Paulo Guedes é o principal nome da candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) para a área de economia, sendo cotado como o ministro da Fazenda, caso Bolsonaro seja eleito. Na verdade, por mais de uma vez, o candidato do PSL já afirmou que “não entende nada de economia” e que seria Paulo Guedes quem ditará os rumos econômicos do País.
No dia 18 de setembro, em uma palestra dada a pessoas ligadas à GPS Investimentos, gestora especialista em grandes fortunas, Guedes afirmou que sua principal proposta para a economia brasileira é unificar a tarifa do imposto de renda à 20%, independente da renda do contribuinte ou se é pessoa física ou jurídica, o que levou sua plateia de milionários “à loucura”. Afinal, uma alíquota única significa a ampliação da desigualdade social para a maior parte da população brasileira, aumentando o imposto de renda para quem recebe até R$ 10 mil e diminuindo para quem recebe acima de R$ 15 mil.
Traduzindo isto em números: atualmente, quem recebe um salário mínimo é isento de pagar imposto de renda. Com a proposta de Paulo Guedes, passaria a pagar R$ 190,80 anual. Quem recebe R$ 3 mil, hoje paga cerca de R$ 95,21, mas passaria a pagar R$ 600,00. Quem recebe R$ 10 mil, hoje paga cerca de R$ 1880,64 e irá pagar R$ 2 mil. Já quem recebe R$ 15 mil e hoje paga R$ 3.225,64, pagará R$ 3 mil. Quem recebe R$30 mil, hoje paga R$7.380,64, mas pagará R$6 mil. E assim progressivamente.
Cenário já é ruim
Esse tipo de proposta não tem nada de surpreendente. A medida histórica do imperialismo, em momento de crise, é fazer de tudo para salvar os lucros da casta de parasitas que domina a economia mundial. Quando as coisas não vão bem economicamente, os “donos do dinheiro” imediatamente buscam ampliar sua participação na política, na tentativa de aplicar medidas, por vias governamentais, que salvem suas taxas de lucros. Não é coincidência que as experiências com governos fascistas sempre se dão em momentos de grave crise econômica.
Governos fascistas se escondem atrás de palavras “fáceis”, “soluções” imediatas para problemas criados pelo próprio sistema capitalista. O que elegeu e fortaleceu Adolf Hitler, na Alemanha, no meio do século passado, foi a doentia perseguição a uma minoria judaica, a quem foi imputada a crise econômica, além de um discurso ultranacionalista que prometia retirar as pesadas imposições feitas ao País por ter perdido a Primeira Guerra Imperialista Mundial. Agora, Jair Bolsonaro utiliza-se do desemprego criado pela aplicação prática do neoliberalismo no Brasil, dos problemas inerentes à criminalidade, que têm como raiz a falta de investimento em educação pública e falta de perspectivas, para apresentar soluções pragmáticas e imediatas que, como a própria história mostra, servirá apenas para perseguir minorias, aumentar o fosso entre ricos e pobres. Isso sem falar na truculência estatal para preservar os lucros da burguesia.
A medida de Paulo Guedes é apenas mais uma que vai no sentido contrário à progressividade dos valores do imposto de renda, que embora ainda seja insuficiente, garante, por exemplo, que quem recebe menos de um salário mínimo esteja isento de pagar essa taxa. Se eleito, Bolsonaro e sua equipe econômica irão não apenas manter as medidas contrárias à classe trabalhadora, feitas pelo governo golpista de Michel Temer, como aprofundá-las.
O candidato da extrema-direita está preparado para fazer um governo totalmente subserviente aos interesses da burguesia internacional. Conforme afirmou o economista da Universidade de Campinas (Unicamp), Pedro Rossi, “se isso acontecer [a proposta para o imposto de renda de Paulo Guedes] no Brasil vai ser um escândalo. A carga tributária como um todo já é muito regressiva porque ela é baseada em impostos indiretos. O IR é um dos componentes mais progressivos da nossa carga tributária. É um claro aceno da campanha de Bolsonaro aos mais ricos”. Rossi concluiu ainda que a medida levará ao apartheid social no Brasil.
Bolsonaro representa o entreguismo
Tudo isso traz à tona o que realmente simboliza Jair Bolsonaro para a classe trabalhadora brasileira. O candidato de extrema direita representa os interesses das classes dominantes, para quem nada que não seja a manutenção dos próprios lucros realmente importa. Com a repercussão da proposta de Paulo Guedes, em entrevista à Folha de São Paulo, Bolsonaro afirmou que “parece uma boa ideia, vamos estudar. A alíquota única do IR para quem ganha mais é uma boa ideia”, completando que o “livre mercado e menos impostos é o meu lema na economia”. Faltou apenas falar que o seu “menos impostos” será apenas para os mais ricos.
Também se esqueceu de explicar aos “desavisados” que esta fábula do livre comércio, contada por liberais, não é nem um pouco aplicável à realidade. Num mundo em que o mercado é dominado por monopólios, trustes e holdings, acreditar em livre-mercado é inocência ou má fé. Não existe possibilidade de uma real competição em um mercado aberto, quando esse é controlado por “monstros” corporativos. Seria possível uma competição, com igualdade de condições, entre o dono de um carrinho de cachorro-quente e o Mc Donald’s?
Obviamente que a direita sabe muito bem disso. Ao afirmar que aplicará o livre mercado, o candidato na verdade se refere apenas à manutenção e ampliação do projeto privatista iniciado por Michel Temer. Sob o pretexto de “gerar concorrência” e se escondendo atrás da campanha de corrupção em empresas públicas, Bolsonaro irá apenas terminar de vender os patrimônios nacionais aos grandes monopólios estrangeiros.
As afirmações misóginas, racistas e de apoio à Ditadura Militar, feitas por Jair Bolsonaro já deveriam ser motivo mais que suficiente para que esse peão do imperialismo não representasse qualquer ameaça eleitoral. Mas tão grave quanto isso é a inevitável catástrofe econômica que o seu governo criará para a parcela mais pobre da população, que já sofre com o desemprego e a informalidade, frutos da aplicação da cartilha neoliberal pelo governo golpista.
O fascismo nada mais é do que a última cartada eleitoral para tentar salvar os lucros da grande burguesia, que levará adiante o aprofundamento da lógica do Estado de Exceção que o capitalismo impõe à classe trabalhadora. Devemos nos posicionar e lutar veementemente contra essa catástrofe anunciada que seria o governo fascista proposto por Jair Bolsonaro.