O ano de 2018 foi marcado pela consolidação da ascensão da extrema-direita no mundo. No último período, foram eleitos como presidentes figuras como Donald Trump, nos Estados Unidos; Sebastian Piñera, no Chile; e Jair Bolsonaro, no Brasil. Isso diz respeito a crise capitalista, uma vez que a direita liberal moderada não vem conseguindo conter a queda da taxa de lucro dos grandes capitalistas. Assim, o capital financeiro viu como necessário colocar no poder figuras sem escrúpulos, cuja tarefa é retirar direitos da classe trabalhadora e, no caso dos países do terceiro mundo, para levar adiante uma política neoliberal de terra arrasada, privatizando as empresas públicas e colocando os países mais pobres numa condição ainda mais subserviente na divisão internacional do trabalho.
Exemplo bem recente dessa política foi a eleição do Vox, partido de extrema direita, a um lugar no parlamento na Andaluzia, região da Espanha, nas eleições realizadas no último dia 3 de dezembro. Dentro do mesmo movimento, temos China e Estados Unidos que estão à beira de uma nova guerra fria. Tais disputas se dão graças à política de enfrentamento de Donald Trump e pela tentativa de controle do mercado mundial entre os dois países. Em relação aos Estados Unidos, isso significa, também, pressionar suas neocolônias a ficarem ainda mais sob sua égide política.
Uma dessas pressões, com alto significado político, foi a nova Carta Magna de Cuba, aprovada em 22 de julho. Embora a nova Constituição reafirme “o caráter socialista” do sistema político cubano, ela também lança as bases para a existência de novos agentes econômicos na ilha, a partir do reconhecimento do papel do mercado mundial na economia cubana, a abertura ao investimento estrangeiro e, até mesmo, o estabelecimento de novas formas de propriedade, inclusive a privada. Isto é parte do resultado de um longo processo de pressão imperialista estadunidense, iniciado desde a Revolução Cubana, em 1959.
Outro sintoma desta pressão imperialista, no último período, é a chegada ao poder de vários presidentes, na América Latina, com propostas de extrema-direita, a exemplo de Jair Bolsonaro, no Brasil. No Chile, o conservador Sebastian Piñera subiu ao poder nas eleições realizadas em 2017 e vem levando adiante uma política de “ajustes” econômicos, com a real intenção de retirar direitos da classe trabalhadora. Com o mesmo desígnio e política, foram eleitos Maurício Macri, na Argentina, em 2015, e Ivan Duque, na Colômbia, em 2018. Essas eleições representam o processo final, pelo menos por hora, de governos com caráter de Frente Popular, como o de Cristina Kichner, na Argentina; Michelle Bachelet, no Chile; Rafael Correa, no Equador e Luiz Inácio Lula da Silva (e Dilma Rousseff), no Brasil. Com políticas reformistas e de conciliação de classes, esses governos serviram para conter a insatisfação popular contra as pautas neoliberais colocadas em prática na década de 1990. Duraram o mesmo tempo que dura o reformismo e a conciliação de classes na história do capitalismo: até a próxima crise. No caso atual, esse novo ciclo foi iniciado em 2008 e potencializada nos últimos anos. No continente, os governos com esse caráter que resistem, como o de Maduro, na Venezuela, enfrentam uma fenomenal pressão do imperialismo, tendo que lidar com crises de desabastecimento e inflação descontrolada.
Não é só na América Latina que vemos esse processo. Principal economia africana, a África do Sul assistiu um golpe de Estado no início de 2018, que depôs Jacob Zouma e alçou Cyril Ramaphosa ao poder. Desde então, as projeções do Produto Interno Bruto no País estão em queda e os juros bancários e inflação estão em alta. No Oriente Médio, Israel, cão de guarda estadunidense que busca defender os interesses imperialistas na região, principalmente no que diz respeito ao controle da exploração de petróleo, tem expandido sua atuação e massacrado, cada vez mais, os palestinos. Cerca de 230 manifestantes palestinos morreram só neste ano.
A resistência toma corpo
Em seu sentido dialético, quanto mais aumenta a pressão imperialista para conter a queda da taxa de lucro dos grandes burgueses, mais vão aumentando as ações de resistência. 2018 ficou marcado por grandes movimentos de mulheres na Argentina e no Brasil, no primeiro caso pela liberação do aborto legal, seguro e gratuito e, no segundo, pelas manifestações contra a eleição de Bolsonaro (#Elenão).
Na Colômbia, o governo de Ivan Duque sofreu uma vertiginosa queda de sua popularidade, passando de 54% de aprovação popular, em setembro, para 27%, em novembro. Em 28 de novembro, milhares de colombianos foram às ruas em 32 cidades do País para protestar contra o governo de Duque, num movimento unificado entre estudantes, sindicalistas da Central Única dos Trabalhadores da Colômbia, da Confederação Geral do Trabalho, pensionistas afetados pela Reforma da Previdência e movimentos indígenas e camponeses. Na Argentina, no último dia 30 de novembro, houveram também grandes manifestações contra a reunião do G20, em Buenos Aires. Com palavras de ordem como “Fora FMI” e mesmo “Fora Bolsonaro”, os argentinos tomaram as ruas da capital federal para protestar contra a ingerência imperialista no País.
Na Índia, mais de 50 mil manifestantes, principalmente os pequenos e médios agricultores, trabalhadores rurais sem-terra e líderes camponeses, moveram uma grande marcha, com duração entre 29 e 30 de novembro, que terminou no parlamento, localizado em Nova Déli. As manifestações eram movidas pela crise agrária, principalmente pela luta pela terra e por subsídios do governo para pequenos agricultores. Outra grande marcha que vem sendo realizada para lutar contra a crise é a que saiu da pequena cidade de San Pedro Sula, em Honduras, em 13 de outubro, com a intenção de cruzar a fronteira com os Estados Unidos.
Destes movimentos contra os ajustes, o que mais vem tendo destaque na imprensa burguesa é o protagonizado pelos “coletes amarelos”, na França. Com mais de 400 mil manifestantes, o movimento teve como “gatilho” o aumento no preço dos combustíveis. Porém, a França já era uma espécie de “panela de pressão” graças as ações de Emannuel Macron, que implantou uma série de ações para retirar os direitos trabalhistas. Assim, segundo Benjamin Cauchy, um dos porta-vozes do movimento, as manifestações buscam “uma melhor distribuição de riqueza e aumentos salariais. É sobre toda a ‘baguete’, e não migalhas”.
Acordos com a direita: todo cuidado é pouco
Essas ações dos trabalhadores por todo o mundo têm uma pauta justa e devem ser apoiadas. Porém, é necessário extremo cuidado com os acordos que serão feitos. Mesmo na França, num cenário que ainda está nebuloso, a extrema-direita vem tentando tomar a direção do movimento, nos mesmos moldes do ocorrido no Brasil, com as manifestações de 2013.
Também é necessário que os manifestantes não limitem suas ações na busca por um retorno a uma situação anterior, de conciliação de classes, de apego aos “fantasmas” do passado, mas na busca por ações que levem à quebra do sistema político-econômico capitalista. Afinal, a base de toda miséria e opressão é justamente a sanha imperialista que vem levando adiante as políticas de retirada de direitos dos trabalhadores. Que essas manifestações tomem o rumo de lutar pelo fim do capitalismo.