Na penúltima semana de agosto, a gasolina saiu das refinarias da Petrobras com o maior preço médio desde a greve dos caminhoneiros, ocorrida em maio deste ano e, no último dia do mês, o preço do diesel sofreu sua primeira elevação. Neste período, o dólar fechou a R$ 4,12, patamar mais alto dos últimos dois anos, o que se estendeu para a gasolina, que considera a cotação do petróleo no mercado internacional. Isso indica que os preços dos produtos da cesta básica continuarão a subir nos próximos meses. A justificativa dada pelos economistas a serviço do mercado financeiro para a alta da moeda americana é que os investidores estão antecipando as consequências da eleição deste ano. Na verdade, os investidores estão pressionando para que o resultado das eleições seja favorável aos seus lucros, ou seja, que seja eleito alguém capaz de ampliar os ajustes fiscais que permitirão a superexploração dos trabalhadores, as privatizações e a entrega das riquezas nacionais.
A greve dos caminhoneiros provocou a demissão do presidente da Petrobras, Pedro Parente, que implementou essa política de basear o valor do barril do petróleo no mercado internacional. Porém, após sua saída, a política continua a mesma, ou seja, visando atender aos interesses das grandes corporações petrolíferas estrangeiras. O valor do diesel, combustível mais consumido do País, atingiu patamares recordes pouco antes das manifestações dos caminhoneiros. Agora ele está congelado nas refinarias desde julho, por conta de um subsídio do governo, dado como parte dos acordos para acabar com a paralisação, ele teve sua primeira elevação no dia 31 de agosto quando a Petrobras anunciou o reajuste de 13% no seu preço médio praticado pela estatal nas refinarias. Praticamente destruído pela grande repercussão popular que teve a greve, o governo de Michel Temer prometeu dar um desconto de R$ 0,46 no litro do diesel por dois meses, período em que os preços cobrados pela Petrobras nas refinarias seriam congelados. Após esse prazo, os reajustes seriam feitos a cada 30 dias. Para o consumidor final, o preço foi reduzido R$ 0,211, em média. Vencido esse prazo, os reajustes passam a ser feitos a cada 30 dias.
Esquerda perdeu a chance de pautar a greve dos caminhoneiros a favor da classe trabalhadora
A imensa repercussão da greve dos caminhoneiros jogou o governo Temer nas cordas. A crise foi irreversível e afetou tanto a economia quanto a política eleitoral deste ano. Ao reivindicar a redução do preço dos combustíveis, os caminhoneiros possibilitaram a todos os trabalhadores expressarem sua insatisfação com a situação econômica do país. A CUT, Central Única dos Trabalhadores, deixou passar a chance de convocar, naquele momento, uma Greve Geral nacional, cujo impulso tinha sido dado pelos caminhoneiros. A burocracia que atua no sindicato dos petroleiros esperou a greve no setor de transportes acabar para mobilizar sua categoria. Ou seja, as burocracias que estão à frente das organizações dos trabalhadores têm atuado como força de contenção das verdadeiras lutas, que podem convulsionar o país e não deixar “pedra sobre pedra” nas atuais forças políticas que sustentam a farsa da democracia burguesa, onde uma ínfima minoria tem poder sobre a maioria.
As mobilizações de maio nas estradas explicitaram a fragilidade do governo ilegítimo, que chegou ao poder para atender aos interesses das corporações imperialistas. As reivindicações em torno do preço dos combustíveis colocaram em xeque a política golpista de entregar as riquezas nacionais às empresas estrangeiras. Ao se esquivar de fazer a agitação entre a população sobre as raízes do problema inflacionário e do seu empobrecimento, que estão fincadas nas políticas entreguistas, os partidos de esquerda e as entidades de luta deixaram passar a chance de colocar na boca do povo as palavras de ordem capazes de elevar a consciência das massas acerca da base material da crise política do País, sendo a defesa da Petrobras e de todas as estatais como patrimônio do povo brasileiro a principal delas.
O impacto causado pela greve poderia ter posto a “pá de cal” sobre o falso argumento de que a Operação Lava Jato teria como função acabar com a corrupção e restabelecer os lucros da Petrobras. Na verdade, enquanto o pastor-promotor, Deltan Dalagnol, encenava a comemoração sobre a devolução de R$ 1 bilhão aos cofres da Petrobras, como consequência da Lava Jato, o governo Temer entregava, por míseros R$3,15 bilhões, o pré-sal nas bacias de Dois Irmãos, Três Marias e Uirapuru, de onde a Petrobras vai deixar de explorar cerca de 14 bilhões de barris de petróleo. Especialistas do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) estimam que, no Brasil, o pré-sal representa um lucro estimado de US$ 10 trilhões.
A política econômica de submissão ao imperialismo vai interromper qualquer possibilidade de desenvolvimento do país e as consequências para a classe trabalhadora já aparecem de forma estarrecedora nos altos índices de desemprego. É preciso organizar a resistência, em greves, nas ruas. A greve dos caminhoneiros mostrou o caminho.