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Luta e resistência: os desafios na luta pela Consciência Negra

O dia 20 de novembro é o dia da morte de Zumbi dos Palmares, líder quilombola que viveu e morreu na luta contra a escravidão do povo negro. Essa foi a data escolhida para se comemorar o dia da Consciência Negra. Este ano, a data foi marcada por manifestações religiosas e políticas de luta do movimento negro em vários estados do País. Em Recife, uma marcha de capoeiristas reivindicava mais atenção às manifestações culturais negras e africanas. Em São Paulo, a atividade, que contou com uma cerimônia religiosa de Candomblé, partiu do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Entre os manifestantes estavam membros de entidades como o Congresso Nacional Afro Brasileiro, o Círculo Palmarino, o coletivo Emancipa, o Sindicato dos Bancários de São Paulo e o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).

O Dia da Consciência Negra deve ser um dia de luta nas ruas, necessário para escancarar a triste realidade desta parcela da população. Apesar de ser maioria, representando 53,6% da população brasileira, os desafios da população negra ainda são enormes e tendem a aumentar no próximo período com a posse do presidente fascista, Jair Bolsonaro.

Os negros são minorias em cargos de chefia, com apenas 10% dos cargos de gerência e superiores, além de receberem, em média, R$1.200,00 a menos que brancos que ocupam os mesmos cargos.

Bolsonaro, que sempre mostrou seu lado racista, como no caso em que comparou negros a animais, ao dizer durante uma palestra no Clube Hebraica que um negro quilombola pesava sete arrobas e não tinha nenhuma serventia, não tem nenhuma proposta em seu plano de governo para essa parcela da população.

Políticas públicas para negros são estritamente necessárias. De acordo com pesquisa do IBGE, em 2016, três em cada quatro pessoas que estavam abaixo da linha da pobreza ou pobreza extrema eram negras e a cada dez pessoas pobres, pelo menos três eram mulheres negras.

 

Disputa pela consciência crítica

 

A abolição da escravidão marcou o fim de uma Era de abusos contra os negros, porém, a liberdade não veio acompanhada das condições mínimas de sobrevivência para a população negra. Os negros recém-libertos foram marginalizados pela sociedade, que continuava a lhes explorar, mas de outras formas. Os antigos moradores das senzalas se viram sem direito ao acesso à terra, no campo, e de moradia nas cidades. Assim, foram forçados a habitar as periferias e cortiços nas cidades, em condições semelhantes àquelas que tinham antes. As lutas de diversos Movimentos da população Negra, então, se deram através de reivindicações por condições melhores de vida, pela reparação histórica e contra a exploração desenfreada desta parcela da população.

Ainda hoje, a população negra é maioria nas periferias e locais com baixa concentração de renda espalhados pelo País. Apesar disso, a disputa pela consciência política e de melhoria de vida dos negros na favela não é travada pela esquerda, e quando é, se mostra insuficiente. O Brasil é o segundo maior país do mundo em população negra os quais continuam em condições precárias e sem políticas públicas de redistribuição de renda e de melhoria das condições de vida, como saúde e educação dignas.

A direitização das periferias, propagada amplamente pelas religiões evangélicas, assim como a repressão do Estado, têm levado à criação de uma parcela de negros que defendem seus exploradores, além do esvaziamento das religiões de matriz africana, como a umbanda e o Candomblé.

Para elevar a consciência da população periférica contra a exploração que são submetidos é preciso ir para os morros e favelas disputar com os pastores evangélicos e seus discursos recheados de ódio contra as religiões e movimentos tipicamente negros. Discurso este que uma significativa parcela da própria população negra, sem conhecimento da história de seus antepassados, aprova e reproduz.  Agora, com a eleição de um presidente racista, que conta com o apoio de grandes aliados da bancada evangélica, a disputa por essa consciência se torna ainda mais difícil e, ao mesmo tempo, extremamente necessária.

 

Lutar contra os ataques aos negros

 

A eleição de Jair Bolsonaro não reflete apenas a característica racista que está arraigada na população brasileira. Mas, também, a direitização de todo um local de atuação onde, historicamente, predominava a ação política da esquerda, que são as periferias. O Atlas da Violência 2017, lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revelou que, atualmente, de cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. Outro dado que chama a atenção: das 726.712 pessoas encarceradas no Brasil, em 2017, mais da metade é composta de jovens de 18 a 29 anos e 64% eram negros. Em 2016, a Unicef apresentou o perfil de pessoas mortas em ações policiais nas periferias: 99,3% são homens, 81,8% têm entre 12 e 29 anos e 76,2% são negros. Os dados também foram confirmados pelo Fórum de Segurança Pública.

A violência e o massacre contra essa população já ocorrem de forma descarada. Assassinatos com motivações políticas, como o da deputada eleita, Marielle Franco, no Rio de Janeiro, e do mestre de capoeira Moa do Katendê, na Bahia, apenas mostram que a barbárie contra os negros pode vir de qualquer esfera da sociedade. Porém, ao declarar que “dará carta branca para a polícia matar” e reforçando a ideia que “Bandido bom é bandido morto”, Bolsonaro corrobora com os assassinatos nas periferias brasileiras, que o extermínio da população preta, periférica e pobre continue.

O período que se avizinha, com a posse de um presidente racista e fascista, é de lutar pela consciência dos negros que serão, junto das mulheres e da classe trabalhadora em geral, os mais afetados pelas mudanças que serão impostas. Por mais repressivo que venha a ser o próximo período, ele será muito fértil para os ativistas revolucionários trabalharem com as periferias, as regiões mais focadas pelos abusos da direita, na defesa dos direitos e interesses dos segmentos negros. Ao elevar a consciência dessa população para as questões sociais e econômicas às quais estão presas, os negros serão impulsionados a criar formas para se livrarem de seus grilhões, estes causados justamente pela opressão do sistema político-econômico capitalista. A luta pela emancipação final do povo negro passa, necessariamente, pelo fim do capitalismo. Lutar por mínimos direitos democráticos da população negra é, entretanto, a via de acesso para construirmos um vigoroso e combativo agrupamento em cada setor periférico, pois a luta de classes se dá em todo lugar.  

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