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Bolsonaro: fuga seletiva e a conivência da imprensa

O representante da extrema-direita nas eleições deste ano, Jair Bolsonaro (PSL), está se negando a participar dos debates na TV aberta. De acordo com o próprio candidato, se ausentar dos confrontos é uma estratégia de campanha. O motivo é óbvio: medo de perder votos ao expor suas propostas à população, uma vez que elas representam o fim de todos os direitos trabalhistas e sociais. O programa de governo do PSL consiste em aumentar a exploração da população trabalhadora e entregar o País “de bandeja” ao imperialismo.

Bolsonaro participou de apenas um debate, realizado no primeiro turno e  transmitido pela emissora Band. Com uma apresentação frouxa e morna, sem exibir detalhes de seu plano de governo e concentrando-se apenas em atacar os governos petistas, o candidato teve uma atuação apagada que não repercutiu em nenhum outro meio de comunicação pós-debate. Todas as análises mostravam que tal participação foi prejudicial à sua campanha.

Coincidentemente, logo após o debate que ameaçou a popularidade do candidato, Bolsonaro sofreu o incidente da facada, fato que o colocou novamente em evidência. O que eram segundos de propaganda gratuita na TV aberta, se transformaram em horas. O candidato dos fascistas ocupou, durante dias, boa parte dos noticiários, inclusive com transmissões ao vivo.

Após o fato, Bolsonaro, até então hospitalizado, recebeu recomendações médicas para não participar dos embates que se sucederam. Ocorre que a campanha do candidato não fez nenhuma questão de exigir que sua chapa tivesse o direito de participar das disputadas por meio do seu vice, uma vez que o “cabeça” estava se ausentando por questões de força maior. Pelo contrário, o episódio foi utilizado como uma tática ardilosa que visava evitar o desgaste de sua imagem, já manchada pelas manifestações de mulheres por todo o Brasil,  o “#EleNão”.

Passados mais de um mês da facada, Bolsonaro continua se negando a participar dos confrontos, que desta vez se dariam apenas entre ele e o candidato do PT, Fernando Haddad. Entretanto, longe de permanecer “acamado” e de repouso durante esse período, Bolsonaro continuou fazendo vídeos para as redes sociais, dando entrevistas, postando fotos com apoiadores, participando de atos públicos (inclusive discursando por cerca de 25 minutos) etc. O cinismo foi tamanho que no último debate do primeiro turno, realizado pela Rede Globo, o representante do fascismo fez uma transmissão ao vivo pela internet (live), enquanto os demais candidatos estavam debatendo na TV. Ou seja, as diversas situações mostraram que sua fuga é seletiva: o incidente lhe restringe de participar apenas do que lhe convém.

Agora, sem desculpas plausíveis, o medo de participar de um simples debate colocou a hastag “BolsonaroCagão” em primeiro lugar mundial no twitter.


Imprensa burguesa é conivente com a extrema-direita


As eleições para presidente são compostas por chapas eleitorais, onde dois candidatos participam do pleito. Inclusive quando um presidente precisa se afastar do país, quem assume a cadeira é o seu vice. Nesse sentido, uma vez que o cabeça de chapa se acovardou e está se escondendo por trás de um atestado médico para não ter que debater, o mínimo que deveria se fazer é exigir a participação do seu vice – nesse caso, do General Hamilton Mourão. É evidente que a inaptidão, a ignorância e a completa falta de argumentos é o que impede a participação da chapa Bolsonaro/Mourão – em outras palavras: o medo de serem totalmente trucidados no debate de ideias e programa. A imprensa burguesa, por sua vez, se coloca numa situação de completa conveniência, tanto é assim que tem se negado a chamar um debate entre os vices e ainda cancelou os confrontos no qual o candidato Fernando Haddad teria a chance de mostrar suas propostas ao povo brasileiro.

O candidato do PT está sendo prejudicado e impedido de apresentar suas ideias e debater com os brasileiros porque Bolsonaro tem medo desse enfrentamento. A situação é tão esdruxula que Haddad chegou a afirmar que estaria disposto a ir até uma enfermaria, se preciso fosse, para debater com o seu oponente. “Vamos fazer uma campanha propositiva e demarcar as diferenças entre projetos. Agora, meu adversário precisa participar dos debates. Eu estou disposto a ir até uma enfermaria se for preciso para debater o Brasil. Ninguém pode ser eleito sem apresentar as suas propostas ao povo”, escreveu o petista em suas redes sociais.

Após a negativa do representante da extrema-direita de debater suas propostas, vários abaixo-assinados populares começaram a circular na internet, posicionando-se contra a não-participação de Jair Bolsonaro nos debates e exigindo, inclusive, que ao menos o vice da chapa seja enviado para substituir o candidato oficial. Alguns abaixo-assinados já contam com mais de um milhão de assinaturas. Outro documento pede que as emissoras televisivas chamem um debate entre os vices, Manuela D’Ávila e Mourão – ambos seguem sendo ignorados pelos meios de comunicação.

Furtando o direito de um candidato para compactuar com a agenda do outro, a imprensa mostra o caráter golpista que se instaurou em seu plano de transmissão, agindo em função do candidato do PSL. O debate deve acontecer com a população e com os que querem apresentar proposta.

O fato de um presidenciável se colocar na tarefa de governar um país sem sequer apresentar um plano de governo e contrapor suas ideias mostra que, efetivamente, Bolsonaro não passará de uma marionete do imperialismo – um cumpridor da agenda norte-americana, uma versão piorada do que tem sido o governo Temer. Assim, não é de se espantar que a campanha da extrema-direita tenha se pautado basicamente na divulgação de fake News (notícias falsas) nas redes sociais. Segundo um levantamento realizado pelo instituto InternetLab, 400 mil seguidores de Bolsonaro no Twitter são robôs e cerca de 33% dos perfis que seguem o candidato são falsos, controlados por computadores.

“Amarelar” e se furtar do debate não é nenhuma surpresa para um candidato fake, que tem medo de ser “desmistificado” durante uma disputa. Se um simples confronto de ideias em período eleitoral é suficiente para amedrontar um candidato a chefe de Estado, imagina quando este tiver que enfrentar situações de pressões e/ou confrontos com outras noções?

A tática covarde e medrosa de Bolsonaro é mais uma demonstração que o candidato, na verdade, tem muito a esconder e pouco a oferecer à população.

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