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Repercussão internacional com a eleição da extrema-direita no Brasil

As propostas de relações internacionais no plano de governo de Jair Bolsonaro (PSL) caminhavam no sentido de destruir as relações políticas com o chamado “Cone Sul” (países com eixo econômico parecido, que foram duramente espoliados pelo imperialismo ao longo de sua história, a maioria dos quais estando localizado abaixo da linha do Equador), e fortalecer as relações com os ditos países imperialistas, como Estados Unidos, países da Europa Ocidental e Israel. E o que vem acontecendo, na repercussão internacional de sua eleição, tem caminhado exatamente nesse sentido.

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, afirmou em sua conta nas redes sociais que deseja “aproximar ainda mais estas duas grandes nações e avançarmos no caminho da liberdade e prosperidade”. Traduzindo para o bom português, significa que o líder estadunidense espera que o Brasil abra ainda mais suas portas para os EUA e se torne ainda mais capacho do imperialismo, que já dita os rumos políticos e econômicos do Brasil.

A União Europeia, através de sua comissão de comunicação, afirmou por meio de sua porta-voz, Natasha Bertaud, que espera intensificar as relações econômicas com o Brasil, mesmo que o Mercosul não faça parte do programa de Bolsonaro. Ou seja, sinaliza que para os europeus seria positivo um comércio com o Brasil desgarrado do bloco econômico da América do Sul.

De acordo com uma matéria publicada pelo jornal O Globo, em 30 de outubro, Bolsonaro dá indícios que irá buscar aproximações diplomáticas com líderes de extrema-direita mundiais. Segundo a reportagem, “os primeiros chefes de Estado que ele escolheu visitar são líderes de direita: os presidentes chileno e americano, Sebastián Piñera e Donald Trump, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu”. A agenda diplomática de Bolsonaro mostra seu interesse em aproximar-se principalmente de candidatos de sua visão político-ideológica, demonstrando que todo o discurso no qual afirmava que sua política externa não seria condicionada pelo que ele chama de “viés ideológico do PT”, não passa de “conversa fiada”.  Não há qualquer isenção de viés ideológico nas suas relações internacionais.

 

Fim do Mercosul?

 

Apontado como uma espécie de “superministro” do próximo governo, Paulo Guedes causou um grande mal-estar em entrevista proferida no dia 28 de outubro. Em sua fala à correspondente do jornal Clarin, da Argentina, ao ser perguntado se o Mercosul seria desmontado, Guedes afirmou: “O Mercosul não é prioridade. Não, não é prioridade. 'Tá' certo? É isso que você quer ouvir? Queria ouvir isso? Você 'tá' vendo que tem um estilo que combina com o do presidente, né? Porque a gente fala a verdade, a gente não 'tá' preocupado em agradar”.

Cabe ressaltar que o Mercosul é um bloco econômico, fundado em 1991, cuja intenção é promover a cooperação econômica entre os países membros, na América do Sul. A partir do tratado, tarifas de exportação e importação entre os membros são menores e o bloco negocia comercialmente em conjunto com o resto do mundo, estabelecendo assim uma maior concorrência e poder de barganha no mercado mundial. Sendo o Brasil o país mais rico do bloco, ele assumiu a função de liderança.

Na entrevista, além de demonstrar seu total despreparo e falta do mínimo de educação que se espera de um ministro de tal calibre, a fala de Paulo Guedes não deixa dúvidas sobre qual é a perspectiva do governo de Jair Bolsonaro para as relações internacionais brasileiras. Longe de procurar qualquer proposta que vise retirar a economia e a política brasileira de uma égide econômica imperialista, a intenção será reforçar os laços de dependência com os países mais ricos. Nesse sentido, não há nada de “patriota” em tais relações, de “Brasil acima de tudo”, pelo contrário, é a entrega pura e simples do Brasil aos abutres internacionais.

Como era de se esperar, tal declaração causou repercussão negativa entre os países do bloco. Enquanto o ex-embaixador argentino no Brasil, Juan Pablo Lohlé, disse que as palavras de Guedes geram “preocupação e surpresa”, uma vez que sua economia internacional é em muito baseada em trocas com o Brasil, o ex-embaixador uruguaio, Sérgio Abreu, afirmou que “quando Guedes diz que o Brasil sairá ao mundo, então acabou a relação econômica que temos atualmente de negociar em conjunto”.

A mesma perspectiva pode ser aplicada ao BRICS, bloco econômico formado por Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul. Embora o governo chinês, através do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lu Kang, tenha dito que espera “que os dois países (China e Brasil) fortaleçam a cooperação dentro dos BRICS e a cooperação multilateral, servindo ao interesse comum dos países em desenvolvimento e os mercados emergentes”, e o presidente russo, Vladmir Putin, também tenha manifestado essa confiança, os sinais dados por Bolsonaro durante sua campanha foram negativos.

Em fevereiro, Bolsonaro visitou Taiwan, uma quebra diplomática com a China, que considera a ilha apenas como uma província renegada, mas que ainda faz parte do país. Além disso, durante a campanha, o próximo presidente brasileiro também deu a entender que se afastaria do BRICS em troca de parcerias com a União Europeia, Estados Unidos e Israel, além de ter prometido que abandonaria tratados internacionais, como o Acordo de Paris contra a Mudança Climática, tal como fez Donald Trump quando eleito.

Restará saber se a força política de Bolsonaro será suficiente para promover tal mudança de eixo. Uma coisa é os Estados Unidos, maior economia mundial, entrar em guerra comercial contra a China. Outra, completamente diferente, seria o Brasil, que não tem condições de competir no mercado com o gigante asiático, que hoje é seu principal parceiro comercial. De acordo com dados do Banco Central Brasileiro, o comércio bilateral entre os dois países alcançou a marca de US$ 74,8 bilhões.

 

Possibilidade de ação militar na Venezuela

 

Como se percebe, a política externa de Jair Bolsonaro caminha no sentido de transformar o Brasil em uma extensão das fazendas europeias e estadunidenses, sem nenhuma autonomia econômica. Não há interesse de se desgarrar da política colonial do imperialismo, que colocou o país nas piores posições possíveis na divisão internacional do trabalho.

Para além de colocar o Brasil como um “capacho econômico”, não surpreenderia se, com essa política externa, os Estados Unidos faça do principal país da América Latina um capacho militar, tal como fez com Israel, no Oriente Médio. Caminha nesse sentido a declaração dada pelo General Mourão à BBC News, ao ser perguntado como agiria se o Brasil fosse escalado em uma possível intervenção na Venezuela: “Sim. Pela posição que o Brasil ocupa aqui na América do Sul, pela importância que nós temos, pela vizinhança com a própria Venezuela, qualquer problema que esteja atingindo a Venezuela respinga aqui no nosso país. Então, tudo que pudermos fazer para buscar uma solução que pacifique a Venezuela, que ela volte a entrar no rumo de um sistema democrático como nós entendemos, acho que a gente tem que participar”.

Essa resposta esclarece que se os Estados Unidos financiar, não haverá grandes impedimentos para que o Brasil entre em conflito contra a Venezuela. E assim como Israel, não é nenhum princípio democrático que guiará a ação, e sim o interesse no petróleo venezuelano.

Entreguismo e perspectivas de filiar o País ainda mais ao imperialismo, tanto econômica quanto politicamente. De quebra, ainda colocar o Brasil em uma guerra que nada tem de interesse para a classe trabalhadora brasileira. É isso que podemos esperar de uma política externa do governo Bolsonaro.

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