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Morte às pautas negras: do “empoderamento” ao esquecimento

Os negros, após a Lei Áurea, lutavam por direitos e igualdade perante a sociedade que ainda estava presa na mentalidade escravocrata. Porém, foram marginalizados e duramente rechaçados, condenados a viver em condições sub-humanas, em todos os aspectos sociais.

Após anos de lutas em busca de mudanças, os movimentos negros tomaram forma, diferenciando seu modo de ação e suas pautas ao longo dos anos. No entanto, uma das pautas de luta imutáveis desde que o movimento foi criado é o direito à igualdade racial e a luta contra o racismo, mazelas presentes no dia-a-dia da sociedade, que perpetuam o pensamento existente desde a época do Brasil colônia. Após a abolição, negros recém libertos foram deixados de lado pela sociedade, que começou a acolher o trabalho de imigrantes europeus. Alé m de serem enxotados para as favelas e cortiços, essa população dependia de sub-empregos para sobreviver. Ainda hoje, a sociedade vê o negro como inferior, contratando-os para as piores posições de emprego, levando a maior parte dessa população a trabalhar em posições de menor relevância social e a serem ainda mais marginalizados. Hoje em dia, o movimento negro luta em várias frentes, sendo o racismo e a representatividade as duas pautas mais bradadas. Essas são importantíssimas reivindicações dentro da sociedade que massacra essa população a todo o tempo. No entanto, tais questões têm sido deixadas de lado pelo “ movimento” do “empoderamento” burguês.

 Pautas representativas ou pautas burguesas? 

Muitas vezes vemos manifestantes do movimento negro gritarem sobre a representatividade e o empoderamento. O empoderamento burguês dita que ter orgulho de seus antepassados e de sua herança africana é essencial para a descoberta do negro enquanto negro. Assim, o simples ato de ter orgulho das suas raízes africanas se mostra um poderoso estandarte do que é ser negro para a sociedade brasileira. Seja religiosamente, seja no estilo ou corte de cabelo, o “empoderamento” é a palavra de ordem deste movimento.

Porém, como você pode chamar de “empoderamento” um movimento que não luta pela tomada do poder? O empoderamento é uma pauta burguesa que afirma que o negro deve ter orgulho de suas raízes, mas que deve fazê-lo enquanto continua trabalhando de manobrista ou empregada de uma famı́lia branca de classe média. Ou seja, deve manter seu lindo cabelo afro enquanto serve café e atende uma mulher branca rica em uma loja de jóias? Ou que deve apenas usar colares e turbantes para se "empoderar" e desviar a luta real pelo poder do povo negro?

Em contrapartida, para a burguesia, as pautas deste "empoderamento" negro são sensacionais. Ter um cabelo estilo Rastafári ou usar um turbante parece ser a última moda. Ser negro é bom apenas se você não for negro. Religiões como o Candomblé e a Umbanda têm sido muito visadas por esse “sensacionalismo negro”. O crescimento de brancos em religiões de matriz africana, marginalizadas pela sociedade, tem sido exponencial.

Em contrapartida, nas periferias, negros lutam para serem aceitos se juntando às igrejas evangélicas e católicas.

A pauta do empoderamento burguês, que visa apenas certa valorização cultural, mina a verdadeira luta dos negros. Prova disso é que eles não deixaram de ser marginalizados por terem parte de sua cultura aceita pela maioria. A cultura negra está sendo aceita a duras penas, o negro não.

A população negra ainda vive em periferias, longe dos bairros de classe média e alta. Ainda é massacrada por quem deveria garantir sua segurança, num banho de sangue institucionalizado e diário. Negros e negras precisam ver seus problemas reais através do escopo maior: a falta de empregos e salários dignos, as péssimas condições de moradia, saúde e educação precárias nas periferias, regiões   que concentram a maioria do povo negro marginalizado. Urge lutar pela segurança de seus pares em qualquer local; ser  contra o massacre de homens e mulheres nas periferias, seja pela polıćia ou em crimes domésticos.

Ser negro, pobre e favelado parece ser muito bom para os brancos da classe média que podem sair nas ruas usando uma blusa escrita “favela” e um boné aba reta sem correrem o risco de serem abordados com truculência e mortos a tiros numa “ação equivocada” da força militar. Ser negro, pobre e favelado é ruim apenas para o negro, pobre e favelado, que sai de casa todos os dias com medo de ser morto pela polícia, sem perspectiva de melhores posições no mercado de trabalho, sem educação de qualidade ou melhora social vinda dos governos.

O movimento negro precisa focar suas energias em pautas que realmente representem as necessidades reais da população negra. Descobrir suas aflições e seus problemas mais imediatos e começar daı́, sendo uma força combativa contra a repressão capitalista da sociedade. Lutar e defender direitos básicos da maioria da população brasileira, que é o que ela representa.

 Lugar do negro na sociedade 

De acordo com o IBGE, mais de 54% da população se declara negra ou parda. E mesmo assim, negros recebem menores salários, mesmo em postos iguais de serviço. Não é por um acaso que os negros, mesmo sendo a maior parte da população brasileira, representam só 17% dos mais ricos do Paı́s. Além disso,  representam três de quatro pessoas entre a parcela dos 10% mais pobres. Isso porque os negros estão, em sua maioria, desempregados ou alocados em subempregos e moram em aglomerados periféricos das grandes cidades.

As pautas representativas e de compensação devem ser sim apresentadas e impostas, mas não devem ser um fim em si mesmo. Polı́ticas afirmativas dentro do imperialismo burguês devem sempre estar na ordem do dia, mas não devemos esquecer que isso é apenas uma medida paliativa. A burguesia sempre dá com uma mão e tira com a outra, nada é feito gratuitamente! É apenas um pequeno passo que o imperialismo dá para trás, para dar três à frente. O proletariado sofre diariamente com as pressões do sistema imperialista e seus massacres diários. Os imperialistas retiram direitos dos trabalhadores todos os dias em todos os locais do mundo, atacando diretamente os direitos conquistados com o sangue e suor de vários trabalhadores. Tudo isso visando os lucros exorbitantes de poucas famílias imperialistas que controlam todos os aspectos mundiais.

A população negra só encontrará o verdadeiro empoderamento quando compreender o tamanho da sua força no meio da classe operária e, numa luta unitária, organizada, impor sua pauta de reivindicações junto a de outros segmentos de oprimidos. Assim, na luta contra os capitalistas, como resultado desta unidade, conquistar, dentre outras, as suas justas reivindicações. A unidade na ação, sem perder a particularidade de sua identidade, é um passo decisivo para fortalecer os laços entre os povos oprimidos e a solidariedade de classe rumo a uma sociedade igualitária, onde o opressor seja completamente aniquilado.

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