A Copa do Mundo encerrou-se no último dia 15 de julho, com a vitória da Seleção francesa (composta por ampla maioria de atletas negros, africanos) por 4x2 sobre a Croácia, mas apesar disso, não foi o brilho do futebol que foi destaque no evento. Inúmeros casos de racismo, machismo e xenofobia foram noticiados durante a Copa, aquela que seria uma das maiores expressões de um esporte que deveria ser voltado para a classe trabalhadora.
Começando pela Rússia, sede da Copa, onde a deputada Tamara Pletnyova pediu para que as mulheres russas não fizessem sexo com os turistas para evitar filhos de pais africanos, latinos ou asiáticos, numa clara política de “preservação” da raça. Casos como esses não são incomuns em países europeus. O lateral da seleção inglesa, Danny Rose, negro, pediu a sua família que não comparecesse aos jogos por medo de ataques racistas.
Antes do Mundial, em 2016, a FIFA criou uma força tarefa para cuidar do problema de racismo na Rússia. No mesmo ano, o grupo foi desmanchado. Semanas depois do desmantelamento, uma banana foi atirada em campo, no país da Copa. A fruta permaneceu intocada por 15 minutos antes de ser removida. Ainda assim, a FIFA considerou que o serviço estava feito e que não havia necessidade de reestruturar a força tarefa.
O presidente da Fifa, Gianni Infantino, disse que a entidade seria “muito, muito firme” no combate ao racismo durante o Mundial. Os árbitros selecionados para trabalhar na competição receberam um treinamento especial sobre como agir no caso de ouvirem cantos ou insultos racistas dirigidos a algum jogador e que em cada partida haveria três “observadores anti-discriminação” que teriam de relatar ocorrências relacionadas ao assunto e estabelecer multas para os países cujas torcidas entoassem cantos racistas. Num dos amistosos entre França e Rússia, a torcida russa chamou o jogador Francês, Pogba, de macaco. A atitude da FIFA? Uma multa irrisória de 106 mil euros por ser “um pequeno grupo”, e só. A “forte” política antirracismo da FIFA foi entregar uma credencial para todas as pessoas que foram aos estádios da Copa, onde estava escrito uma pequena frase: “Say no to racism”, traduzindo, “diga não ao racismo”.
O técnico de Senegal, Aliou Cissé, ex-jogador que defendeu times na França, Inglaterra e jogou duas Copas do Mundo pela Seleção senegalesa é um dos maiores exemplos do racismo estrutural da Copa. Além de ser o único técnico negro da competição, ele tem o menor salário entre todos os treinadores: enquanto recebe 200 mil euros por ano, o treinador do Brasil, Tite, embolsa a quantia de 15,6 milhões de euros.
“País do futebol” também decepciona
Os casos de racismo infelizmente não ocorreram apenas na Rússia. Após a eliminação da seleção canarinho, muitas pessoas foram às redes sociais dos jogadores para execrá-los. O jogador Fernandinho, autor do gol contra que colocou a Bélgica em vantagem, teve uma enxurrada de comentários racistas postados em sua rede social, ofendendo inclusive sua família. O jogador Gabriel Jesus, que teve atuações medianas, também foi chamado de macaco e “preto inútil” por internautas. Neymar Jr., ídolo brasileiro, foi duramente criticado pela imprensa imperialista europeia com xingamentos xenofóbicos.
Não é a primeira vez que vemos casos de racismo contra jogadores de futebol no Brasil. Casos como o que envolveu torcedores do Grêmio, que chamaram o goleiro Aranha, do Santos, de “macaco”, ou as bananas que são jogadas em campo contra jogadores negros são apenas alguns exemplos do mal caráter de torcedores racistas, que se escondem por trás das multidões. O futebol, que deveria ser um dos aspectos culturais de integração dos trabalhadores, foi amplamente cooptado pelos interesses burgueses e um mercado financeiro, se tornando palco da reprodução desses ataques. No entanto, não adianta tentar coibir o racismo estrutural da sociedade com multas e “caça às bruxas”. O racismo sempre existiu no futebol e enquanto esse for uma máquina de reprodução de valores capitalistas, o racismo irá perdurar. Afinal, a base material do racismo existe apenas no capitalismo.
Assim como os proletários de todo o mundo não têm pátria e nem cor, o futebol também não deve ter.