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“Precisamos reorganizar a classe trabalhadora e, para isso, estamos convocando e fazendo um trabalho em todos os setores”

O Jornal Gazeta Operária entrevistou Soniamara Maranho, representante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), para falar sobre o Congresso do Povo, uma iniciativa que busca promover debates na base dos trabalhadores e movimentos sociais em geral. Esse Congresso pode ser uma iniciativa que dê início à construção de um embrião de organismo de contra-poder. Uma ação que, se bem debatida e organizada, pode mostrar à população que ela pode lutar para tomar o poder político.


Jornal Gazeta Operária (JGO): Os movimentos populares estão organizando um Congresso do Povo Brasileiro. Do que exatamente se trata a proposta? Qual o principal objetivo desse Congresso?


Soniamara Maranho: O Congresso do Povo é uma maneira de nós, o povo brasileiro, convocar e instituir o nosso próprio congresso. Faz parte de um grande processo pedagógico das massas populares. Esse processo deve ajudar a politizar a sociedade brasileira e, principalmente, entender esse momento político e que nos define e nos desafia, vamos dizer, a identificar saídas para a crise que estamos vivendo. Essa é uma das formas de se organizar para construir essas saídas. Nosso objetivo é derrotar os golpistas e sobre esses construir o nosso projeto popular para o Brasil. Então, esse que é o sentido.


Jornal Gazeta Operária (JGO): Como surgiu a proposta desse Congresso, quais as forças políticas e movimentos sociais que estão participando e como se dará a organização nacional, regional e a questão da divulgação?


Soniamara Maranho: Ele foi criado pela Frente Brasil popular que, ao mesmo tempo, também se cria nesse cenário de golpe no Brasil, em que nós precisamos construir uma sociedade alternativa ao sistema capitalista e imperialista. Nesse cenário, as entidades que compõem a Frente Brasil Popular estão convocando o Congresso do Povo brasileiro. Nós queremos que esse Congresso se torne um grande processo em todos os cantos do Brasil e que politize a classe trabalhadora a se organizar, a se formar e fazer a luta que vai ser necessária no próximo período. Não tem outro jeito. Sentimos, nesse momento, que não vale mais no Brasil o fato de eleger os presidentes, deputados, senadores, governadores etc. Estamos vivendo um momento de golpe e se as pessoas eleitas hoje no Brasil não tiverem força popular, não tem poder no estado ou no governo. Então precisamos reorganizar a classe trabalhadora e, para isso, estamos convocando e fazendo um trabalho em todos os setores.


A construção, ela é muito aberta, deve envolver todos os setores democráticos, entre eles os camponeses, os indígenas, quilombolas, sindicalistas, lideranças comunitárias, LGBTs, mulheres, negros e negras, os jovens, as igrejas, as crianças, os grupos de cultura, agentes de saúde, presidentes de associações etc. Está aberto para todo o povo participar.


Sobre a organização, primeiro a gente fez um processo de uma formação de formadores para debater os três pontos principais da Frente Brasil Popular, que é a soberania, a democracia e a luta pelos direitos historicamente conquistados. Esse procedimento


aconteceu em nível nacional, claro que teve um processo de debates sobre a conjuntura brasileira e todo esse debate de como organizar o Congresso e, ao mesmo tempo, ele está servindo pra enraizar a Frente Brasil Popular em todos os estados, todos os municípios e, também, em todos os bairros, nas igrejas, nas favelas.


Está um processo muito bonito. Estamos fazendo essa experiência em Minas Gerais, então temos feito um processo de formação de formadores já no estado. Do estado, mapeamos 150 municípios. Esses 150 municípios, a maioria já realizou a formação de formadores lá e agora está na etapa de construir o Congresso municipal. Assim que constrói o Congresso municipal, fazendo todo esse debate pedagógico do momento que vivemos e do que fazer como trabalhadores e trabalhadoras, a gente vai reorganizar o Congresso estadual, que a princípio está planejado para ser no mês de junho, e depois o Congresso nacional, que a ideia é reunir muitos trabalhadores e trabalhadoras.


Jornal Gazeta Operária (JGO): Qual a importância de uma atividade como essa no atual momento político de avanço da direita, ataques, retiradas de direitos e constantes ameaças de ações militares?


Soniamara Maranho: Nesse processo todo de construção dos Congressos existe uma criatividade, um processo organizativo, de reencontrar lideranças em entidades que há muito tempo não se via. Principalmente depois da prisão do Lula, tem dado, vamos dizer assim, muito mais vontade do povo de participar e entender que nesse momento da história, com a prisão de nossa grande liderança, o Lula, o povo brasileiro precisa assumir o comando.


Primeiro, pra dizer “Lula livre”; segundo, para reorganizarmos a democracia no Brasil e terceiro, para construirmos esse projeto popular que a gente tanto almeja, sonha, que é hoje, nada mais que redistribuir a riqueza no Brasil.


Hoje, em torno de cinco famílias no Brasil detêm a mesma riqueza que meio Brasil, 100 milhões de pessoas. No mundo é o mesmo número de famílias, vamos dizer, cinco famílias no mundo também detêm a mesma riqueza que meio mundo. Então nós estamos no momento de uma produção da riqueza social, mas, ao mesmo tempo em que o capital se coloca em crise, ele está se apropriando de todos os nossos bens naturais e da exploração da força de trabalho dos trabalhadores. Então eu acho que todas essas organizações, movimentos sociais e partidos de esquerda que fazem parte da Frente Brasil Popular têm o desafio, nesse momento, de empoderar o povo brasileiro com muita ideologia política, porque estamos inclusive vivendo uma guerra midiática, e a partir disso viver o que se vive, por exemplo, em Cuba.


Quem dera se vivêssemos numa ditadura onde um povo é feliz, onde um povo é solidário, onde um povo é totalmente bloqueado pela grandeza econômica hoje de apropriação dos Estados Unidos e da China.


Então, eu acho que precisamos reconstruir a nossa concepção de um projeto onde tenha a redistribuição de riqueza produzida pelos trabalhadores. Simplesmente o povo trabalhador do Brasil merece ser feliz e usufruir do fruto do seu trabalho.

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