenvolvidos, que tratam o terceiro mundo como colônia, o seu governo levaria o país à mesma bancarrota que ocorreu com a Argentina ultraliberal de Maurício Macri, cuja indústria nacional foi quebrada e sua moeda perdeu muito do seu valor devido as exorbitantes taxas de inflação.
O plano de governo da extrema-direita revela o quão cínica é a palavra de ordem “Brasil acima de tudo” Ora, a política externa de Bolsonaro aprofundará a situação do país em relação a uma posição subalterna na divisão internacional do trabalho, fortalecendo a dominação imperialista no País. Não é por acaso que o candidato, em comício à população brasileira que mora em Miami/EUA, em outubro de 2017, “bateu continência” à bandeira estadunidense. “Abrir as portas para os Estados Unidos entrar” será a dinâmica do seu governo na via política, caso seja eleito presidente do Brasil. Dito de outra forma, refletindo sua perspectiva política, seu slogan deveria ser “EUA acima de todos”.